Capítulo 38

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— Vem, Dei! — O grito do Tobi reverberou pela imensidão. — É a sua vez! 

Sozinho na plataforma suspensa da tirolesa de 20 metros de altura, posicionado para o salto, respirei fundo e espiei o que me aguardava lá embaixo. Obito e Itachi já haviam deslizado pelo cabo aéreo, sobrevoado o lago da Fazenda Vermelha, e agora, na outra margem, faziam sinal para que eu me lançasse e me juntasse a eles. 

— Deixa de ser medroso! — Itachi movimentou o braço, chamando — Vem, Deidara! 

Era verão, sol a pino. Acima das árvores, o vento batia com violência, esgueirando-se pela minha senha e gelando o suor que umedecia minha coluna. Eu podia sentir a tensão dos cabos que me prendiam à roldana.

Sentia o capacete afivelado no meu queixo e ficava repetindo para mim mesmo que eu tinha 14 anos e não era uma criancinha. Que estava amarrado, bem amarrado. Que não havia perigo algum, nada que pudesse aborrecer papai. Tudo que eu precisava fazer era agarrar a corda e me lançar. 

Mas, de algum modo, quanto mais eu tentava me convencer de que agarrar a corda era fácil, mais meus dedos agarravam o sólido corrimão atrás de mim. 

— Eu não sei nadar! — gritei de volta,  odiando a insegurança na minha voz — Acho que a gente se esqueceu desse detalhe. 

— Você vai só esbarrar no lago, Dei, não cair dentro dele! — garantiu Itachi, com calma.

Tive a impressão de que ele ia acrescentar mais palavras. Mas Tobi se colocou na frente dele e disse para ele algo que não pude compreender. Ele, então, fechou a boca e deu um passo. Tobi olhou para cima:

— Vou subir aí para te buscar! 

— Não! — berrei, desesperado. Eu não queria que ele me buscasse! Não, não, não! Eu queria voar pela tirolesa, provar aos Uchiha que, assim como eles, eu era capaz de uma aventura — Eu vou me lançar! Daqui a pouquinho! 

Mas Obito já estava correndo, contornando o lago, escalando os degraus enquanto eu me perguntava o que ele havia confidenciado a Itachi, se havia debochado da minha falta de coragem ou se estava era com pena de mim. Por que Itachi recuará um passo? 

Tobi me alcançou e, quando se enfiou na plataforma apertada, a madeira rangeu sob nossos pés. Sem pensar duas vezes, pulei em cima dele, reprimindo um grito de pavor. Ele estava sem camisa e passou os braços quentes ao meu redor. 

— Não estou com medo — eu disse,  levemente trêmulo. 

— A gente pode descer pelos degraus. 

— Mas eu quero descer pela tirolesa! — Uma lágrima escorreu pela minha bochecha e eu me apressei em enxugá-la antes que ele pudesse ver — Eu quero! 

— Então agarre a corda e se lance — Ele me incentivou, libertando-me para o salto — Vamos, Dei. Agarre a corda! Agarre a corda! Agaaaaaarreeeee a coooooordaaaaaa...

— Dei? 

— Não, Tobi! Não! — Abri os olhos, desnorteado por quase um segundo. Então parei. Papai estava sentado ao meu lado na cama. No meu quarto. É. Isso foi embaraçoso. 

— Tudo certo? — Ele quis saber,  engolindo o riso. 

Eu me remexi sob as cobertas e me sentei devagar. Esfreguei os olhos. Um sonho. Apenas um sonho.

Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, essa certeza não me trouxe alívio algum. Os pesadelos que me perseguiam nos últimos três meses não eram fruto da imaginação, mas fiéis reproduções do meu passado. E, embora eu tivesse prometido desistir de mim mesmo, a verdade é que eu nunca havia refletido tanto sobre minha própria vida. 

O Azar É SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora