No estacionamento do morro Catedral, no centro da cidade, ele puxou o freio de mão. Nessa altura, tínhamos cantado quatro músicas inteiras, fazendo graça.
Ora movimentando a boca sem emitir nenhum som, forçando ao máximo as articulações da mandíbula. Ora desafiando a garganta com agudos de perfurar os tímpanos e rindo de soluçar de como o som produzido lembrava a voz da Arianna Grande. Como dois adolescentes sem lei, à vontade na companhia um do outro. Como Obito e eu costumávamos fazer. Às vezes, na Língua do P.
— P-não p-se p-me p-xa! — disse o Cara. Pulei de susto. Ele sorriu: — Vou abrir a porta para você.
Seguimos pela ladeira, nossos braços se esbarrando vez ou outra. A descida fazia nossos passos apressados soarem como os de dois soldados marchando em cadência. A brisa fria não me incomodou, tinha o aroma do perfume dele.
Na Avenida Souju, onde freios e buzinas abafavam os pequenos ruídos, viramos à esquerda em direção ao Parque Kawarama a fim de comprar pipoca na carrocinha em frente ao antigo prédio da prefeitura. Ao contrário de muitos outros parques urbanos, o Parque Kawarama não é cercado por grades de ferro. Por nenhum tipo de grade, aliás. Quando eu era pequeno e andava pelas ruas sentindo a mão de papai apertar e afrouxar a minha sem jamais soltá-la, eu não entendia por que tínhamos de atravessar o parque pela periferia em vez de pelo centro, mais arborizado e divertido. Também não entendia por que havia gente jogando damas nas mesas de concreto se papai vivia dizendo que, de segunda a sexta, os adultos trabalham e as crianças vão à escola.
A correria foi desnecessária. O Teatro Central, de arquitetura art déco cor-de-rosa e amarela, patrimônio cultural de Konoha, ainda estava fechado quando chegamos, esbaforidos. Quer dizer, eu estava esbaforido, porque ele ainda tinha fôlego para correr uma maratona. O segurança nos informou que as portas seriam abertas em quinze minutos. O Cara olhou em volta, inspecionando. Inclinou-se para o meu lado e sussurrou:
— Alguém com pinta de terceira fila do meio? — perguntou, referindo-se às doze pessoas enfileiradas em frente ao teatro. — Câmbio.
— Negativo — sussurrei de volta, cobrindo a boca. — Câmbio, desligo.
Então relaxamos e resolvemos comprar duas garrafinhas de água na lanchonete da frente, passear um pouco pelos arredores do teatro e pelas barraquinhas de artesanato, que se estendem ao longo do calçadão da Rua Kiev, no fim das tardes sem chuva.
Eis o coração de Konoha.
Pedestres, apressados ou não, cruzando o tapete de pedras coloridas ladeado por construções históricas. De dia, o centro fervilhante do comércio. De noite, galerias frias e postes solitários projetando sua luz de um amarelo melancólico.
— É sério, Bombinha. — Ele atirou uma pipoca na minha cabeça enquanto andávamos sem rumo pelos corredores da pequena feira livre. — Eu não entendo você. Por que não seguiu carreira de pianista?
— Eu tinha contas para pagar.
— Aos 17 anos de idade? — encrespou.
— Era uma previsão.
— Uma previsão que não deu muito certo, afinal de contas, você tem uma pilha de contas para pagar...
— Obrigado por me lembrar. Mas já estou resolvendo esse problema. Consegui uma entrevista de emprego em Sunagakure.
— Ah, é? — Ele jogou nossos saquinhos de pipoca numa lixeira cor de abóbora. Despejou o resto da água em nossas mãos, para lavar o sal e o óleo da pipoca. — Quando?
— Na segunda. — Sacudi as mãos até secá-las. — Tomara que eu consiga a vaga.
Retomamos a caminhada, prolongando aquele instante em que a gente espera tudo ao mesmo tempo: um trocar de olhares nada casual, um silêncio nervoso, duas mãos se esbarrando, hesitando...
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O Azar É Seu
FanfictionDeidara está parado num engarrafamento, pensando em como sua vida é azarada. Sem emprego, atolado em dívidas, ele não imagina que está prestes a viver a grande coincidência da sua vida. O motorista do carro ao lado está buzinando, tentando se comuni...