Talvez ela só quisesse te usar

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Bianca

Eu me sentia sufocada com o tanto de informação nova que meu cérebro era obrigado a processar. Rafaella e eu estávamos brigadas. Ivy estava grávida. Aquele casamento parecia estar com os dias contados, se desfazendo de dentro para fora.

Qualquer pessoa que visse as coisas por outro ângulo e que não soubesse dos verdadeiros acontecimentos, acharia tudo maravilhoso, Ivy estava adiantando o plano das duas, já que em toda santa entrevista Rafaella falava da inseminação, que era louca para ser mãe. Faltava pouquíssimo tempo para o dia 22 de dezembro, pouco mais de duas semanas. Eu me sentia como se aquelas fossem ser as semanas mais longas de toda a minha vida. Ficar sobrecarregada de trabalho era algo que eu já estava acostumada e tinha me preparado mentalmente para tal coisa, especialmente neste casamento. Mas nunca imaginei que fosse ficar sobrecarregada de informação.

Eu não sabia o que me fazia continuar correndo atrás dos convites, das visitas ao confeiteiro, das reuniões com o buffet, da procura pelos carros para as noivas e dos chefes da equipe de decoração. Meu trabalho tinha aumentado em um ritmo frenético e eu quase nunca tinha paz. Mesmo assim, com tanta coisa para pensar, tudo que eu sabia me aterrorizava.

Uma parte de mim sabia que deveria contar para Rafaella que Ivy estava grávida. Outra parte de mim não me deixava agir, por culpa da promessa que fiz. O certo e o errado combatiam na minha cabeça. Ivy estar grávida não era o maior problema de todos, afinal, sua gravidez, de certa forma, estava no plano das duas. Mas segundo o meu raciocínio, ela havia traído Rafaella. Ela havia traído Rafaella sim, mas Rafaella também havia traído ela, e o pior: comigo.

Tive que pedir a ajuda de Levi para conseguir lidar com todo o trabalho extra e ele percebeu como eu estava inquieta e ansiosa. Quando nossos olhares se cruzavam, ele sempre me encarava. Devia perceber que eu estava escondendo alguma coisa, algo que pudesse acabar com tudo que nós estávamos planejando. Por esse motivo, ele se ofereceu para ajudar.

-Bianca? -Ele me chamou, tocando meu ombro.

Era uma noite de quarta-feira. Estávamos no Grand Foyer, lugar da festa. Já era muito tarde, mas a reunião com o pessoal da decoração e da floricultura havia acabado de acontecer. Deixamos tudo acertado e eu pedi novamente, com o pouco de voz firme que ainda havia em mim, que não houvesse falhas. Todos estavam sendo muito bem pagos para realizar um trabalho perfeito. E eu não esperava nada abaixo da perfeição.

Acho que minha motivação para tornar aquela cerimônia perfeita era em razão das noivas e de como seus defeitos e falhas haviam envenenado aquela relação. Eu não entendia porque Ivy insistia em se casar com Rafaella, se ela estava grávida de um homem qualquer. Talvez até apaixonada por esse homem. Mas é claro que eu não havia parado para pensar que havia outras razões além dos sentimentos que elas sentiam uma pela outra. Ivy não ia se casar por amor.

-Oi, Levi. -Eu olhei para ele, com um sorriso fraco nos lábios.

-Você está bem? -Ele perguntou, pegando minha mão.

-Estou ótima. -Eu me afastei, mantendo uma distância segura e cruzando os braços.

Levi torceu o nariz e negou com a cabeça.

-Tem certeza disso? Você me parece tão... inquieta. -Ele murmurou.

Assenti novamente e ajeitei uma mecha de cabelo. Sorri sem mostrar os dentes e fingi voltar a me concentrar no que estava fazendo antes.

-Bianca, você quer conversar? -Levi perguntou, ainda interessado.

Sorri muito falsamente e de mau grado, negando com a cabeça e arrumando minha bolsa, passando-a pelo ombro e me virando em direção a ele novamente. Já era hora de ir pra casa. Eu ia meditar e fazer o máximo para esquecer todos os fatos comprometedores de Rafaella e Ivy, e principalmente, os meus também. Ia começar a fingir que elas formavam o casal perfeito e que deveriam com certeza se casar. Ia fingir que não sabia de absolutamente nada. Ia me esquecer da verdade.

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