Ótimo clima de Merda

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Blayr/ 43

Digamos que eu não acordei, só levantei da cama, a noite passada tinha sido uma merda completa, passei a madrugada em claro com a mente cheia, era horrível tudo o que tinha acontecido até agora e eu mal tive tempo para respirar, mas depois da noite de ontem me sinto um caco pior do que o habitual, não era para eu me sentir assim, né? Eu nem amava ele, está tudo bem ele não me querer, eu não ligo, vai ser melhor par os dois.

Fiquei repetindo isso a manhã inteira até me convencer.

Assim que desci as escadas do casarão percebi que a neve tinha piorado e muito desde a madrugada anterior, neblina cobria os céus e mal dava-se para ver a cidade, cheguei na cozinha e encontrei Cris jogado em uma das cadeiras da mesa de jantar conversando com a senhorita Yantes, para ser mais exata ele estava falando e ela só balançava a cabeça. Ela estava sozinha pelo visto, nem sinal do resto da equipe dela, sinceramente era muito raro vê-los, na maior parte do tempo a casa estava vazia, mas sempre muito limpa e a comida sempre feita, como eles faziam isso eu não sei.

- Bom dia. - Falei e me dei conta que minha voz estava rouca.

- Tudo bem? - A senhorinha perguntou preocupada e com os olhos arregalados como se já estivesse pensando nos vários tipos de chá que ela poderia me oferecer para ajudar.

Balancei a cabeça em afirmativa. - Só uma noite ruim, não tem com o que se preocupar.

Ela não se convenceu, mas acabou respeitando meu momento, os ombros cedendo levemente e os curtos cabelos pretos balançando enquanto ela assentia, já Cris parecia inquieto, me olhava curioso mas ao mesmo tempo algo balançava em seus olhos menta com chocolate, algo que eu não conseguia discernir. Ouvi passos vindos das escadas e saí apressada de perto da mesa, murmurando alguma desculpa sobre pegar leite na geladeira.

Me escondi atrás da ilha na cozinha, exatamente onde tínhamos conversando ontem, agachada e mexendo no chão como se procurasse algo caso me pegassem no flagra. As vozes deles eram abafadas pela distância mas ouvi um "estranho, a garota também" falado por Yantes e em seguida silêncio, presumi que já tinham começado a comer e levantei num salto, assim que olhei para trás vi Théo em pé, descalço e com um moletom cinza, a pele clara normalmente radiante parecia sem vida, cinzenta, os olhos verde esmeralda vazios e com olheiras azuladas abaixo. Não tinha me visto no espelho ainda, mas presumi que não estava diferente.

- Oi. - Balbuciei sem som o olhando nos olhos e ele respondeu do mesmo jeito alguns segundos depois. Não conseguia me mexer, não conseguia nem sequer respirar direito com os olhos dele sobre mim, não era um olhar sedento nem feliz, era melancólico, triste de um jeito profundo e verdadeiro.

Não conseguia entender o motivo dele estar mal mas também não queria perguntar, não sabia se conseguiria falar com ele. Acabei ficando ali, parada e olhando-o também pelo que parecia uma eternidade, antes era fácil me perder em seus olhos, agora era doloroso, completamente doloroso, era como se alguma coisa tivesse se quebrado ontem, algo que tornava nossa relação fria e espinhosa. Meu peito começou a descer e uma sensação de angústia tomar minha garganta, eu estava prestes a chorar sem nem um motivo plausível quando ele abriu a boca para dizer algo, antes que qualquer som saísse de sua boca eu já estava correndo, sem me importar com o que ele ou o resto do mundo acharia.

Cheguei no quarto e tranquei a porta atrás de mim, eu não queria chorar, não queria porque sabia que não mudaria nada, fui até o banheiro e me apoiei na pia, em frente ao espelho e assisti minha respiração desacelerar, aos poucos minha visão desembaçava e eu já podia ver melhor, assim que me acalmei percebi uma coisa que eu não tinha reparado antes. Uma meia lua com arebescos desenhados dentro dela estava centralizada bem no meio do meu pescoço, na linha abaixo do meu queixo, era certamente a marca de Selene, provavelmente apareceu ontem durante o ritual na tábula de sangue já que usei minha magia, não me importei com aquilo, tinha gostado dela, era forte e marcante mas ao mesmo tempo delicada e simples.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora