É só abrir a porta que o passado volta

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Bianca

Só Deus sabe o quanto eu queria gritar. Só Deus sabe o quanto eu queria fugir. Só Deus sabe quanta raiva eu tinha dentro de mim. E era só com Deus que eu podia conversar.

Nos dias que se seguiram, eu me sentia cada vez mais sufocada pela presença constante de Levi. Parecia um lembrete fixo de que minha mãe estava me observando. Ainda assim, o deixava me seguir. Deixei que ele me ajudasse e lhe dei muito trabalho para fazer, trabalho mais do que o necessário até. Pelo menos, ele dava conta do recado. E, no meio tempo, eu fingia não ver que ele ligava para minha mãe às escondidas e lhe fazia um relatório sobre o meu comportamento.

Ele tentou se aproximar de mim várias vezes, mas eu não o deixei chegar perto. As nossas únicas conversas eram sobre o casamento. Quanto mais tempo se passava e mais perto ficava o casamento, menos nós conversávamos. Ele já sabia o que fazer e, às vezes, me deixava completamente sozinha. Quando voltava, sempre confirmava com as pessoas nas minhas reuniões se eu não havia escapulido por um tempo.

Eu podia ser tudo, menos irresponsável. Se aquele era o meu trabalho, eu ia fazê-lo sem distrações e da melhor forma que ele podia ser realizado. Ainda mais agora que eu não podia colocar tudo a perder. Ainda mais agora que eu poderia acabar fodida, sem casa, sem trabalho e sem dignidade.

Levi me acompanhava até em casa todas as noites. Como nós sempre voltávamos bem tarde e ele percebia que eu estava cansada demais para sair de novo, ele ia embora contente. A verdade é que eu sempre me fazia exausta perto dele. Se ele me visse animada ou atenta provavelmente ia querer dormir na minha casa só pra ficar me vigiando. Imagino o quanto minha mãe deve estar pagando para ele.

Faltavam quatro dias para o casamento e a rotina estava acontecendo de novo. Estávamos com quase todo o trabalho pronto, coordenando tudo. O mais importante seria no dia, que eu teria que organizar tudo da maneira correta para não deixar nada dar errado.

Levi estava caminhando comigo pelo meu corredor e ele falava sobre o que tinha deixado pronto, todo entusiasmado. Eu não estava nem ouvindo. Apenas assentia a cabeça e desviava o olhar, para ele não perceber que eu não dava a mínima para o que ele dizia.

-Enfim, foi muito bom nós termos adiantado tudo isso hoje. Tenho certeza que o casamento vai ficar maravilhoso, mesmo com os problemas que surgiram. -Ele disse, dando de ombros.

-Sim, sim, claro. -Respondi, sem nem saber do que ele estava falando.- Tenha uma boa noite, Levi.

-Eu posso entrar pra tomar um café? -Ele perguntou, apontando a porta.

-Não. -Respondi com muito gosto.- Até amanhã.

Levi pareceu chocado com a minha resposta, mas simplesmente andou até o elevador que ainda estava no meu andar e desapareceu de vista. Tirei minha chave da bolsa e coloquei-a na fechadura. Ao invés de girar duas vezes para destrancar a porta, a chave emperrou. Franzi as sobrancelhas. Isso só acontecia quando a porta já estava aberta.

Girei a maçaneta e a porta se abriu. Meu coração acelerou.

Entrei com cuidado em casa, imaginando quem poderia estar lá. Não havia mais ninguém que tinha a chave, porque eu não morava com alguém há mais de um ano e ninguém poderia ter a chave, nem mesmo o zelador ou o síndico do prédio. E, de qualquer maneira, não havia sinais de arrombamento. Como um estranho poderia ter entrado? A não ser que...

As luzes se acenderam e eu olhei para trás.

-Eu estava te esperando. -Diogo disse.

-O que você está fazendo aqui? Como você entrou aqui? -Perguntei, tirando minha chave da fechadura e fechando a porta com violência.

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