Regras flexíveis ou não

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Bianca

Eu achei que fosse chorar ou me sentir uma grande merda depois de ter ouvido tudo o que Rafaella disse. Mas assim que cheguei em casa e pude finalmente me sentar e esticar as pernas no sofá, eu não sentia nada. Literalmente nada.

Entorpecida. Era essa palavra que definia o que eu sentia. Eu não me sentia nem feliz, nem triste, nem brava, nem cansada. Liguei a televisão para assistir uma série qualquer, como se nada tivesse acontecido. Dei de ombros e caminhei pelo meu apartamento e naquele instante percebi o quão grande e vazio ele era. Parecia que eu havia acordado de um sono muito profundo e que os últimos acontecimentos não haviam sido processados corretamente.

Ao receber uma ligação de Ivy foi como se tudo de repente viesse à tona de uma vez só. Por mais que eu já estivesse pensando no que realmente havia acontecido, foi só quando eu vi o nome de Ivy no visor do celular que eu soube o quanto as coisas estavam fodidas. Controlei as malditas lágrimas e respirei fundo.

-Alô. -Falei, atendendo a chamada.

-Você pode me dizer porque deixou Rafaella na loja pra fazer a lista de presentes sozinha? Eu achei que o combinado era ela te ajudar, e não fazer tudo! Se eu receber algum presente idiota, juro pra você, Bianca que eu vou te caçar até você arrumar essa merda. -Ela ameaçou com a voz aguda e descontrolada.

-Ivy, eu... -Minha voz falhou.- Eu não consegui...

-Você não conseguiu o que? -Ela perguntou, ríspida.

-Eu discuti com a Rafaella e não consegui mais ficar lá...

-Eu não entendo isso. Eu não te pago pra ficar discutindo com a Rafaella, pago pra cuidar que ela faça boas decisões em relação ao casamento. Ou você já se esqueceu disso, Bianca? Será que eu vou precisar ter uma conversa com a administradora da sua empresa?

Respirei fundo e apertei os olhos. Ela estava jogando muito sujo.

-Pode falar com quem você quiser, Ivy. -Dei de ombros.

Escutei Ivy bufar do outro lado da linha e depois ela ficou em silêncio por alguns segundos.

-Bianca, me desculpe. Eu não estou em dias muito bons, me desculpe por ser grossa com você. -Ela se desculpou, soando doce e calma.

Franzi as sobrancelhas, num minuto ela quase me matava e no outro me pedia desculpas como se tivesse cometido um crime. O que havia acontecido com aquela garota? Ivy estava certa quando me disse que parecia estar nervosa, mas ela estava nervosa até demais.

-Ivy, está tudo bem.

Ela ficou quieta de novo e segundos depois, começou a chorar descontroladamente.

-Eu não sei o que está acontecendo comigo! -Ela soluçou do outro lado da linha.

Arregalei os olhos e tirei o celular do ouvido para olhar o visor. Era com Ivy Moraes que eu estava falando mesmo? Ela brigou comigo, pediu desculpas e agora estava chorando, tudo isso em menos de três minutos de ligação. Que tipo de bipolaridade doentia era aquela?

-Ivy, você está bem?

-NÃO! -Ela gritou, ainda chorando.- Eu estou tão cansada e irritada, parece que tem um peso enorme em mim e eu não estou mais me aguentando em pé.

-O que está acontecendo?

-EU. NÃO. SEI! -Ela gritou, pausadamente.- Se eu soubesse, daria um jeito de acabar com isso, mas eu não sei. Eu sinto como se tivesse jogando a minha vida no lixo.

-Mas como assim? Isso é por causa do casamento?

-Sim. Quer dizer, não. Talvez. Eu não sei, talvez seja. -Ela respirou fundo e voltou a soluçar logo depois.- Ah, meu Deus, eu sou uma pessoa horrível.

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