Samara: Eu não quero ficar aqui sozinha! - falei já zonza.
A anestesia começou a fazer efeito e uma das últimas que me lembro de ter falado foi isso, porque depois foi nada com nada!
Não dormir não, permaneci acordada mas ouvia tudo longe, sabe? As minhas vistas estavam super turvas e eu só ouvia a enfermeira do meu lado bem longe enquanto segurava a minha mão.
Ela falava comigo mas eu nem entendia nada, fechava e abria os olhos tentando reagir mas tava osso, muito ruim!
Eu fiquei assim por muitos minutos, ainda cheguei sentir que eu estava sendo cortada, aquela sensação, depois ouvi ela falando que ele tinha nascido e aí apaguei, fui desfalecendo.
Papo reto, só acordei no outro dia a noite e eu estava na uti, né? A enfermeira quando viu que eu tinha acordado me explicou a minha situação, falou o que tinha acontecido e eu tomei aquele baque né?
Disse que eu perdi muito sangue, tive que tomar duas bolsas de sangue, fazer transfusão e por isso vim pra uti até tudo se normalizar comigo!
Perguntei pela criança ela falou que ele também estava na uti, que nasceu fraquinho mas que ficaria bem se assim Deus permitisse.
Ela falando assim eu já senti que ele realmente não estava bem, que ela estava me preparando, né? Devia tá bem fraquinho, mas não falei nada... fiquei quieta.
Adriano: Como você tá?
Samara: Bem! - falei seria.
Chegou aqui pra pegar o boletim médico, me viu, estava aqui do meu lado mas a única coisa que me perguntou foi se eu estava bem.
Bofe não sei se estava com peso na consciência, ou era pelo nenem, mas ele estava calado, super cabisbaixo mesmo.
Samara: Você viu ele?
Adriano: Sim, vi ele ontem quando nasceu e hoje antes de vim ver você!
Samara: Você chegou ontem que horas? - ele quis mudar de conversa e eu insisti. - Que horas?
Adriano: Ele já tinha nascido, meu celular estava descarregado, dormir... quando fui ver já tinha tempos, maior confusão.
Não falei mais nada pra ele não, só virei pra frente e fiquei olhando pra frente. Médico chegou pra dar meu boletim pra ele, ele pegou, se despediu de mim e foi embora!
No outro dia pela manhã eu desci da uti e fui pro quarto, mas mesmo assim estava bem fraca e só consegui ver o bebê uns dois depois.
Cheguei lá com a técnica que estava me acompanhando e a enfermeira da neonatal me mostrou ele, fiquei encarando seria vendo os detalhes, como ele estava né? Ela falava comigo, mas eu nem prestava atenção.
Arthur estava fraquinho mesmo, dava pra ver! Super feinho, coitado... tinha nem cabelo. Tava com uma sonda no nariz pra se alimentar e dentro de uma incubadora.
Samara: Ele vai morrer? - foi a única coisa que eu perguntei.
Xxx: Ele tá bem fraquinho, mãe!
Daí eu ja pensei o que? Que ele não iria vingar, que ia morrer e eu não quis mais ficar lá, não queria ver e nem guardar lembranças não.
Se eu não ficasse com nada na mente seria mais fácil esquecer e seguir minha vida. Então falei que iria embora, mas ela não deixou!
Xxx: Quer segurar ele não? - falou pegando ele. - Segura seu bebê, mãe!
Samara: Não! - falei seria.
Xxx: Segura, criatura! - meteu um baianês pra mim. - Pra ele sentir o seu cheiro, te reconhecer... é bom.
Aí, ela fez que fez até que eu sentei na cadeira ali do lado e segurei ele por uns minutos. Segurei mas não queria olhar pra ele não!
Eu tava com o meu celular em mãos, nem pedi nada mas ela já foi tomando e disse que tiraria uma foto, ela tirou, tomou ele do meu colo e eu virei as costas...
Virei as costas e já sai dali da neotal já chorando muito, né? Papo reto, chorei de soluçar como nunca tinha chorado antes!
Eu nunca quis ter filho não, queria ter o Arthur não e durante os oito meses que ele estava dentro da minha barriga eu não nutrir amor de mãe por essa criança não.
Não me considerava mãe, não tinha aquele amor de mãe nas ultras, não tinha aquele prazer de esperar a chegada nem de comprar e ajeitar as coisas!
Tava gerando ele, mas era porque não tive jeito, foi porque não consegui tirar, não pude... mas quando eu peguei ele nos meus braços e pensei que eu poderia perdê-lo me bateu um desespero, sabe????
Ligação: Vó Nair ❤️
Samara: Meu filho não tá bem, acho que ele não vai sobreviver não vó! - falei chorando. - Eu não quero ele morra não!
Nair: Você não disse que tinha sido tudo bem, Samara? O que tá acontecendo?
Samara: Ele tá na uti, não sei... não gostei de como ele está, ele tá bem fraquinho... vê aí o que a senhora pode fazer, fala com os orixás, pede por ele! Vê se vai ser isso mesmo e me fala... eu quero saber!
Nair: Se acalma, minha filha! Vó vai ver aqui, tá? Fica assim não, vai dar tudo certo. Poxa, Samara! Porque não me disse que não tava tudo bem? Poderia ter corrido atrás antes, iria te ver... - começou a falar.Falei com minha vó por mais de uma hora, perguntou se minha mãe já sabia, que iria falar, mas não deixei ela falar não!
Se eu tô passando por isso agora ela também tem a parcela de culpa dela porque me disse tudo aquilo, me irritou junto com o Adriano. E como ela disse que se eu procurava ela quando estava ruim, não iria fazer isso mais não!
Falei com minha vó porque sabia que ela iria abrir jogo, fazer alguma coisa e o que desse ela me falaria logo, não iria ficar angustiada e eu confiava nos desígnios dos orixá...
Abri a galeria e peguei a foto que a enfermeira tirou e fiquei olhando... Não queria, mas era inevitável! Na cabeça eu só pensava nisso po.
Eu tava sozinha lá naquele quarto e na minha cabeça só vinha tudo que fiz e passei, na situação que eu estava passando e só pensando se não era castigo?
Macetei, enrolei... Ainda relutei muito, não queria dar o braço a torcer, mas senti a vontade e necessidade de fazer isso e assim eu fiz! Mandei a foto dele pro Thaigo.
WhatsApp: +0219...
Samara: [📸] Seu filho aí! É Arthur o nome dele, nasceu tem no dia 15 de agosto, tem 2,6 kg e 46 cm.
Mandei porque eu senti no meu coração a vontade de mandar, porque se ele não vingasse, ao menos ele conheceria o filho em vida.
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BANGU CITY 🧨 (DEGUSTAÇÃO)
Teen Fiction+18 | LIVRO COMPLETO DISPONÍVEL PARA ASSINATURA.