Capítulo 29

29 3 10
                                    

Obito Uchiha era famoso na Inglaterra. 

Não famoso, famoso, de arrepiar os cabelos da rainha. Mas o suficiente para ter uma biografia no Wikipedia, agenda, loja virtual, galeria de imagens no Pinterest, redes sociais bombadas. Na foto mais arrebatadora, capaz de esquentar meu peito inteiro, estava em pé no estúdio, pernas levemente afastadas. Segurava o Martin D-18 na diagonal, como uma bandeira do desfile de 10 de Outubro. Não olhava para a câmera. Mas eu olhava para a foto e me perguntava em que momento da vida ele tinha ficado assim tão lindo. “Em que espelho ficou perdida a sua face?” E ele disse que estava apaixonado por mim. Por mim! Ou seja, além da face, Obito também perderá o bom gosto. 

Era famoso o suficiente para ter sua própria banda, Akatsuki. Para ter sido apontado pela crítica como um dos nomes mais promissores da nova geração de guitarristas, cantores e compositores de blues, blues-rock e pop rock. Para gerar um milhão de resultados no Google quando refiz a pesquisa em inglês, milhares de vídeos no YouTube e seguidores no Twitter e no Instagram. 

Seu último tweet? Postado às 9 horas daquela mesma noite: 

"Foi como uma bomba-relógio em movimento/Nós sabíamos que estávamos destinados a explodir/E se eu tivesse que te tirar dos destroços/Você sabe que eu nunca vou deixar você ir"

Em seguida, postou a mesma frase em inglês: 

"It was like a time bomb set into motion/We knew that we were destined to explode/And if I had to pull you out of the wreckage/You know I'm never gonna let you go"

E não parava por aí. Obito Uchiha tinha  fã-clubes espalhados pelo Reino Unido e, em menor escala, pelo restante da Europa Ocidental. Lotava as casas de show por onde se apresentava. Tinha um álbum gravado e outro saindo da gravadora e cuja turnê começaria dali a dois meses. Havia dividido o palco com ninguém menos do que Eric Clapton, durante um festival beneficente em Liverpool. Estampava os tabloides com relativa frequência. Só naquela pesquisa, pude contar oito pessoas (homens e mulheres) com quem ele possivelmente tinha se relacionado nos últimos dois anos. 

Oito pessoas. Em dois anos. 

E não estou falando de quaisquer pessoas. Mas pessoas lindas, saradas e bem vestidas. Morenas, loiras, ruivas, platinados. Vinha daí, claro,  sua incrível habilidade para lidar com blusas. 

Tudo bem. Talvez ele não tivesse perdido todo o bom gosto. Veja bem os tipos de blusa que ele abria! 

Ou talvez o bom gosto ainda estivesse lá, intacto, apenas um pouco esmagado pela avalanche de nostalgia que passou por cima dele. Talvez fosse o mesmo motivo pelo qual Kakashi Hatake aparece na lista de relacionamentos mais recentes.

Eu estava  tão profundamente concentrado em minha própria perplexidade, tentando me convencer de que aquilo não era um sonho, tentando não rir e, principalmente, tentando não chorar (Tobi não merecia uma gota da minha emoção), que, quando meu celular vibrou, um barulhinho acanhado atravessando a noite silenciosa, saltei no lugar e quase caí da cama. Agarrei o mesmo a dois palmos do chão. 

Uma mensagem cintilava à meia-luz do abajur no topo da tela:

E aí? Gostou do meu site? 

Como assim, caralho? Como assim? Como assim?! O celular vibrou outra vez. 

Estou analisando as estatísticas de acesso do meu site... Hum. Visita de Konoha, tráfego de origem: Google, “Obito Tobi Uchiha pubs lotados”? Ah, Dei, francamente... Só pode ser você. 

Idiota! Idiota! Idiota!

Tobi, um perfeito idiota. Soquei minha testa com força. Respirei fundo e fiquei olhando o teto, sentindo a cabeça arder de tanto ódio. E do soco que acabara de levar. Idiota você, Deidara, por amar um traidor, pensei. Por ficar feliz com o sucesso dele, por estar louco para ouvir suas músicas, ver seus vídeos, beijar sua boca, arrancar suas roupas de novo e de novo e de novo. 

O Azar É SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora