Estúpida Endorfina

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Blayr/ 47

A volta para o quarto foi um pouco mais complicada do que eu imaginava, com as luzes de volta e os guardas já indo para suas formações anteriores era impossível vagar pelas sombras sem ser vista, alguns me observavam com olhares curiosos e outros só ignoravam minha presença enquanto eu andava até o quarto fingindo que nada tinha acontecido e com uma careta falsa de sono. Quando cheguei no meu corredor percebi que Lady Umbra tinha razão, dois homens altos estavam parados ali, um parecia mais novo que o outro, tinha olhos cinza e queixo quadrado, já o segundo tinha um nariz empinado e cabelo castanho, ambos tinham um anel de sinete dourado na mão esquerda com um símbolo estranho gravado nele, duas presas e uma gota de sangue no meio. Eles pareciam assassinos prontos para matar, assim que cheguei perto suas mãos foram para os cabos das espadas embainhadas na cintura e por um segundo fiquei realmente preocupada com o que Théo os instruiu a fazer se Katrina viesse atrás de mim e o quão extremos eles foram autorizados a agir.

- Juro que estou desarmada e não irei fazer mal nenhum a princesa. Que por coincidência sou eu mesma. - Falei alto enquanto levantava os braços e girava ironicamente em círculos.

- Desculpe-nos senhorita, o rei nos deu instruções claras para que não deixássemos ninguém passar por nós, então por favor volte para seu quarto. - O de olhos acinzentados falou sem nem mesmo me olhar diretamente e concertou a postura logo depois.

- Como eu posso voltar pro meu quarto se vocês não me deixam passar? - Perguntei revirando os olhos.

O de olhos cinzas deu uma olhada para o parceiro, que julgando por esse gesto provavelmente era quem estava no comando ali, quando não recebeu nenhuma outra ordem voltou a olhar para frente. -Não senhora, só sabemos que não devemos deixar ninguém passar para dentro desse corredor e para protegermos a prometida, custe o que custar.

- Eu sou a mulher de quem vocês devem proteger. Eu literalmente ando para cima e para baixo com o Théo, não é possível que vocês não saibam que eu sou a ela. - Eu já estava ficando irritada, o sono estava batendo e o fato deles nem olharem para minha cara estava me dando nos nervos. - Podiam olhar para mim pelo menos. - Esbravejei.

O de cabelos castanhos que até agora não tinha nem se mexido deu uma longa olhada para mim e então voltou o olhar para o vento. - Não se iguale a deusa prometida, você não está nem aos pés dela. Ela foi enviada pela deusa para nos salvar enquanto você, pelo que eu sei, é só o novo passa-tempo do rei.

Passa-tempo? Aquilo foi a porra da gota d'água, uma parte de mim queria armar um barraco e dar um jeito daquele cara ser punido, mas a outra só me mandou calar a boca e ir procurar Théo porque aquilo não fazia sentido. Por algum motivo desconhecido mas raro eu ouvi a voz sensata dentro de mim e mantive minha voz calma e baixa. - Onde é o quarto dele?

- Terceiro andar, ala central, mas tenho certeza que não vão te deixar nem passar das escadas. - Ele bufou como se eu fosse estúpida só por tentar chegar perto do rei deles.

- Isso nós vamos ver. - Saí batendo os pés até a escada principal, subi cada degrau de mármore polido com tanto ódio que jurei que se fizesse um pouco mais de força racharia o chão. Quando alcancei o último degrau vi cerca de seis guardas em pé flanqueando uma porta dupla de mogno escuro mas o que realmente me chamou atenção foi uma mulher de pele albina sentada em um banco perto dalí, balançando os pés para cima e para baixo enquanto puxava o elástico que prendia seu cabelo rosa em um rabo de cavalo curto.

- Senhora, não pode subir aqui, é a ala reservada a família real. - Um garoto jovem de pele e magrelo me parou no terceiro passo após a escada.

- Preciso falar com seu rei. - Balbuciei reunindo o resto de paciência que eu tinha, eu não despejaria minha raiva em um garoto indefeso que parecia ser só uns anos mais velho que eu, eu precisava me acalmar, mesmo tendo completa certeza que o culpado daquilo tudo estava do outro lado daquela porta dormindo feito um bebê.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora