A Cerimonialista

Chifre trocado não doi, certo?

Rafaella

Ivy me fez carregá-la no colo quando entramos na minha suíte do Four Seasons.

Eu a peguei nos braços e a coloquei no chão depois de dar dois passos. Ela deu risada e me beijou. Também soltei uma risada, mas não de felicidade ou humor. Foi automática.

-Hoje foi o dia mais louco da minha vida. -Ela murmurou.

-Com certeza. -Eu respondi, abrindo o fecho do vestido.

-Eu nem preciso mencionar que vamos estar em todas as manchetes do mundo, certo?

Dei risada e neguei com a cabeça. Era óbvio.

-Você acha que eles vão falar das coisas boas ou ruins?

-Quem se importa? Esses repórteres não entendem a diferença mesmo.

Ivy correu até o quarto e se jogou na minha cama, arrumada horas atrás por uma das camareiras do hotel. Eu demorei mais um tempo para ir para o quarto e encarei o balde de champanhe na mesma mesa redonda em que o bilhete de Bianca estava horas antes. O champanhe era cortesia do hotel e em outro bilhete muito mais amigável, ele nos desejava felicidades.

-Você quer champanhe? -Perguntei à Ivy.

-Quero não. -Ela respondeu, ainda se divertindo e pulando na cama.

Enchi uma taça pra mim e caminhei até o quarto, franzindo as sobrancelhas.

-Desde quando você recusa qualquer tipo de bebida alcoólica? -Perguntei.

-Engraçadinha. -Ela me mostrou a língua.

-Estou falando sério, por que não quer beber?

-Eu não estou afim. Minha noite está sendo tão boa que eu não preciso de álcool para que ela melhore.

Dei risada, mas sarcástica dessa vez. Eu me sentei em uma pontinha da cama e tirei meu salto agulha. Tirei o vestido e joguei-o no chão, ficando só de roupa íntima. Os cartões com meus votos se espalharam pelo chão e Ivy se sentou ao meu lado, apontando-os.

-Seus votos foram lindos. Quase chorei de verdade. -Ela passou o braço pelo meu ombro.

-É? Eu não os escrevi. -Respondi.

-Eu já imaginava. Também não escrevi os meus.

-Jura? Achei que tivesse sido você. -Eu a encarei, confusa.

-Mas ficaram bons mesmo não sendo eu quem os escrevi, né?

-Ah, sim.

-O nosso casamento foi lindo, não foi? A festa estava maravilhosa e todo mundo pareceu de divertir tanto! Fazia tempo que eu não ia a uma festa tão boa assim.

-Sim, claro. Se por "casamento lindo" você incluir "quase levar um tiro" na descrição. -Repliquei.

-Para de ser dramática, a bala nem passou perto de você. -Ela revirou os olhos.

-Eu podia ter morrido! -Fingi uma expressão de indignação.

Ivy deu risada e me puxou para um selinho.

-Claro, claro. -Ela se levantou.- Quem era aquele cara?

-Um doido aí. -Respondi, bebendo mais champanhe.

-Você o conhecia? -Ela perguntou.

-Eu não. E você?

-Também não.

Ficamos em silêncio. Ela tirou os saltos e começou a desabotoar o vestido. Eu sabia o que "noite de núpcias" significava no dicionário universal, então sabia que, por mais que estivéssemos sempre adiando, naquela noite nós iríamos transar, com ou sem regras do tratamento para cumprir. Eu nem mesmo me lembrava do gosto da Ivy. E, naquele momento, eu só conseguia pensar em Bianca e em tudo que havíamos feito na noite anterior.