O Inferno era exatamente do jeito que eu me lembrava, não como se fosse algo fácil de se esquecer.
Assim que a magia com aspecto de sangue de Amren se dissipou, eu vi as torres altas do castelo real. Na minha última visita, tínhamos atravessado diretamente para o seu interior. Mas dessa vez, por qualquer motivo que fosse, entramos pelo portão principal.
Entendi segundos depois o motivo por trás de sua escolha quando a princesa me guiou por um corredor diferente daquele que levaria aos salões principais. Subimos escadas, atravessamos corredores pequenos, destinados a criados silenciosos, até chegar na ala dos quartos da família real. Nada de quarto de hóspedes.
A princesa continuava me guiando conforme Alex se despediu de maneira discreta, sem dúvidas seguindo para falar com seus pais sobre... a situação atual, qualquer que fosse.
Finalmente, chegamos a um quarto que não reconhecia, com as paredes pintadas de vermelho e dourado, e uma mobília digna de uma rainha.
O que eu jamais seria.
Amren me permitiu entrar e explorar os móveis de veludo conforme explicava algumas coisas. Entendi vagamente algo sobre seu quarto ser a porta na frente da minha e o quarto de Alex ser logo no fim do corredor. Mas permaneci muda enquanto observava o cômodo naturalmente aquecido.
A lareira com um fogo ameno estava disposta do lado oposto a cama de dossel gigante que havia no meio do quarto. Uma penteadeira feita de ouro massiço, com uma confortável cadeira de veludo vermelho, um sofá ao lado de uma estante de livros antigos e uma escrivaninha de madeira polida também se espalhavam pelo quarto, mas nenhum me chamou muita atenção.
- E então? - não sabia se estava perguntando sobre o quarto ou como eu estava, então fui para a opção mais segura.
- É perfeito Am! Obrigada... - forcei um sorriso, pelo bem de minha amiga.
A vi retribuir um que parecia igualmente fraco, mas não consegui perguntar se estava tudo bem. Ainda me lembrava da face assombrada que ela havia assumido quando Ísis mencionou sua experiência com laços de parceria. Tinha certeza de que ela queria falar tanto quanto eu.
- Bem então... Descanse um pouco. Se quiser, tome mais um banho. O jantar será servido em duas horas, mas pode jantar aqui se quiser. E se quiser companhia basta gritar que virei correndo. - uma oferta que não tinha certeza que aceitaria, mas assenti mesmo assim - Tudo do quarto é seu, então use como quiser.
- Obrigada. - agradeci novamente, por falta de ter o que fazer.
Amren já estava indo embora, e eu realmente estava considerando tomar outro banho, quando ela me chamou novamente.
- Sim? - respondi.
- Não deixe que os eventos de hoje a abalem tanto. O laço de parceria não te faz completa, não é uma fonte essencial de vida para você. Nós duas sabemos que você já passou por coisa pior, e já sobreviveu. Mesmo sem poderes ou imortalidade. Então lute, Karma. E use cada arma maldita em seu arsenal para fazer com que aqueles que a machucaram recebam o troco. - ela não abriu nenhum sorriso, seu tom mortal e sério ressoou naquela parte selvagem em minha alma antes de dizer - Afinal de contas, esse é o seu nome!
E fechou a porta com o eco de suas palavras para trás.
Não sabia dizer se suas palavras foram um combustível ou um desfecho, mas foram essenciais para mim. Foram verdadeiras de um jeito que precisavam ser. Não sabia se as lágrimas que estavam caindo eram de alívio ou de choque, mas me deixaram leve. Completa.
Pensei sobre suas palavras conforme sentia o mármore aquecido contra os meus pés a caminho do banheiro.
As refleti cuidadosamente conforme retirava cuidadosamente as minhas peças de roupa, escutando a água corrente encher a banheira.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um amigo lá de baixo...
FantasyNem tudo é o que parece, mesmo que sua vida inteira seja baseada nesses fatos. Para Karma, a menina de 17 anos que sempre foi rebaixada por ser diferente, a verdade era a de um mundo cruel. Mas tudo pode virar de cabeça para baixo se você tiver a pe...