Mamãe sempre sabe o que é melhor

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Bianca

Dispensei Levi aquela noite. Ele insistiu pelo jantar, insistiu que eu deixasse Rafaella pra lá, insistiu para que votasse a ser "a Bianca de sempre." Mas eu não conseguia, no fim, ele me deixou sozinha. Sabia que aquilo era tudo o que eu precisava.

Eu não duvidava mais de Rafaella. Acreditava que nosso acordo havia sido genuíno, e não uma estratégia para conseguir me levar pra cama. Acreditava que Ivy estava grávida de um homem qualquer com quem ela teve um caso. Acreditava que aquele casamento era a maior bagunça que eu já havia presenciado. Mais bagunçado até do que um casamento que eu havia planejado, entre um magnata e uma stripper em Las Vegas. A mulher tinha três filhos de pais diferentes e os pais do noivo não a aceitavam de jeito nenhum. Rafaella e Ivy estavam me dando mais dor de cabeça ainda.

O dia seguinte passou como se alguém tivesse dado um soco na minha consciência. Fiquei com o meu celular na mão o tempo todo, mas nem eu mesma sabia o que estava esperando. Se eu não ligasse, é claro que ela não ia me ligar. Se eu não mandasse uma mensagem, ela não ia mandar primeiro. Já havíamos decidido aquela história e eu não podia voltar atrás.

Uma parte de mim ficava feliz por ter acabado daquele jeito. Rafaella se casaria com Ivy, elas teriam um lindo bebê bastardo e seriam felizes para sempre. Insistir nos sentimentos que ela tinha por mim ou nos sentimentos que eu tinha por ela era estupidez. Ela não disse que me amava. Disse que sentia alguma coisa, mas não sabia o que era. Podia ser atração física ou desejo. De qualquer maneira, algo que não ia durar.

Outra parte de mim, por sua vez, gritava e me chamava de burra. Como você foi estúpida o suficiente para deixá-la ir embora? Você gosta dela! E agora sabe que ela gosta de você! Você é estúpida, estúpida, estúpida! Eu nunca tentava calar essa voz, porque eu sabia que merecia ouvir.

Era assustador pensar desses dois jeitos e isso só me deixava ainda mais confusa. Eu devia ficar feliz por nosso acordo ter finalmente terminado e por Rafaella estar seguindo sua vida? Ou deveria correr atrás dela e fazê-la desistir daquele casamento que não ia dar em nada?

Essas perguntas martelaram a minha mente durante todo o dia. Quando cheguei em casa, à noite, eu ainda não tinha resposta para nenhuma delas. Mas, a vida é mais feita de perguntas do que de respostas, não é mesmo? Talvez seja por isso que passamos tanto tempo decidindo o que fazer ao invés de fazermos as coisas que realmente queremos.

Minha campainha tocou quando eu estava colocando um macarrão instantâneo no microondas. Olhei pelo olho mágico e abri a porta, com uma expressão de incredulidade e raiva ao mesmo tempo. Três pessoas se encontravam na minha frente e eu estava prestes a ter um ataque do coração ou de estrangular alguém.

-Mãe? Pai? Levi? O que estão fazendo aqui? -Perguntei num engasgo.

-Viemos conversar, Bia. -Disse meu pai, sorrindo timidamente.

-Sobre? -Perguntei.

-Você não vai nos deixar entrar no seu apartamento primeiro? -Minha mãe perguntou.

Balancei a cabeça como se saísse de um transe e pulei para o lado, deixando os três entrarem em minha casa. Eles se acomodaram no sofá confortavelmente e eu me sentei na mesinha, logo à frente. Eu não sabia se aquilo suportava meu peso, mas resolvi arriscar.

-Tudo bem, agora me digam o que está acontecendo. -Pedi, cruzando os braços.

-Você transou com uma das noivas. -Minha mãe afirmou.

Arregalei os olhos e a encarei boquiaberta. Depois, olhei mortalmente para Levi.

-Mônica, que indiscreta! -Meu pai a repreendeu.

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