A Cerimonialista

Ultimato - Parte 1

7/10

Rafaella

Comecei a batucar o criado mudo pela enésima vez tentando driblar a ansiedade. Já tinha andado de um lado para outro no quarto tantas vezes que meu segurança já tinha pedido pra parar, as pessoas no andar de baixo estavam reclamando. Liguei e desliguei a televisão, passeei pelos canais, tirei e coloquei os óculos escuros, fiz tudo, mas nada parecia me relaxar. Só não apelava para a masturbação porque estava totalmente sem clima.

Big Rob e mais alguns seguranças já tinham saído há mais de meia hora para buscar meus pais, Simon, Caon, o agente principal de Ivy e os pais dela no aeroporto. Eu fui impedida de os acompanhar, segundo o meu segurança favorito era melhor que Simon só visse a minha cara quando requisitasse a minha presença e eu tive que concordar, é melhor previnir do que remediar. Contudo, isso me sentenciava a ficar estritamente no meu quarto de hotel sem poder sair para lugar algum, evitando mais "estardalhaços" e eu já não aguentava mais tanta demora sem saber de nada. Por que será que demoravam tanto assim? Além disso, tinha a minha palpitação, a inquietação nervosa. Minha mãe! Eu não duvido nada que minha mãe queira me dar umas boas porradas, sinceramente. Será que meu pai conversou com ela e explicou tudo? Mas ele faria isso sem me consultar? E o meu pai? Deve estar puto dentro das calças, com certeza! Ele me ajudou desde o começo a localizar Bianca, convencer meu chefe a me deixar vir, implorou para que eu fosse discreta e eu faço uma merda dessas. Não quero nem pensar em Caon que também sabia de tudo. É melhor eu não pensar em ninguém, parece que é uma escala que só se intensifica, uma pessoa com mais raiva de mim do que a outra.

Percebi que estava quase socando a madeira quando senti meus dedos doerem. Bufei e me joguei na poltrona, batendo os pés com impaciencia. Nem mesmo Bianca respondia minhas mensagens. Soltei um rosnado impaciente e quase no mesmo instante bateram na minha porta. Arregalei os olhos e levantei correndo para abrir, tropeçando feio no tapete antes de alcançar a maçaneta e puxá-la como se minha vida dependesse disso.

Meu pai que tinha uma expressão carrancuda, sorriu ao me ver e me puxou num sufocante abraço de urso que me pegou completamente desprevenida, me fazendo quase derreter em seus braços, apertando-o como se não houvesse amanhã. Ele se afastou alguns segundos depois e beijou minha testa, adentrando o quarto e batendo a porta atrás de si.

-Como você está, minha filha? -Ele perguntou segurando meu rosto e eu assenti, me afastando.

-Bem, bem. Eu estou bem, eu acho. -Dei ombros e ele assentiu, parecia nervoso.- Cade a mamãe?

-No saguão, discutindo com a Pandora. -Rangi os dentes nervoso. É óbvio que a mãe de Ivy não ia ser amigável comigo ou com a minha família.- Foi um vôo meio conturbado e nem um pouco quieto...

-Como ela está?

-A sua mãe? -Assenti e ele riu.- Ela quer matar você e não é pra menos, né Rafaella? Eu falei mil vezes pra você ser discreta, você me garantiu que só queria conversar com a garota e resolver as coisas entre vocês, ninguém ia ficar sabendo.

-Foi... Impulso. -Sorri forçado pedindo desculpas e ele negou com a cabeça rindo.

-Eu não consigo brigar com você, eu nunca consegui. -Ele levantou os ombros e me abraçou novamente.- Mas a sua mãe consegue e ela veio pronta pra isso. Ela pode até estar te defendendo de Pandora, mas ela não está nada bem contigo.

-Você contou pra ela? Digo, sobre o filho de Ivy...

-Eu não! Eu não falei nem vou falar nada, minha filha. Esse assunto é seu, estou aqui pra ajudar, mas quem tem que resolver é você e eu vou te falar, boa sorte. Simon não quer te ver nem pintada de ouro.