O Retorno do Esquecido

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Blayr/ 51

A lua já estava alto no céu a pouco mais de uma hora e eu continuava me sentindo completamente normal, alguns perto de mim começaram a ficar com olhos muito brilhantes e outros até desenvolveram escamas, vampiros e bruxos não eram as únicas espécies presentes em Izalins essa noite, todos os outros povos mandaram algum representante a cidade para reafirmar e criar laços então Vivian estava extremamente ocupada andando de lá para cá recepcionando todo mundo, segundo ela eu deveria acompanhá-la mas Cris acabou intervindo e me afastou dela inventando alguma desculpa boba para isso quando na verdade ele estava mesmo era com medo de algum infernal aparecer por aqui. Agora estou em pé perto de Théo, exatamente como no começo da festa, olhando todos de longe e aproveitando o fato de todos estarem felizes demais para repararem em mim.

Estava reparando em uma garotinha com um vestido bufante correndo pelo salão quando vi de soslaio um grupo adentrar ao salão, duas criaturas metade humanas e metade gárgulas flanqueavam um outro alguém que ainda não conseguia enxergar, a altura considerável, a pele cinzenta e as orelhas pontudas era a parte menos assustadora daqueles dois, dentes afiados e sobressalentes pendiam para fora das bocas fechadas, garras afiadas e escuras saiam de seus dedos e pelagem de aparência áspera cobria a maior parte dos braços e pernas. Vestidos como guardas cada um levava consigo uma espada embainhada e uma lança de prata que estava sendo usada para afastar qualquer imortal desatento que continuava no caminho. Quase por impulso cheguei mais perto de Théo, me posicionando á sua cabeceira e me escondendo na parte mais escura do palanque. - Quem são eles? - Consegui sussurrar sem me mover.

- Não faço idéia mas fique perto de mim. - Ele respondeu sem me olhar e se recostou no trono imponente, a perfeita imagem de um rei poderoso e relaxado em seu próprio território. As duas bestas continuavam a marchar em nossa direção enquanto a figura atrás dos dois se mantinha escondida sob um véu prateado, a cada passo mais perto sentia como se meu coração fosse pular pela boca. - Fique calma, qualquer um perto de mais vai ouvir seu coração pulsar desse jeito. - A voz de Théo soou uma última vez antes das criaturas alcançarem a base do palanque e se ajoelharem em frente a ele enquanto o saudavam de cabeças baixas.

- Senhor, viemos lhe apresentar o mais novo representante do submundo. - A voz do homem gárgula era gutural e bruta, como se as cordas vocais quase nunca fossem usadas.

- Tudo bem, apresentem seu escolhido. - Théo não podia parecer mais desinteressado.

O homem misterioso puxou o véu de seu próprio rosto deixando suas feições aparentes, ele era bonito e de aparência misteriosa, a pele amarelada parecia desbotada, seu rosto era forte e quadrado, seus fios loiros e levemente ondulados foram cortados à perfeição realçando seus olhos caramelo levemente puxados e uma cicatriz grossa, alta e rosada cruzava seu rosto com brutalidade indescritível começando em uma das têmporas, atravessando o lábio superior e acabando na bochecha do lado oposto, uma parte de mim se perguntou como aquela cicatriz fora adquirida e a outra sentia dor só de imaginar. Naquele momento todo o salão estava encarando o homem desconhecido e me senti desconfortável por estar atrás de Théo sob tantos olhares curiosos.

- Seja bem vindo ao festival de Yule senhor, desfrute da festa o quanto quiser. - Théo disse a ele enquanto se ajeitava no assento. - Ele assentiu, sorriu forçadamente e então dirigiu o olhar para mim, aquelas orbes caramelo me pareciam estranhamente familiares mas o rosto não me dava nenhum indício de onde eu o conhecia, Théo percebeu o olhar do homem sob mim e pegou minha mão, me tirando da escuridão e me guiando até seu lado onde a luz dos lustres me deixava a vista de todos. - Permita-me apresentar minha quarta no comando, Blayr Ahmed, filha adotiva da realeza bruxa e a provável princesa herdeira de metade das pessoas aqui presentes hoje. - A fala dele me assustou de todos os modos possíveis, não sabia se o que me chocava mais era ser nomeada como quarta no comando ou o fato dele já saber sobre o desejo de meu falecido pai em me tornar princesa herdeira. Tinham muitos olhares curiosos sobre nós querendo saber o que aquelas palavras significavam e eu não podia parecer vulnerável naquele momento então tentei só manter minha expressão neutra e serena mesmo que estivesse tão surpresa quanto eles.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora