Estaca zero

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Bianca

Tentei de todas as formas esquecer o fiasco que havia sido ter esbarrado na minha mãe na loja da Dior. Também tentei esquecer que ela e Levi estavam me rodeando, conferindo umas quatro vezes todo o trabalho que eu já tinha feito até ali. Eu tentei esquecer tudo isso porque só de pensar na minha mãe, eu ficava estressada. Quando ela cismava de acabar com o meu trabalho, ela conseguia.

O vestido vermelho e maravilhoso que Rafaella me fez provar, eu tive que deixar na loja. Eu não tinha dinheiro o suficiente pra comprá-lo, mas se tivesse, eu levaria, só pra provocar a minha mãe. E naquele dia, eu fui embora muito mais cedo do que o combinado, deixando todos os meus compromissos de lado, o que só me deu dor de cabeça no dia seguinte.

Rafaella me ligou, mas eu não atendi. Eu não queria conversar com ela porque sabia que seria pior. Uma parte de mim realmente concordava com a minha mãe e eu não venho fazendo meu trabalho do jeito certo. Aquela era a primeira vez que eu fazia as coisas do jeito errado, mas também era a primeira vez em que eu me sentia viva de verdade. Rafaella me fazia bem e isso era um fato. Mas eu tenho que pensar no meu trabalho em primeiro lugar.

Pode-se dizer que eu voltei pra estaca zero. Eu ainda estava indecisa sobre o que fazer. Rafaella queria que eu continuasse com ela, mas eu sabia que não devia, na verdade, eu sempre soube que não devia porque era imoral, mostrava uma grande falta de princípios tanto minha quanto dela. Traição, eu estava ficando maluca ou o quê? Eu nunca traí ninguém antes disso e eu não deveria nem ter começado. Meu trabalho tinha que ser mais importante do que uma atração sexual passageira.

Assim, eu resolvi que agora o meu trabalho será o meu amante.

Passados dois dias depois do fiasco na loja, o meu celular tocou. Era um número desconhecido e isso me deixou apreensiva. Eu estava em casa, assistindo friends sem preparação alguma para encarar alguma bomba que qualquer pessoa resolvesse me tacar, mas atendi mesmo assim. Sendo quem eu era, não podia me dar ao luxo de não atender o celular.

-Bianca? -Disse uma voz feminina familiar do outro lado.

-Ela mesma.

-Oi, aqui é a Genilda, mãe da Rafaella. -Arqueei minhas sobrancelhas no mesmo instante.

-Oi, Genilda. Como você conseguiu o meu número?

-A Rafaella me passou, espero que não se importe.

-Ah, claro que não. Eu mesma lhe disse para me ligar caso tivesse algum problema. -Suspirei.- Então, o que aconteceu? Seu vestido não ficou bom? Alguém não recebeu os convites?

-Pra falar a verdade, eu queria conversar com você em particular. O mais rápido possível. -Meus olhos se fecharam e eu senti uma dor de cabeça bem no fundo da minha mente.

-É sobre o casamento? -Perguntei.

-É.

-Hm, é claro que podemos conversar. Você quer se encontrar em algum lugar?

-Sim, eu ainda estou na cidade então é só me dizer o endereço e eu estarei lá.

-Que tal a Delicatassen na esquina da rua 34? Estou indo pra lá agora e te espero.

-Sem problemas, estarei lá em alguns minutos.

-Ok, vejo você lá. -Suspirei e desliguei o telefone.

Eu me levantei do sofá soltando fumaça pelas orelhas, porque eu já tinha uma leve ideia sobre o que Genilda queria conversar comigo. "Eu estava conversando com a mãe da Rafaella e ela disse que vocês duas concordaram que ela não está pronta. Eu disse pra ela que é besteira e é isso que você vai dizer se ela tocar nesse assunto novamente." Eu sabia que era a minha vez de negar essa história e fazer com que Genilda acreditasse que Rafaella está mais do que pronta pra casar. Ela é a mãe dela e se lhe dissesse qualquer mínima coisa, ia ter uma influência enorme no rumo daquele casamento. Portanto, se ela acreditar que a filha está pronta e vai viver um conto de fadas, não influenciaria em nada.

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