Capítulo 34

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A foto não era uma montagem.

Só que, claro, também não era a foto da minha bunda. 

Tudo bem. Havia uma bunda ali, virada para a câmera, curvada sobre meu ex-estagiário, Chiisai Nodoi, cujo rosto era o único identificável naquela mistura nojenta de braços e pernas.
Uma bunda redonda e branca, que ocupa 80% da tela do laptop quando ampliei o zoom para analisar melhor. 

Mas que a bunda não era minha, eu podia garantir!

Para início de conversa, sempre conheci muito bem minha própria bunda, apesar de não ficar olhando para ela toda hora simplesmente porque não dá, é um movimento difícil, quase atlético, exige flexibilidade e contorção, dói demais a coluna, mesmo com o auxílio de espelhos. Quem faz isso todo dia? Não dá, não dá, não dá. Mas não era só isso. Quando me atentei para os detalhes da imagem, lá estava ela:

A calcinha de onça que, muito timidamente, cobria as intimidades recônditas da bunda em questão. A bunda de Kin Daitan.

Sasori dizia no e-mail que, dois dias após eu ter sido demitida, Kin foi promovida ao cargo que deveria ser meu. Chiisai Nodoi, por sua vez, ocupou a vaga de Kin. Eu não precisava ser Sherlock Holmes para entender toda a armação. 

Naquela noite chuvosa de maio, sentado sozinho no meu quarto com os cotovelos apoiados na escrivaninha e a cabeça afundada entre as mãos, enquanto, no andar de baixo, papai, Kushina, Itachi, Kisame e Obito (o que ele estava fazendo lá?) Tomavam importantes decisões a respeito das flores do casamento dos sonhos, eu olhava para a tela do laptop,  para a bunda de Kin, sem conseguir acreditar que eu estava certo o tempo todo, mas nunca havia verdadeiramente confiado em mim mesmo.

Eu me subestimava demais para dar crédito à minha humilde intuição. 

— Vaca! — Eu me esforcei para não chorar na frente da bunda. Ou melhor, para não chorar muito.

Havia lido e relido o PDF com o depoimento do meu ex-estagiário, “a seguir denominado vítima”.

A vítima me acusava de ter lhe oferecido um contrato de emprego em troca de sexo selvagem. Sexo selvagem! É mole? Bem, talvez explicasse as estampas de onça.  Ah, tanto faz! O negócio é que, à exceção da bunda que não era minha, a foto era verídica.

Havia sido tirada em meu antigo quarto (no apartamento que eu dividia com a Vaca), na época em que eu ainda morava lá, na época em que a ideia de me mudar para um conjugado em Sanby era apenas uma ideia. 

Eu sabia disso porque conseguia identificar meus objetos pessoais no segundo plano da foto, atrás do casal. O que me levava a refletir...

Será que Kin traia seu namorado com Chiisai Nodoi, 19 anos, careca e barrigudo? Será que o envolvimento entre os dois ia além da armação profissional? Será que haviam chegado "aos finalmente" bem ali,  na minha cama, nos meus lençóis com cheirinho de jojoba? Numa bela noite de luar em que eu devia estar desesperado no escritório da FM Logistic, atolado de trabalho, crente de que meu maior problema naquele exato instante era um trem descarrilado no pátio de carregamento? 

Argh! Eu não podia nem pensar! 

Foi quando tive a ideia de desmascará-lo”, mentira a vítima. “Aceitei a proposta e fomos juntos para o apartamento dele. Enquanto Deidara Namikaze se preparava no banheiro ao lado, fiquei sozinho no quarto, posicionei a câmera atrás de uma pilha de livros e programei a ativação automática e sequencial.” E quando questionado sobre o que aconteceu depois... “Eu não cheguei aos finalmente. Até poderia, mas desisti no último minuto. E teria desistido mesmo que ele não fosse o meu chefe. Nunca vi bunda mais esquisita, com tanta estria e celulite.” 

O Azar É SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora