Capítulo 13

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Ele discursou sobre o assunto por mais de um minuto. As imagens na tela mudaram para a enorme cara do Rasa, num documentário especial sobre a história dos medalhistas olímpicos. 

Isso mesmo. Salvo por Sabaku no Rasa.

E o mais impressionante de tudo: não era a primeira vez que isso acontecia. Ser salvo pelo Rasa, quero dizer.

Para quem duvida, vou contar a história das Olimpíadas de Atenas. Mas precisamente, a história dos bastidores da torcida do último jogo de vôlei, Shinobi X Itália, nos tempos em Rasa entrava no campo e não ficava no banco gritando com os jogadores.

Local: Konohagakure, bairro Otsutsuki Indra, condomínio Parque Imperial, mansão DreamHouse dos Uchiha.

Itachi e eu tínhamos pintado o rosto com guache verde e azul, e passado o domingo perseguindo Obito pela mansão lotada de convidados do dr. Fugaku e Hana Uchiha. Estávamos agora a meia hora do início do jogo e continuamos enchendo o saco do garoto, para que fizesse uma aposta contra o nosso palpite de que o placar da nossa vitória seria de 3 sets a 0.

- Ah, Bito, por favor… - choramingou Itachi com toda sua persistência infantil. - Apostar é o maior barato.

- Apostar  não é o maior barato - disse ele, estacionado ao lado da mesa de canapés. 

- Se não fosse o maior barato eu não estaria participando de três bolões! No colégio, na natação e também no balé. Eu e o Dei combinamos de apostar em dupla e dividir o prêmio depois, não foi, Dei? 

- Foi - confirmei, mesmo tendo quase certeza de ter pedido para ele não incluir meu nome no bolão do balé.

Obito nem deu confiança. Encheu um prato de comida e se retirou para a biblioteca. Fomos atrás dele.

- Eu não entendo por que ela insiste nessas comidas sem sal - disse ele, se referindo à sofisticação de Hana. Apertando o nariz como se obrigado a chutar limão, enfiou um canapé de damasco na boca. - Ninguém gosta disso. Só ela.

- Não mude de assunto - reclamou Itachi. - Qual é a sua aposta? Fala logo! 

- É - eu disse, fazendo a minha parte. - Fala logo, Tobi.

Obito terminou de engolir o canapé e me lançou um olhar chateado: 

- Até você, Deidara? 

Mais vermelho que pimentão, dei um sorriso sem graça, como se pedisse desculpa por ser tão fiel ao Itachi. E ele havia me chamado de Deidara ainda por cima… Tão fofo! 

-- Sabe de uma coisa? - Obito saiu depressa em direção à cozinha. Itachi foi atrás, praticamente correndo, seus tênis preto pisca-pisca deixando um rastro de luz vermelha pelo corredor. Corri atrás dele. - Estou com muita, muita fome. Vou pedir a Miko para fritar umas batatas fritas, fazer pipocas, bolinhos de arroz. - E perguntou por sobre o ombro: - Vocês também querem? 

- Nós queremos que você faça a sua aposta sobre o placar final do jogo! - insistiu Itachi, com mais firmeza. - Por favor, Tobi, por favor…

- Já falei que não.

- E por que não?

- Por que vocês dois vão perder. 

Itachi não ficou nem um pouco satisfeito com essa afronta, e, puxando Tobi pela barra da blusa, lançou mão de sua última arma.

Ameaçou contar para todos que o amado jabuti de Hana, desaparecido no quintal havia quase um mês, era o mesmo jabuti que Obito, distraído pela estreia da seleção de futebol nas Olimpíadas e com a cara grudada na TV, deixou escapar pelo portão da garagem.

- Golpe baixo! - reclamou, injuriado. - E fique sabendo que vou trazer o Isobu de volta para casa. 

- Sério? - provocou Itachi, feliz com sua vitória. - Posso saber como? 

- Tenho certeza que o Isobu está por aí, perdido no condomínio. 

- Óbvio. - Itachi cruzou os braços. - O condomínio é enorme, idiota! 

- Já perguntei aos três porteiros - explicou. - Yukio Taka, Takeshi e Tanaka. Todos me garantiram que o Isobu ainda não passou pela portaria. Vão informar aqui para casa quando acontecer. Daqui a algumas semanas, talvez. Ou meses. E ainda vai dar tempo de eu chegar lá embaixo e pegar o Isobu com as minhas próprias mãos.

Tobi apostou num empate, só para nos irritar. Mas, para nossa infelicidade, foi isso que aconteceu. 

Enquanto os jogadores se posicionavam em campo, concentrados para a grande decisão no set de desempate, eu, diante da televisão, me alternava entre roer o que restava das minhas unhas e pescar pipocas da tigela sem nem olhar para ela.

Estava desesperado. Não apenas porque a profundidade na voz do narrador triplicava a angústia de qualquer torcedor, mas principalmente porque eu não fazia a mínima idéia de como ia conseguir os 50% da grana para comprar a camisa oficial da seleção, o prêmio da aposta combinado com Obito, sugestão de Itachi, agora emburrado ao meu lado.

Eu tinha então 9 anos, mas já sentia na pele as dificuldades de ter um melhor amigo podre de rico.

Já havia torrado parte das minhas economias da minha coruja na papelaria do senhor Hiruzen, com canetinhas hidrocor e cartolina para os cartazes "Pra Frente, Shinobi", que Itachi e eu desenhamos. Ou melhor, que eu desenhei. Itachi nunca conseguiu desenhar um coração que não lembrasse uma bola murcha.

A camisa da seleção era cara pra caralho! Dava uns quatro meses da minha humilde mesada! Isso, claro, se eu sacrificasse meus cinco sorvetes por semana. Como viveria sem minhas casquinhas, era só no que eu conseguia pensar quando Sabaku no Rasa fez o último ponto.

Tobi deu um grito. Depois um pulo. 

Mas só quando a seleção ergueu as medalhas de ouro no pódio, foi que Obito, em êxtase absoluto, nos abraçou, um de cada lado, e disse: 

- Abro mão da camisa da seleção, galera. 

Senti uma pontada de esperança e levantei a cabeça para olhar para ele. Sem tirar o braço do meu ombro, ele piscou para mim e arrematou:

-- A camisa é muito daora e tals, mas vai ficar ultrapassada mesmo. Agora… se vocês quiserem recolher todas as bandeiras que pendurei na varanda da sala e pintar as paredes do meu quarto de azul e laranja outra vez, eu vou achar muito bom. Mas podem esperar até o ano que vem. A mamãe não vai ligar. Olhem lá o sorriso dela! - Apontou o queixo na direção da Hana, enfeitada de verde e azul dos pés à cabeça, pulando com as amigas dondocas como se não tivesse se submetido a uma lipoaspiração recentemente. - Aposto que nem se lembra do Isobu.

Dias depois, Obito compôs uma música em homenagem à seleção; sua primeira composição com letra e tudo. E vou dizer uma coisa: já naquela época, dava para ver que o talento dele ia além dos instrumentos. Obito era um artista completo. Tirando, claro, sua voz em início de transformação. Mas isso era uma parte culpa do aparelho móvel. Só aos 14 anos, Obito começou a usar aparelho fixo. 

Itachi comprou uma camisa da seleção, com menos da metade da mesada dele, e deu de presente para a Mikoto, que ficou feliz da vida.

- Tudo bem se o Obito não quer a camisa - explicou Itachi quando questionei a razão do gesto. - Mas não quero ficar com peso na consciência.

O Azar É SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora