Capítulo 32

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- Deidara?

Eu me escondi, tirando o rosto de trás do vidro. Com um ofegar silencioso, encostei-me na parede externa da varanda, agarrando-me a ela como uma trepadeira a um muro.

Fechei os olhos por um momento, sentindo a textura do chapisco me espetar as costas. Eu não tinha a menor esperança de escapar dali, mas rezei mesmo assim, bem baixinho. Mas não cheguei nem a "graça" do "Ave Maria, cheia de graça".

- Deidara... Eu já vi você.

Ai, meu Deus. Ai, meu Deus. Meu coração batia descompassado. Ai, meu Deus.

Esperei mais cinco segundos. E depois, convencido de que não havia outra saída (a menos que Tobi fosse o Flash e aparecesse lá embaixo naquele exato instante, para que eu pudesse me atirar em cima dele e esmagá-lo na grama, com toda a força dos meus quilos extras acelerados pela queda. Ele bem que merecia!), deslizei para o lado, na direção da porta da varanda, e me virei lentamente.

Por entre as pálpebras empapuçadas do choro recente, Itachi me olhou como se visse um fantasma. Preguei no rosto um sorrisinho idiota.

- Oi. - Ergui o braço num movimento mecânico, como nas vezes em que respondia "Presente!" na chamada de aula do tio Satoru, mas, na verdade, querendo responder "Presunto!" ou "Presidente!", mas sem coragem - Tudo bem?

Não. É claro que não estava tudo bem.

Seu rosto magro estava abatido, com olheiras profundas intensificadas pelas manchas de rímel derretido. Fios do cabelo sedoso e brilhante agarravam-se à pele umedecida, na altura do queixo e do pescoço. A ponta vermelha do nariz arrebitado, os lábios inchados... Inacreditável a rapidez com que Itachi havia definhado desde o dia em que eu o vi de longe, na escada rolante do shopping.

Itachi estava mal. Muito mal.

Tão mal que meu peito latejou e precisei desviar os olhos por um momento para não desabar ali mesmo. Não era como eu tinha imaginado nosso reencontro, cheio de nostalgia.

Imaginava reencontrar Itachi esfuziante às vésperas do casamento, com o mesmo sorriso da foto da coluna social. Ou já casado com o marido dos sonhos, cercada pelos filhos dos sonhos... Eu teria me inclinado e feito um cafuné nas crianças, perguntado o nome de cada uma delas. Elas ficariam sem graça, encolhidas, vermelhinhas, um espelho das duas adultas ao lado delas.

Isso era o certo. Isso era o justo.

Tive vontade de atirar uma pedra na cabeça de quem havia roubado a felicidade do rosto dele. E, pelo visto, eu conhecia as cabeças criminosas.

- O que você está fazendo aqui? - ele perguntou, em tom de surpresa, não de acusação. - Quer dizer... aí? Na varanda? Na varanda do quarto do meu irmão?

Enquanto Itachi falava, voltei a observar suas feições. Senti um peso no peito. Mas, desta vez, continuei olhando, como quem insiste em cutucar um machucado dolorido. Mesmo abatido, seu rosto era lindo. E não era só isso... Incrível, pensei. Como não tinha reparado antes?

O rosto novo de Obito... sua fisionomia transformada... se assemelhava ao rosto antigo do Itachi, o rosto de sempre. E a semelhança era muita. Tirando a cor da pele; a de Tobi, bem mais clara.

- Dei?

Pigarreei para recuperar a voz:

- Eu... Ele... Eu e ele. A gente estava conversando.

- Enquanto ele levantava pesos?

- Pois é. - Eu ri, nervoso. - Fiquei sabendo que ele estava na cidade. Vim fazer uma visita. Subi sem avisar.

O Azar É SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora