Capítulo 1

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E quando eu te encontrar, meu grande amor, me reconheça

-"Amor, meu grande amor",

Angela Ro Ro e Ana Terra

Se eu escrevesse um guia de autoajuda para pessoas azaradas, desempregadas, endividadas, carentes, mal-amadas e, por tudo isso, desesperadas, eis a primeira das 1001 dicas que eu daria:

"Nunca dê uns amassos no seu primo. Nunca. Never. Jamais. Jamé".

Mesmo se for um primo de segundo grau. Um primo auto, de pele bronzeada, braços fortes e mãos ásperas. Um tipo de sujeito com óbvias tendências maníacas, a ponto de dar em cima de você (A Pessoa Azarada Carente Desesperada) no velório da madrasta dele. Mesmo que você venha a descobrir depois que a madrasta era uma megera que o castigava a golpes de cinto quando ele, ainda menino, passava os verões na casa do pai. 

Vai por mim. O assunto aqui é barra pesada. 

Porque é claro que, sendo ele seu primo, o fato de ter convidado você para se aventurar com ele até a região mais erma do cemitério, a região descuidada, abandonada, coberta de vegetação selvagem… "Gosta de margaridas? Tem umas margaridas lindas lá, vem comigo que eu te mostro…"  O fato de a única margarida que ele mostrou a você não ter pétalas, apenas caule… O fato de ele ter dado uma rapidinha, levantando as calças às pressas e fugido logo após o ato, deixando você lá, sozinho, suado e insatisfeito, é uma pista quase infalível de que ele não vai ligar no dia seguinte. Ou mandar uma mensagem. Ou um buquê de flores (de margaridas, que seja). Ou sei lá o quê? Ah, pode ter certeza do que estou falando! 

Porque ele é seu primo, ora essa! É da família!

Mesmo sendo um lado da família do qual você mal tinha conhecimento. Até receber um telefonema fúnebre. 

Ou, porque, em alguns casos verídicos, o dia seguinte é apenas a continuação do dia anterior.

Eu explico. 

Imaginemos a seguinte situação. O marido da falecida é tio do seu pai e não fala com ele há anos por causa de um desentendimento nos negócios. Por isso, jamais imaginaria que o sobrinho fosse mandar o próprio filho representá-lo no enterro, em  Kirigakure, a trezentos quilômetros de distância da sua casa, em Konoha. O marido da dita cuja fica comovido com a sua surpresa, realmente emocionado. Assim, após a descida do caixão, quando o céu se enche de nuvens negras e trovões começam a ribombar, ele vê o pânico estampado no rosto do sobrinho-neto (você), mais que depressa, oferece ajuda. 

-Tenho um quartinho nos fundos da minha casa. Você pode dormir lá se quiser.

É isso aí. Um quartinho. Oferecido pelo marido da defunta. Pai do seu primo. Tio do seu pai. Um quartinho onde você pode pernoitar na casa onde seu primo está hospedado e viajar os trezentos quilômetros de volta para a sua casa só na manhã seguinte, tendo em vista o temporal que está para cair.

E você, que sempre teve horror a tempestade e está sem grana para pagar um hotel, sem mencionar a escoliose que o impede de dormir espremido na sua van velha, se vê obrigado a aceitar o convite. 

Viu? É assim que o dia anterior se estende até o dia seguinte. Com cara de #PeideiMasNãoVouSair, você se senta ao lado do seu primo na mesa de café da manhã e se enche de rosquinhas que seu tio-avô fica insistindo em colocar no seu prato. "Só mais uma, querido. Não precisa ter vergonha de repetir."

É claro que seu tio-avô não sabe que você está de dieta, tentando perder os cinco quilos que ganhou com a depressão pós desemprego. Ele nem sequer sabe que você tinha um emprego! Que se formou em administração de empresas há três anos! Que faz esculturas de argila praticamente desde de que usava fraudas. Que toca piano e bateria desde de sempre. 

Pode parecer até um roteiro de comédia romântica da Netflix, mas, acredite, acontece na vida. Pelo menos, aconteceu com Deidara Namikaze.

Deidara (Dei, para os íntimos) é um rapaz de 25 anos de idade, com 1.66 de altura, pele clara, cabelos loiros dourados e olhos muito azuis. Graduado em administração de empresas pela Universidade Estadual de Konohagakure. Pós-graduado em logística empresarial e em métodos estatísticos e computacionais. Fluente em inglês e com mais vinte minicursos no currículo. Isso sem mencionar o intercâmbio nos Estados Unidos, naquele programa chamado Work Experience onde jovens que desejam estudar inglês no exterior, mas não tem condições financeiras para tal e, por isso, se sujeitam a congelar suas bundas em estações de esqui, ou lavar pratos, copos e afins em restaurantes, em troca de dinheiro, com os quais estudam, comem, se divertem, compram roupas de marca, cosméticos em geral e eletrônicos de última geração, já que quase tudo é infinitamente mais barato por lá.

Deidara, além disso, era o especialista ferroviário recém enxotado da FM Logistic (as Ferrovias Mizu), uma empresa com sede em Kirigakure, seu antigo domicílio. O garoto que, sem emprego e sem dinheiro, estava de volta à sua cidade natal, Konoha, Hinokoku. E que andava fazendo bico na floricultura do pai enquanto não recebia um telefonema de seu headhunter com uma maravilhosa proposta de trabalho. 

Mas Deidara também podia ser descrito como o zumbi que, desde os 15 anos de idade, não tinha feito muita coisa na vida a não ser estudar, trabalhar, choramingar e quebrar tudo em crises de raiva. O eterno apaixonado pelo irmão do ex-melhor amigo, um garoto que cresceu com ele e de que Deidara praticamente não tinha notícias desde a maravilhosa época em que os dois tocaram juntos na banda Dayse Jones and The Six (em homenagem ao livro da Taylor Jenkins Reid). Deidara, na bateria. Ele, no vocal e na guitarra. 

Ou, ainda, o "carente semi virgem" que jamais teve um relacionamento amoroso mais significativo do que… bem, uns amassos mal dados no primo. Uns amassos, diga-se de passagem, de que Deidara se arrependia amargamente.

Oh céus! De que adianta tentar tapar o sol com a peneira? 

A verdade é que Deidara Namikaze… aí meu Rikudou!... sou eu.

Euzinho.

O Azar É SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora