Uma arma

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                     Blayr/ 14

Passamos alguns minútos num silêncio agradável até que Aziel pigarreou.
- Me fale, o que foi?

- Eu... só, só estou sufocada, sufocada das mentiras. Sinto como se tudo que vivi até hoje foi um teatro e só eu não sabia que estávamos atuando.

- Acho que te entendo um pouco, como guarda somos treinados para mantermos uma máscara de serenidade independente da tragédia, e isso as vezes me sufoca também. Mas perece que não é só isso que está te incomodando.

- É o Théo, as meninas insinuaram que ele é uma pessoa ruim, e isso meio que me atingiu também, mesmo com tudo ele é meu parceiro e por mais que eu odeie estar presa a ele é inevitável que nós estejamos ligados de alguma forma. E não quero que o meu parceiro seja alguém ruim, entende?
Aziel estava vermelho, mas não de vergonha, percebi, mas sim de algo mais profundo, algo equiparado a ódio dançava em seus olhos queimando toda a bondade ali,e eu não entendia o motivo.

- Por mais que você possa odeiar ouvir isso, ele é sim uma pessoa ruim, Theodoro Reed é um rei muito poderoso, mas também muito egoísta e traiçoeiro, é um homem sanguinário que faria de tudo pra ter o que quer, sem se importar com as pessoas que ele feriria no caminho. - Meu amigo parecia cuspir as palavras, deixando bem claro que não estava a fim de falar mais a fundo sobre aquilo, mas depois de um segundo de silêncio ele percebeu que eu não desistiria até saber o motivo.
Aziel bufou e começou a falar - Fui um dos soldados designados à liderança dele na última gerra e até hoje não esqueço o olhar sanguinário que ele lançava aos nossos oponentes mortos, como se deliciasse com cada gota de sangue derramado na arena de batalha.
Meu sangue gelou, era como se eu pudesse ver aqueles olhos sanguinários que Aziel mencionara, e tive certeza, naquele instante, que era parceira de um montro, não um monstro assustador que deixava claro que era feroz, mas sim um mosntro que já vivera tempo o suficiente para só mostrar sua verdadeira face no momento certo.

- Eu preciso ir Blayr, antes que deem falta de mim e eu seja punido.

- Tudo bem, obrigada por estar comigo, foi importante pra mim.

Recebi de volta um sorriso singelo antes de o ver atravessando a porta e virrando o corredor.
Respirei fundo e me joguei na cama, mas como tudo que é bom dura pouco, só tive alguns segundos de paz até que meu telefone vibrasse com uma mensagem de Katrina dizendo que "se eu não decesse logo para treinar ela iria pessoalmente retirar cada fio de cabelo meu à pinça." e eu ainda não estava louca ao ponto de achar que ela estava brincando.
Vesti o uma leguin e em top  e corri para o quintal dos fundos onde minha prima me esperava sentada num banco enquanto limpava as unhas com a ponta de uma adaga.

-Está atrasada, denovo. - Balbuciou ainda sem levantar os olhos em minha direção.

- Eu tive um contratempo. - Disse tentando não esboçar emoção.

- Seu contratempo tem nome, sobrenome e um rostinho amigável, duvido que Théodoro vá gostar de saber que em sua ausência sua recém descoberta companheira dá mole para um guardinha, ainda mais se esse guardinha for Aziel Valerie.

- O que ele tem contra o Aziel?

- Correção, o que eles tem um contra o outro, os dois se odeiam igualmente, mas o motivo ninguém sabe ao certo, só sei que toda vez que o Théo tem que vir ao castelo Aziel ou é liberado ou o colocam o mais longe possível do escritório do tio. Ninguém quer replisar a briga deles de uns anos atrás, dizem que os dois se atracaram da última vez que trombaram e até hoje o guardinha tem cicatrizes para lembra-lo de não mecher com o soberano vampírico.

Pisquei em resposta, ainda digerindo a informação, então foi por isso que Aziel ficou vermelho ao mentionar Théodoro, eles tem uma história nada agradável. mas antes de formular uma pergunta sobre o assunto minha prima me mandou ir me aquecer que em breve ela voltaria para me treinar e saiu sem me da dar tempo de resposta.

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Minha prima voltou em mais ou menos meia hora depois pálida como neve, terror e apreenção dominavam seu semblante mas mesmo eu perguntando várias vezes o que tinha acontecido ela se recusou a responder, a única coisa que falou foi uma ordem de ficar quieta e voltar ao treino.

O treino foi mais pesado que o comum, o que era normalmente só auto-defesa, ataque e contraataque se transformou em luta com adagas e treinos de resistência de corrida, força e uso de magia.
Não preciso falar que falhei miserávelmente em 100% dos treinos, já que as coisas escalaram muito rápido, eu não entendia o motivo de pegarem pesado comigo tão do nada assim, mas não tive coragem de perguntar o motivo diante da cara de morte que se instalou no rosto de minha prima durante toda a tarde.

Sentei em um dos banquinhos do jardim para uma pausa, eu estava a beira da desidratação com tanto suor que se esvaira de mim até aquele momento. - Pode me contar o motivo de estarmos treinando tão pesado? - Disse usando o resto de fôlego que eu tinha antes de virar uma garrafinha de água guela à baixo.

- Só estamos pondo em dia o tempo perdido, você estava a dois dias parada.

- Sabe prima, dentre todas as pessoas da família você era a que menos mentia para mim, será que dá pra não mudar isso?

- Não estou mentindo, pare de ser tola.

- Sim, está, dá pra ver que não é só isso, mas se você não falar, tudo bem. Me torne novamente a boba manipulável que vocês criaram. - Falei levantando, me preparando para sair dalí ates que eu perdesse o controle.

- Tudo bem, - Disse depois de um breve segundo em silêncio - mas precisa prometer que não vai deixar eles saberem que eu te contei.
Balancei a cabeça assentindo.

- Temos espiões em todos os lugares do mundo sobrenatural, mesmo que sejamos o único reino fora dele, e hoje mais cedo nossos informantes do mundo inferior nos relataram que Samael descobriu sobre sua transformação, não conseguimos conter a informação já que aconteceu em meio a todo o conselho, e existe um rumor que ele está se preparando para vir pegá-la de volta.

Meus lábios secaram e tudo parecia mais mórbido depois que o nome de meu pai biológico foi falado em voz alta, até o céu parecia ter mudado de tom para uma escala cinzenta. - O que eu tenho que fazer? - foi a única frase que consegui formular.

- Titio está avaliando a idéia de você ir passar umas semanas no palácio de Théodoro, mas não é nada certo ainda. Só estamos preocupados com o que pode acontecer se ele por as mãos em você, até agora só estudamos a superfície dos seus poderes, então não temos dimenção do que você pode fazer, a verdade é que suspeitamos que você possa virar uma arma de matar nas mãos da pessoa certa, e se tem alguém que poderia fazer isso, com certeza é ele.

- Eu vou...diga a papai que eu vou pro palácio vampírico amanhã mesmo, só preciso de um tempo para me preparar. - Disse reunindo toda a coragem que habitava em mim e saindo em disparada do jardim.
Na profecia dizia que eu seria a salvação do mundo sobrenatural e eu não arriscaria ser na verdade sua destruição, não se eu pudesse impedir, mesmo que isso significasse ir direto para o palácio do meu monstro de queixo simétrico.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora