Izalins

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Blayr/19

Fora isso o café correu bem, Théo não parava de me olhar, como se perguntasse a si mesmo se valia a pena tentar me conquistar, perguntando se valia a pena ter para si a garota da língua afiada. Acabamos o café e partimos para o castelo, decidimos ir a pé já que supostamente eles dois teriam acordado cedo e teriam certo tempo de sobra e aproveitariam para me mostrar a cidade. Saímos de casa cerca de vinte minutos depois e as ruas estavam vibrantes, bem diferentes da monótona e macabra cidade que me foi mostrada noite passada, essa cidade cheirava a baunilha e infância, as ruas coloridas de ouro devido aos fracos raios de sol daquela manhã contrastavam com a fria maresia vinda que soprava, as lojas recheadas de roupas das mais diversas peças e cheias de clientes, pessoas circulava sorrindo e conversando, crianças brincavam no centro da praça, rindo e se divertindo no pequeno parquinho e suas mães e pais fofocavam em bancos próximos.

Théo colocou a mão sobre meu ombro enquanto eu admirava o lugar que eles chamavam de lar. - Bem vinda a Izalins, a cidade da lua de sangue, ou se quiser, sua nova casa.

- Temporariamente, eu aceito.

Um leve sorriso de Théo e uma revirada de olhos de Cristisan foram as únicas coisas reações antes de eu agarrar os braços dos dois e seguirmos em direção ao imponente castelo medieval que roubava os holofotes da cidade brilhante.

Andamos graciosamente até a entrada principal, ladeada de roseiras vermelhas como a lua que protagonizava as noites em Izalins, por onde eu olhava soldados vestidos com imponentes armaduras negras e espadas reluzentes embanhadas nas costas faziam reverências pomposas ao seu Rei e seu irmão que silenciosamente ordenava que voltassem a suas posições de patrulha.

- Seu irmão é bem... exigente. - Falei me apoiando no ombro de Théo para que todos ali percebessem que éramos próximos.

- O sonho dele é ser chefe da guarda- real. - Isso explicava o porte atlético exagerado de Cristian.

- E ser irmão do Rei e o próximo na linha de sucessão não lhe dá nenhuma vantagem? - Observei os soldados, alguns cochichavam e outros fingiam não perceber a mulher que andava esguia ao lado de seu soberano.

- Sou um Rei justo, mosntrinho.

- Se me chamar assim novamente serei obrigada a tornar sua vida a mais complicada possível.- Olhei nos olhos de Théo a tempo de ver um de seus sorrisos perversos nascendo em seus lábios.

- Gostaria de lhe ver tentar. - Disse no meu ouvido e ri em escárnio, alto o suficiente para que todos ali ouvissem.

E enfim entramos no castelo, repleto de adereços dourados, velas em castiçais, lustres de cristais e rubis reluzentes, paredes pretas preenchiam todo o cômodo mas mesmo assim o ar lúgubre não dominava, era brisa e luz natural que circulavam livremente pelo salão passando pelas grandes janelas que iam do chão até o teto que deixavam aquele lugar estranhamente acolhedor e com o sedutor cheiro de baunilha que dominava a cidade.

- Parece que entramos no inferno. - Disse a Théo que me observava olhar encantada seu reino a manhã inteira.

- E você tem algum problema com isso? -Disse rindo de deboche.

- Eu adorei, pode me mostrar o resto?

- Agora não, tenho que ir.

- E eu vou ficar fazendo o que aqui?

- Pode me ajudar, ou explorar por conta própria.

- Vou optar pela primeira opção, não é todo mundo que pode bancar a rainha de Izalins por um dia. - Rimos e seguimos para o escritório.

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O dia passou voando, a papelada parecia se reproduzir a cada cinco minutos, mas nada muito complicado, nada que eu não tivesse aprendido a resolver nos meses em que estava treinando para o reinado com meu pai, coisas banais como brigas entre comerciantes e aumento de taxas de matéria prima. Não saímos do escritório nem por um segundo, na hora do almoço o máximo que fizemos foi pedir que a refeição fosse servida lá e afastar um pouco a papelada quando os pratos de carne, vegetais e purê foram entregues, fora isso nada.

Saímos do castelo tarde da noite quando a cidade já tinha voltado ao seu aspecto mortal da noite passada e as pessoas se recolhiam. Chegamos no casarão, e nos despedimos antes de dormir, os três igualmente exaustos. Assim seguiu a semana, sempre com a mesma rotina do dia anterior, acordar, vestir um vestido chamativo, flertar com Théo,trabalhar horas a fio junto aos irmãos Reed, chegar ao casarão tarde da noite e desmaiar na cama no final do dia. Eu tinha decidido que seria melhor ficar no casarão no segundo dia de trabalho e todas as minhas roupas foram transferidas ao "meu" quarto, fora isso, nada de extraordinário aconteceu.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora