O começo de um plano

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Blayr/18

Acordei sentindo a brisa gelada carregada pelos primeiros raios de sol do dia, o quarto estava iluminado e eu já não estava tão cansada para reparar nos detalhes, a cama era um pouco maior que a minha no palácio bruxo, os lençóis claros contrastavam com os móveis cor de ébano espalhados pelo quarto e as paredes tinham um leve tom cinza. Levantei da cama e parti para o banheiro, que seguia a paleta de cores do quarto, procurei uma toalha nas gavetas do gabinete e tomei banho, eu estava suja e com alguns pequenos grãos de terra no cabelo.

Saí do chuveiro enrolada na toalha e procurei minhas roupas no grande armário do quarto mas não tinha nada meu ali, a única coisa nele era um esvoaçante vestido cinza que parecia brilhar em contato com a luz, o mesmo parecia intocado a anos, preso ao fundo do armário quase imperceptivelmente, analisei meu vestido da noite passada mas logo percebi que não tinha condições de usá-lo, estava sujo e tinha um grande rasgo nas costas que eu nem mesmo sabia quando havia acontecido. Peguei o vestido cinza por fim.

Por um milagre divino ele coube em mim, e por mais que não fosse muito meu estilo ele me deixava incrível, suas mangas chegavam até o meio do braço e a cintura era detalhada com uma pedraria tão delicada que eu tinha medo de estragar se fosse tocada, algo nele era acolhedor,o tecido era leve e gentil sobre a pele, como um abraço familiar.

Parti do quarto procurando qualquer pessoa acordada, meu estômago chiava e minha pressão baixava a cada passo, eu estava totalmente sem energia. Vaguei pelos corredores tentando encontrar saída, mas falhei em todas as tentativas, sempre acabava voltando para o corredor do quarto onde eu dormi, já derrotada sentei no chão e murmurei todas as palavras mais sujas que encontrei no meu vocabulário, eu estava irritada e com fome mas não seria tola o suficiente para bater na porta de Théo, isso se ele ainda estivesse lá.

- Sua mãe devia lavar sua boca, nenhuma dessas palavras devia ser dita por uma dama. - Olhei para Théo, que se encontrava escorado no batente da porta vestindo um de seus ternos pretos habituais.

- Primeiro, não sou uma dama, segundo, vá a merda. - Disse tateando a parede para conseguir levantar.

- Delicada como uma por... - Théo se calou antes mesmo de terminar a frase enquanto me olhava já de pé, observando o vestido que eu usava. - Onde o encontrou? - Disse apontando para ele.

- Meu vestido rasgou, minhas roupas não chegaram ainda e esse estava no fundo do armário do quarto, achei que não tinha problema de usar. Quer que eu troque?

-Não - respondeu rápido- fica bem em você.

- Você parece afetado, está tudo bem mesmo?

- Sim, só não o via nesses corredores a muito tempo. - Por que estava xingando quando te encontrei?

- Estou com fome e não consigo encontrar uma saída desse labirinto. - Disse sorrindo e mostrando todos os dentes como uma criança enquanto Théo dava risada de minha cara.

- Então quer dizer que Blayr Ahmed xinga quando não encontra comida?

- Blayr Ahmed vira um monstro quando sente fome. - A risada solta de Théo era leve, nada daquele monstro sanguinário do qual o chamavam.

- Tudo bem, vamos alimentar o monstro. - Théo estendeu o braço para que andássemos juntos.

- Até que esse Théo não é tão monstruoso assim. - Falei enquanto entrelaçava nossos braços.

- Um elogio vindo de você? Devo estar com sorte.

- Não enche, presinhas.

- Presinhas ficou fortemente ofendido pelo apelido que montrinho o deu. - falou em tom de brincadeira levando a mão solta ao peito como se realmente estivesse ofendido.

- Monstrinho diz o mesmo. - Disse imitando o gesto enquanto nós dois ríamos e andávamos para fora do corredor

Chegamos na cozinha e a mesa estava posta, cheia de doces e pães visivelmente deliciosos, Théo sentou e quando comecei a comer percebi que na noite anterior eu acabei dormindo e não avisei a minha família que estava bem e conhecendo meu pai, se eu demorasse mais um minuto ele mandaria todos os soldados atrás de mim. Avisei a Théo sobre e voltei ao quarto, para pegar o telefone e quando voltei Cristian já estava na sala de jantar junto ao seu irmão.

- Bom dia. - Falei ainda de longe.

Cristian se virou fitando descaradamente o vestido, parecia que todos na casa me olhavam estranho enquanto eu passava, como se aquele vestido tivesse alguma história na qual não me contaram.

- Melhor não me olhar assim se não quiser fazer seu irmão ficar inseguro.

O mais novo cuspiu o quer que estivesse tomando e olhou para o mais velho que tinha os olhos tomados de ódio e luxúria, naquele instante soube que eu tinha acabado de virar seu novo desafio pessoal e era exatamente isso que eu queria, queria o rei em minhas mãos, fazendo tudo para me ter porque só assim eu teria o controle da situação, eu precisava de uma garantia de que nada aconteceria comigo e que melhor maneira de ter uma garantia do que ter  Téodoro Reed bancando um bobinho apaixonado?

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora