Aposta perigosa

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Blayr/ 53

Mais um dia estava se passado naquele castelo e eu me sentia como uma instrusa entediada, os meninos não saíram do escritório desde a madrugada de ontem e não importava quantas mensagens eu mandasse nenhum dos dois respondia, Vivian continuava andando de um lado ao outro organizando os últimos preparativos para mais uma noite de festival e por mais que eu ache que nossa relação não é mais de puro ódio depois de ontem digamos que me ter como uma sombra falante atrás de si ainda não é uma ideia atraente para ela, ir atrás de Katrina não era uma opção e levando em conta o fato que recebi um carrinho recheado com todo tipo de doce e petisco que eu gostava hoje cedo optei por gastar meu tempo esticada como uma estrela do mar sobre a cama enquanto me empanturrava de salgadinhos e lia um livro de romance clichê que roubei da biblioteca do casarão. Não saí para almoçar então não sei se Cris e Théo deram uma pausa e por mais que eu estivesse morrendo de curiosidade para saber o que eles e Kiron faziam lá até agora reprimi a vontade de mandar mais mensagens, não queria parecer intrometida.

Já eram quase quatro da tarde quando Anía apareceu na porta segurando algo vermelho preso em um cabide. - Minha Deusa, que zona é essa? Tem mais farelo nessa cama que em um frango empanado. - A garota parecia tão chocada que comecei a limpar a blusa disfarçadamente na esperança de aliviar a situação. - Vai tomar banho logo, não viu a hora? - Ela já estava me empurrando pro banheiro e sacudindo meu edredom.

Tomei um banho rápido e não me dei ao trabalho de desembaraçar o cabelo já que a gêmea de cabelos rosa chiclete daria um jeito nisso. De novo minha pele foi coberta de óleo brilhante e cada área visível por fora do roupão foi perfumada com um perfume estranhamente bom, Anía desembaraçou e prendeu meu cabelo num coque baixo completamente calada, silêncio com ela era tão incomum que me perguntei se ela estava bem, depois de um longo tempo assim ela abriu a boca como se fosse perguntar algo mas então fechou com força como se estivesse reprimindo aquela questão. Estava tão incomodada com aquele silêncio que aquilo foi suficiente para eu quebrar o vazio do quarto. - Fale logo por favor, se abrir essa boca e não falar nada de novo juro que vou ter um colapso nervoso.

- A... pensei que não estivesse vendo. - A garota parecia sem jeito por ter sido pega mas continuou a prender grampos no meu cabelo escondendo-se atrás de mim.

- Fale logo vai. - Me virei na cadeira e encarei ela, Anía suspirou alto e levantou as mãos em rendição.

- Vi como ficou quando foi obrigada a falar com o representante da corte submundana, por mais que seu rosto parecesse sereno eu conseguia sentir o desespero exalar do seu olhar, por alguns segundos achei que fosse sair correndo! - Ela não me encarava mas eu sabia que se pudesse olhar em seus olhos naquele momento veria empatia gotejar deles, Anía sempre fora muito curiosa, algumas vezes até um pouco fofoqueira, mas podia apostar que não tinha nenhuma segunda intenção naquela pergunta além de pura preocupação.

- Já está tudo bem, ele é um fantasma do passado que eu não esperava mais encontrar, por isso fiquei... surpresa, em revê-lo. - Eram palavras vagas em comparação com tudo que eu senti e sinto em relação a James, um nó se forma na minha garganta toda vez que minha mente insiste em replisar sua risada oca, quase como um trauma esquecido que voltou a tona quando ele resurgiu literalmente dos confins do inferno, queria admitir a ela que sinto medo dele, que não só queria sair correndo quando o encontrei na noite de ontem quanto também sentia vontade de chorar, de gritar e pedir a qualquer um que o tirasse de perto de mim, mas mantive a postura porque fazer isso seria admitir não só para ela quanto para mim mesma que eu ainda era aterrorizada por ele, que eu ainda era uma garotinha frágil escondida atrás de uma máscara de frieza e indiferença, uma garotinha que precisava de alguém para protegê-la e isso não podia mais ser verdade. Para o meu bem eu não podia ser ela, não podia mais me dar ao luxo de ser indefesa. A garota pareceu entender que eu não falaria mais a fundo sobre aquilo e voltou a prender as mechas soltas do meu cabelo.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora