O tintilar das gotas

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Blayr/ 59

Naquela hora não pude evitar o pânico que senti, comecei a perceber que não tinha salvação disso tudo, percebi que os dois gárgulas alados e assustadores na verdade estavam tampando as saídas, Dona Ana com certeza não tinha como se defender e devia estar tão apavorada quanto ou até mais que eu, ela nunca vira algo como essas criaturas, eu não tinha como me defender deles ainda, não havia nada perto que eu pudesse usar como arma e mesmo que tivesse duvido que isso me deixaria minimamente mais segura agora.

Parecendo saber o que eu estava assimilando a mulher de preto sorriu, como uma leoa analisando sua caça ela me olhava dos pés a cabeça, os dedos batucando a mesa lentamente a cada segundo, como se contasse cada badalada até o bote. Outra coisa me preocupava agora, Théo provavelmente ainda estava lá em baixo, sem fazer ideia do que se passava aqui, era o que eu queria acreditar porque sabia que havia uma possibilidade, mesmo que pequena, dele estar precisando de ajuda, de estar sozinho lutando pela própria vida. Quase implorando a qualquer coisa que me ouvisse rezei aos céus que ele estivesse bem, acreditava que ele podia se virar sozinho, ele era forte, era um rei, ele com certeza não estava em apuros, conseguiu sobreviver ao massacre em Malaz, ele viveria mas independente do motivo eu não podia me dar ao luxo de o esperar ou contar com ele para me ajudar agora, eu tinha que me virar sozinha, tinha que dar um jeito de fazer minha magia aparecer, não só aparecer mas também precisava conseguir usá-la para salvar e retirar dona Ana daqui, ela era minha prioridade agora, precisava retirá-la antes de estar mais em perigo. Reunindo toda a coragem que me restara me forcei a falar, as palavras parecendo envoltas em areia. - Deixe ela ir, está aqui por causa de mim!

Se divertindo com a situação a mulher soltou uma risada sem humor. - Por que eu deixaria? Papai não me deixou tocar em você mas isso não se aplica a ela, seria divertido! - As criaturas que vieram com ela pareceram se animar com a idéia e aquilo me fez sentir como em um poço de água fria em um dia de neve. Aquilo estava começando a sair do limite, - se é que em algum momento esteve dentro dele - a mulher de preto estava aqui e não tinha motivos para estar mentindo sobre ser minha irmã, a julgar por sua fala foi o próprio rei infernal quem a mandou aqui então estava óbvio o motivo da visita, não havia outro motivo para virem a não ser me levar, eles me arrastariam daqui pelos cabelos se necessário, eu tinha mais que certeza disso e completa consciência de que eu não poderia evitar aquilo mas o que realmente me preocupava era a mulher que me encarava assustada, ela estava chorando, devia estar com medo, preocupada e se sentindo totalmente perdida, eu não a julgava, eu também me sentia assim por debaixo da máscara de força que estava usando, era fácil mascarar meus sentimentos mas vê-la chorar doía mais do que eu conseguia suportar. - Se quer me levar faça isso logo, deixe ela ir e me leve de uma vez. - Minha voz saiu mais alta do que eu imaginei, eu estava quase gritando, lágrimas quentes já brotavam nos meus olhos e meu coração batia loucamente, ela podia não sair daqui com vida, mesmo que me levassem ainda podiam decidir assassiná-la por completo capricho e só aquela ideia já retirava parte da minha força.

- Ora ora ora, a caçulinha da família está começando a perder a paciência. - Debochou a mulher ainda sentada, só se deleitando em me observar perder o controle.

- É claro que perdi a paciência, você não tem nem coragem de me atingir sozinha, é uma covarde! - Cuspi as palavras banhadas em ódio que destilavam do meu peito, eu já pouco me importava com o que ela faria comigo desde que ela saciasse sua sede de brutalidade em mim e esquecesse a senhora atrás de si.

Ela levantou, em um segundo já estava com a mão apertando com força minha garganta, as unhas cravando na carne macia atrás das minhas orelhas.- Só não te mato agora porque não vim aqui fazer isso, vim te trazer uma mensagem e pretendo cumprir meu dever, não posso matá-la ainda.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora