A Cerimonialista

Pequeno imprevisto

Rafaella

Acordei com um sorriso no rosto.

Eu nunca havia dormido tão bem na minha vida e, se pudesse, ficaria pra sempre naquela cama. Ao lado de Bianca. Tateei cegamente o lugar ao meu lado para tocar seu corpo, mas minhas mãos só encontraram o lençol frio. Levantei a cabeça e olhei para o lado.

-Bianca? -Chamei seu nome.

Eu me levantei da cama e coloquei uma calcinha e meu short de ficar em casa, junto de uma camiseta qualquer. Contei as peças de roupas espalhadas pelo chão e só havia as minhas. Bianca já devia ter se levantado. Mas por que ela não me acordou, então? Será que estava fazendo alguma surpresa pra mim? Sorri com o pensamento.

-Bianca? -Chamei seu nome novamente, indo até o banheiro.

E nada.

Abri a porta do quarto e nada. Andei pela suíte inteira e nada de Bianca.

Caminhei até a mesa redonda que ficava de frente pra porta e li o bilhete. Meus olhos se semicerraram quando eu peguei o pedaço de papel pela mão e o li pela primeira vez. Li mais uma vez, duas, três vezes. Aquilo não fazia sentido. Por que ela me deixaria um bilhete desse tipo?

Eu sabia exatamente o que fazer quando acordei. Eu queria olhar para o lado e encontrar Bianca dormindo em um sono profundo. Eu ia me levantar e pedir o nosso café da manhã. Quando ela acordasse, eu ia lhe dar um beijo e olhar fundo em seus olhos, só para lhe dizer que não ia ter mais casamento nenhum. Que eu não ia me casar com Ivy, porque não estava apaixonada por ela. Que, talvez, Bianca e eu pudéssemos começar um relacionamento.

Todo o meu plano havia ido por água abaixo agora que Bianca tinha ido embora. Ela realmente não queria ficar comigo, afinal de contas, se quisesse ainda estaria lá.

Eu me sentei no sofá e amassei o bilhete, jogando a bolinha de papel longe.

Alguém colocou a mão em meu ombro e eu dei um pulo, levantando assustada.

-Caon? -Falei, depois de me recuperar do susto.- O que está fazendo aqui?

-Simon disse que encontrou uma garota aqui com você quando veio te acordar. -Disse ele.- É verdade?

-É. -Assenti.

Eu não podia mentir pro meu próprio empresário, não adiantava nada. Ele ia acabar descobrindo a história toda de um jeito ou de outro. Eu não sabia que Simon, o chefe da minha assessoria, havia conversado com Bianca. Talvez eles nem se viram direito, talvez ele tivesse dito pra ela ir embora. Talvez ela tivesse dito que estava indo embora. Minha cabeça estava cheia de "talvez" e nenhum deles conseguia me acalmar.

-O que ela disse pra ele? -Perguntei.

-Que estava indo embora e que não iria ao casamento. -Ele respondeu, dando de ombros.- Ele disse que ela deixou um bilhete pra você.

-É, ela deixou. -Assenti.

-Rafaella, quem era ela?

-Bianca Andrade.

Caon arregalou os olhos. Ele com certeza já havia escutado aquele nome um milhão de vezes. Da boca da minha mãe, da boca de Ivy. Ele sabia o que aquilo significava. Sabia que eu havia ido longe demais. Ivy e eu já nos separamos várias vezes e eu sempre arranjei garota enquanto estávamos juntas. Mas transar com a organizadora do meu casamento passava um pouco de todos os limites impostos.

-A organizadora? -Ele perguntou.

-A própria.

-Você não tem vergonha? -Ele perguntou, cruzando os braços.