De volta a realidade

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Blayr/ 34

Corri e corri, sem me importar com o vento frio batendo nas minhas costas, eu queria ir até Théo, dizer a ele que eu estava bem e abraçá-lo. Cada vez que eu chegava mais perto da porta mais eu conseguia ouvir os soluços dele, ele estava chorando, chorando por minha causa, provavelmente por achar que eu morri e isso era horrível de se imaginar então a cada soluço, a cada chamado preocupado e agonizante dele eu corria mais, corria porque eu queria poder estar nos braços dele pelo menos uma vez, principalmente depois de quase ter morrido de verdade.

Finalmente a porta era visível, era grande e de ferro escuro, tão escuro que usurpava a luz, era da mesma cor que o fundo daquele mar mais abaixo de mim. Arcos ,arebescos e flores detalhavam o grande portão que circundava a porta prateada, linda e cruel, igual a mim, foi meu primeiro pensamento assim que a vi, e a maçaneta... exatamente igual a do meu quarto em Malaz, a mesma maçaneta que eu fiquei encarando antes de ir para Izalins, quase como se eu soubesse que seria a última vez que eu a veria.

E eu a girei, girei e voltei a realidade, voltei ao meu corpo e vi o desespero dando espaço para o alívio nos olhos de Théo assim que eu abri os meus, seu rosto estava molhado e avermelhado, eu estava nos braços dele, os dois no chão do castelo e ninguém por perto, quase pude ouvir ele gritar para que todos deixassem ele sozinho, para que ele finalmente pudesse barganhar com os deuses para pedir que nós dois tivéssemos mais tempo.

Lá estávamos nós dois, perdidos novamente nos olhos um do outro, quase em estado hipnótico mas não importava, não importava porque eu estava viva e ele estava comigo.

- Eu estou aqui. - Disse para ele, para deixá-lo ciente que não era uma artimanha da sua cabeça, ele apenas assentiu, mas não me largou, pelo contrário, me abraçou ainda mais forte. Eu nunca tinha tido esse tipo de contato com ele, vivíamos sempre entre tapas e quase beijos mas nunca nada tão íntimo, nada tão amoroso quanto esse abraço e foi surpreendente, até para mim, quando eu o passei os braços em torno do pescoço dele e o abracei de volta, ficando ali, agarrada á ele como dois apaixonados que não suportam a ideia de perder o outro, não ainda, que a deusa me perdoe mas eu mataria qualquer um para poder ter tempo de aprender a amar esse homem.

Théo era um porto seguro, uma viga presa ao chão que sempre estaria disposta a me manter no lugar, impedindo que eu me perdesse por muito tempo, ele era como meu pai por alguns instantes, o abraço e a vontade de proteger acima de tudo eram exatamente iguais, eu pude perceber isso enquanto estava abraçada a ele, perceber que ele estaria ali, mesmo com as brigas, mesmo com as implicâncias, mesmo com as diferenças, ele sempre estaria ali, para me trazer de volta a realidade, não importava se só como amigo ou algo mais.

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Minutos se passaram, não sei dizer quantos, mas Théo não parecia nem um pouco inclinado a me soltar, então tive que tomar a iniciativa.

- Talvez devêssemos nos afastar agora, antes que fique estranho ou que algum deles venha ver como você está e ache que está rolando alguma coisa. - Sussurrei em seu ouvido e pude jurar que por um segundo ele estremeceu contra mim.

- Você tem razão. - Ele falou baixinho enquanto olhava para o chão. - Não está rolando nada. - Um sorriso forçado.

Ele levantou e me estendeu a mão para que eu fizesse o mesmo. - Então você só desmaiou, né? Nada mais grave que isso. - Perguntou o mais velho visivelmente preocupado.

- Estou bem Théo, juro, pode abaixar a guarda. - Sorri e me afastei dele indo em direção a porta que divida o salão de entrada de os outros cômodos.

- Blayr, - Ele me chamou do outro lado da sala e eu parei - tem certeza que não quer falar sobre, sobre seu pai? - Aquilo foi um soco no estômago que me trouxe totalmente para a vida real, depois de tudo que aconteceu durante meu desmaio eu tinha me esquecido, tinha espantado esse fato da minha cabeça por tempo suficiente para respirar, mas agora eu estava de volta, e não dava mais para ignorar a verdade, apenas balancei a cabeça em negativa ainda de costas e saí dali o mais rápido possível.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora