Capítulo 21

31 4 22
                                    

Faltando precisamente 45 minutos para o horário combinado, enfiei o brinco na orelha e terminei de me arrumar. Eu estava pronto. Cabelo penteado, dente escovado, anti-séptico bucal bochechado. Com 45 minutos de antecedência. 

Ah, caramba! O nome disso era ansiedade mesmo e me fez lembrar a época em que Itachi e eu nos trancávamos no quarto dele, no segundo andar da Dream House, para nos arrumar para as festinhas do colégio. As famosas festas hi-fi nada mais eram do que meninas para um lado, meninos para o outro, e quanto mais longe uns dos outros melhor. Salgadinhos, cerveja sem álcool e hits da Britney Spears e da Lady Gaga com o  inesquecível Bad Romance. 

— Se o Kisame ficar encarando o traseiro da Kaoru de novo, juro por Kami: viro uma bandeja de salgadinhos na cabeça dela — disse Itachi certa vez. Ele estava sentado na cadeira giratória do seu computador enquanto eu passava a chapinha da Hana no seu cabelo. Itachi sempre foi muito cuidadoso com as próprias madeixas. Segundo ele, "não adianta só ter cabelo, tem que cuidar". — Isso se o Kisame for à festa hoje. Ainnn, será que ele vai? 

— Você devia virar uma bandeja de salgadinhos na cabeça dele. 

— Enlouqueceu? O Kisame não tem culpa de ser tão fofo. 

Eu não fazia a menor ideia de onde estava a lógica daquela resposta. Mas fiquei muito quieto, com medo de irritar Itachi e fazê-lo se queimar ao menor movimento. Quando trocamos de posição, ele continuou: 

— Coxinha de galinha. Pingando gordura. 

— Coxinha de galinha? — perguntei. 

— É o que vou virar na cabeça da Kaoru.

É claro que ficamos prontos com uma antecedência enervante. Depois da longa espera, Itachi e eu descemos as escadas aos pulos. Lembro-me de Obito, deitado no sofá da sala, desviando os olhos preguiçosos da tevê ligada nos Simpsons, e provocando: 

— Já passei desse ridículo. 

Depois, finalizou com uma piadinha a respeito do modelo-padrão de nossos cabelos e roupas. E, como sempre, zombou da expectativa fervilhante que Itachi tinha de encontrar aquele menino na festa. 

— Enquanto você não parar de correr atrás do Kisame, ele não vai correr atrás de você — disse ele. E bateu no peito: — Escute o seu irmão. 

— Ooooh! — Itachi soltou uma exclamação tremida. — Falou a voz da experiência! Não sou eu que prefiro ficar olhando a cara amarela do Homer Simpson num sábado à noite. 

— Ah, cai fora. 

Em momentos assim, se o dr. Fugaku Uchiha estivesse na sala (o que raramente acontecia), mandaria Obito ficar quieto e parar de encher o saco de Itachi, o caçulinha xodó. Mas, irritações e briguinhas à parte, a verdade é que os dois irmãos eram como unha e carne, principalmente quando terceiros (incluindo os pais) entravam na história e a coisa realmente esquentava. Obito, com sua tranquilidade e bom senso, defendia Itachi com mais bravura do que defendia a si mesmo. 

— Dei? — Ele apoiou o cotovelo no sofá, virando o corpo para me olhar. — Deixa eu ver você direito. 

Eu corei. 

— Sabe — disse ele. — Você podia ficar em casa. Aqui em casa. 

— Por quê? 

— Ele não vai estar lá. 

— Ele quem? 

— Ele. — E exibiu os dentes metálicos. — Simplesmente. 

Eu não sabia de quem ele estava falando. De todo modo, tinha razão. No meu caso, o menino para quem eu me arrumava era ele próprio e minha empolgação evaporaria tão logo eu saísse pela porta da sala e a sessão de embelezamento perdesse o sentido. 

O Azar É SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora