Quando a lua estiver em seu ápice...

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Blayr/ 49

- Mas afinal, o que queria conversar comigo? - Disparei depois de um longo período calados observando a nuvem de borboletas coloridas que voavam livremente pelo jardim privado de Théo.

- Coisas sobre a noite de amanhã, queria já ir te preparando. - Ele disse olhando o nada depois fixando o olhar em mim, ele parecia tenso enquanto alisava incessantemente as próprias mãos, fiz sinal para que ele continuasse. - Não estranhe se algumas pessoas agirem estranho perto de você depois que a lua aparecer no céu, está bem?

- Hum, tudo bem. Devo me preocupar? - O maxilar de Théo ficou rígido assim que perguntei.

- Eu estava pensando em algumas coisas e percebi que pode ficar bem claro sua importância assim que a lua atingir o ápice. - Ele murmurou.

A afirmação do guarda ressou na minha cabeça assim que processei suas palavras, se nem um guarda real tinha noção de que eu era a deusa prometida certamente as massas também não faziam ideia, a reação das pessoas pode ser imprevisível. - Eles não sabem que eu sou a prometida, não é? - Théo arregalou os olhos e coçou a cabeça.

- Como descobriu?

- O guarda de ontem, quando eu quis entrar no quarto ele riu e disse que eu era só seu novo passa-tempo, que eu não devia me comparar a ela. - Admiti e ele ficou visivelmente irritado, os nós dos dedos dele ficaram tão brancos que temi que a pele se rachasse com a força que ele estava fazendo e o maxilar tão rígido que poderia cortar.

- Por que não me contou isso antes? - Ele silibou ainda irritado, eu poderia jurar que vi uma chama dançar em seus olhos.

Respirei fundo e cheguei mais perto dele, ele precisava se acalmar urgentemente, nunca conheci a fúria de Théo mas tenho certeza que todos deviam temê-la. - Olha para mim. - Ele se voltou na minha direção mas eu ainda podia ver que ele estava cego de raiva, não estava vendo nada além do rosto angular do guarda com cabelos castanhos, o empurrei no balanço espaçoso e sentei no seu lado. - Olhe de verdade para mim, entre nos meus olhos se quiser, como sempre faz, mas olhe para mim realmente. - Sussurrei encostando a mão em seu pescoço quase por impulso, com o toque ele pareceu acordar e eu rapidamente tirei a mão dele.

- Como assim, entrar em seus olhos? Eu faço muito isso? - Théo parecia quase em pânico e eu não entendi o motivo.

- Quase toda vez que você me olha por muito tempo isso acontece, eu sinto como se estivesse entrando um pouco na minha cabeça. - Ele engoliu em seco.

- Você... você não sente medo disso? Não fica assustada com a ideia de que um dia eu posso realmente conseguir, mesmo que sem querer?

- Não sei como funcionam seus poderes nem a força deles mas por que eu teria medo? É de você que estamos falando, eu não tenho medo de você. - Ri imaginando se um dia Théo conseguisse entrar na minha cabeça. - Na verdade acho que é você quem estaria em perigo se conseguisse.

- Não duvido. - Ele ficou em silêncio por um longo tempo e voltamos a olhar as borboletas, quando me dei conta flocos finos de neve começaram a cair do céu e ele voltou a falar. - Me desculpa por mergulhar em seus olhos, eu realmente não queria fazer isso, é quase inconsciente.

- Tudo bem, eu realmente não ligo desde que não use realmente seus poderes em mim. - Ele assentiu e eu mudei de assunto. - Por que as pessoas me olhariam estranho quando a lua estiver em seu ápice amanhã?

- Por que há uma grande chance de que elas enfim percebam que você é a prometida. A lua de Yule é um símbolo da magia no nosso mundo, quando ela está no céu ficamos mais fortes, mais libertos e mais mágicos, muitos acabam mostrando suas verdadeiras formas ou partes dela, acredito que isso possa te afetar também. - Ouvi-lo explicar aquilo parecia ler um livro de história, quase pude ver uma versão mais nova dele lendo exatamente isso em alguma biblioteca.

- Achei que a tatuagem no meu pescoço já desse na cara de que não sou normal. - Murmurei e Théo riu feito uma criança.

- Sua marca de abençoada não vai ser nada se acabar ficando com os olhos bicolores ou conjurar de novo suas asas como no dia do conselho. - Ele brincou e eu gelei.

- Tem possibilidade de eu ser tão afetada assim?

- Têm, por isso quero que não se assuste se alguns começarem a se ajoelhar ou outros parecerem que vão chorar a qualquer segundo.

- Por que chorariam? Sou... só eu, eles parecem me odiar as vezes.

- Você é nossa última esperança, mesmo que eles não gostem de você vão ter que admitir isso, nada pode detê-lo além de você, das suas próprias mãos. - Eu sabia de quem ele falava, sabia exatamente de quem eu devia protegê-los, mesmo que não soubesse como.

- Qual é o motivo para o temerem tanto? O que eu realmente tenho que combater. - Ele respirou fundo e olhou para o chão, ele com certeza estava pensando no que falar e claramente eu não sabia nem o que acontecia na ponta do iceberg, havia muitos problemas naquela cidade que eu nem sequer imaginava.

- Outro dia juro que te conto tudo, assim que a festa de Yule acabar vou te mostrar eu mesmo o que ele vem vazendo ao longo dos séculos para todos o temerem tanto. - Assenti silenciosamente e ele me estendeu a mão para sairmos do balanço, andamos o caminho de volta em um completo silêncio, agora com os olhos abertos eu podia ver como cada pedaço daquele lugar era lindo, assim que passamos de volta pelo portão verde musgo e Théo o trancou lentamente senti uma pequena parte de mim ficar triste.

- Fica calma, vai poder voltar quando quiser agora que têm a chave. - Ele falou girando a última volta da chave.

- Ainda acho que não a merecia, aquele lugar parece muito importante para você. - Assumi e ele sorriu.

- Você também é. - Engoli em seco e senti minhas bochechas aquecerem no mesmo segundo que processei o que ele acabara de dizer, seus olhos esmeralda encontraram os meus e me travaram no lugar, eu, Blayr Ahmed, uma garota irritante e mandona sou importante para Théodoro Reed, ouvi-lo dizer aquilo era melhor do que observar aquelas lindas borboletas voarem no céu branco de neve.

- Você nem parece tão chata quando está com vergonha. - Aquele sorriso ladino apareceu em seus lábios novamente e humor líquido cintilava em seus olhos, era irritantemente lindo. Sua mão foi até meu cabelo bagunçado em cima da cabeça e seus dedos brincaram delicadamente com uma mecha solta do coque.

- Vai a merda, não estou com vergonha. - Empurrei seu braço e dei dois passos para trás dando de costas com uma das paredes do corredor, fiz uma careta...merda, essa situação poderia ser mais clichê? Ele se aproximourindo enquanto me prendia na parede por completo, o fato de ele ser quase quinze centímetros mais alto que eu não ajudava em nada minha situação. Senti seu hálito na minha orelha, não fazia ideia de quando tinha fechado os olhos mas já estava feito quando me dei conta.

- Vou deixar passar uma última vez, da próxima prometo que não vou desistir de te beijar no último segundo. - Eu estava completamente sem ar e sentia meu corpo se aquecer mais a cada segundo, engoli em seco e abri os olhos, seu rosto incrivelmente masculino e escultural estava de novo a milílitros do meu, meus olhos caíram para seus lábios macios quase que sem querer e ele riu no mesmo segundo, vi de relance a sombra de uma covinha no lado direito aparecer e então ele se afastou, indo embora sem dizer uma palavra, mais uma vez.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora