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— Bom dia. -A enfermeira entrou no quarto. — Não achei que já estivesse acordada.

— Então por que me deu bom dia?

— Vi seus olhos abertos olhando para a porta. -Ela recolheu a bandeja onde estava meu jantar. — Comida de hospital é péssima, eu sei. Mas não posso deixar você sem se alimentar.

As bandejas foram trocadas.

Mas eu não estava com fome.

— E... boas notícias. -Parou na porta e se virou para mim. — Depois do café eu venho trocar seu curativo e deixar uma recomendação. Aí você passa na recepção e assina uns papéis,certinho?

Não me animou muito.

Quer dizer, eu poderia sair dali. Mas queria ver Millie antes disso.

Olhei meu reflexo na janela e vi olheiras formadas no meu rosto. Passei boa parte da noite acordada.

Já estava conseguindo andar sem mancar, mas ainda assim eu sentia uma dor. Só que não era na perna.

Apoiei minha testa na janela e fiquei olhando todas aquelas pessoas apressadas,correndo de um lado para o outro. Uma daquelas pessoas poderiam ser Millie agora. Mas eu ferrei tudo.

"Depois do café" parecia uma eternidade.

Comecei a andar de um lado para o outro. Não queria mais esperar.

— Ansiosa? -Assim que a enfermeira passou pela porta eu praticamente me joguei em cima dela e o curativo foi feito.

Mais algumas recomendações e finalmente estava livre.

— Disseram que tinha uma mala alguns metros do carro. Você estava viajando?

— Sim.

Acabei percebendo que ainda estava com roupa de hospital.

— Não se preocupe com isso. -Ela me entregou um saco verde. — São um pouco maiores que você, Mas eu acho que vai servir.

— Obrigada.

Sai do quarto praticamente correndo e troquei de roupa no banheiro do andar de baixo.

Assinei os malditos papéis.

— Ontem vocês receberam alguém? -Perguntei para a recepcionista.

— 21 pessoas. É o suficiente?

— Sim,eu fui uma dessas pessoas. Tem alguma Millie nos seus papéis?

Ela fez uma careta.

— Sim.

— Ótimo. Ótimo,qual é o quarto?

— Algum parentesco? Não posso permitir sua entrada assim.

— Estávamos juntas na hora do acidente.

— Não é o suficiente.

— Por favor, Estou há tempos tentando saber dela. Só quero ver se está bem.

— Uma pessoa no hospital está bem?

— Não. Mas você entendeu. -Respirei fundo, tentando não surtar. — Olha, tem pessoas esperando ser atendidas por você e eu estou tomando tempo. Se você me disser em qual quarto a paciente Millie Brown está eu não volto a incomodar você.

— Sem permissão.

Fui até o elevador e encarei os botões que indicavam os andares.

Um homem, aparentemente médico, me pediu para segurar o elevador e depois de ter entrado pediu para eu apertar no 12° andar.

The art of love • SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora