Um amigo lá de baixo...

Minha Família

Passei pela porta e encontrei Amren e Salem conversando. Sejá lá qual fosse o assunto, não parecia ser tão interessante quanto eu. Amren deu um assovio longo e me deu uma piscadela. Salem deixou escapar um 'uau' logo antes de me elogiar.

- Como você se sente?- perguntou Am.

Uma pergunta difícil e delicada. Formulada com muito trabalho. Não como eu estou ou se estou bem, mas como eu me sinto. A resposta poderia vir ainda mais carregada que a pergunta. Principalmente pelo modo como eles me olhavam: com compreensão e esperança.

- Eu não me sinto eu mesma...- eu abaixei a cabeça, procurando as palavras certas- Mas ao mesmo tempo, parece que eu me encontrei!

Eu levantei os olhos e encontrei os de Amren. Eles brilhavam mais do que qualquer estrela. Salem também. Ambos me deram um sorriso caloroso e não consegui deixar passar a sensação de que algo estava faltando.

- Ele esta na cozinha te esperando- disse Amren.

Olhei para a escada que levava a cozinha. Sabia de quem ela estava falando, por que meu coração falava o mesmo. Agradeci e me despedi. Alguns 'boa sorte' e 'cuidado' sairam deles, o que me fez tremer, mas ficar ainda mais ansiosa.

Desci as escadas para encontrar Amine encostado e um tronco, destraido com a paisagem. Os ventos de outono balançavam seus cabelos. A jaqueta dele já estava em outro lugar e sua blusa branca estava aberta na gola. Daquele jeito, com as mãos nos bolsos e os olhos refletindo as cores de outono, ele parecia tão... humano.

Um humano com uma beleza sobrenatural, mas ainda assim. Sorri um pouco com a cena que veio a minha cabeça: uma bela pintura da minha nova família entre as árvores de outono. E entre todos, estaria Amine, erguendo um braço para mim, me chamando.

- Sabia que não é educado ficar encarando os outros?- ele disse, ainda  olhando para as árvores

Eu ri um pouco daquela frase, nossa frase, e desci os últimos degraus. Parei a uma distância de um metro de Amine e passei a observar as árvores com ele.

- É linda!- eu suspirei, aproveitado a brisa morna.

- Claro que é! Ela é toda minh...- Amine começou, mas parou ao olhar para mim.

Um brilho intenso percorreu os olhos dele e tudo que eu fui capaz de fazer foi sorrir. Um sorriso bobo, mas alegre. Depois de um tempo de ainda me encarar com a boca aberta, eu perguntei:

- O que foi?

- Nada, nada -ele disse, sorrindo ao passar as mãos pelo cabelo- É só que você está... diferente.

Eu ri diante daquele estranho elogio, o que fez com que Amine corasse.

- E isso é bom? -eu perguntei

- É ótimo! Você parece mais... feliz - ele disse, voltando a me encarar- Você é linda sorrindo, sabia?

Eu corei e desviei o olhar. Idiota. Idiota fofo. Ele percebeu o que eu queria dizer e apenas sorriu. Depois de um tempo, ele pigarreou e me ofereceu uma mão.

- Vamos?

- Para onde? - eu perguntei, apesar de já estar aceitando a mão dele.

- Para uma parte da Floresta na qual você vai treinar- ele disse, me puxando um pouco mais para perto- Nós a chamamos de Winter.

- Winter? - eu perguntei, me aninhando perto de Amine

- Logo você vai descobrir! - ele passou seu outro braço pela minha cintura, me prendendo a ele- Segura firme!

E antes que eu pudesse dizer alguma coisa, um estranho fogo negro começou a nos circundar. Suas chamas me lembravam naniquim, mas algo nele era estranho. Ele não era quente. Não me queimava ou queimavas as minhas roupas. Eram as verdadeiras chamas do Inferno.