A última filha de Lilith

Uma nova aliada

Blayr / 64

Naquela hora meu coração gelou, ter Vivian aqui não significava só que um dos meus segredos fora descoberto como também que muitas outras pessoas poderiam saber dele, ela nunca manteria segredo por mim, muito pelo contrário, tinha certeza que ela contaria sobre esse lugar para cada alma viva desse castelo assim que colocasse os pés para fora daqui. Isso realmente era um problema mas não era a única coisa para se preocupar agora, não fazia ideia de quanto ela ouviu, a ruiva sempre foi muito esperta e não levaria muito para começar a se perguntar o por que estou curiosa sobre o submundo, não daria nem dois dias para que ela sacasse que vou fugir de Izalins. - O que é esse lugar? Parece velho. - Ela perguntou sem muito ânimo enquanto andava pela sala e bisbihotava os livros da estante.

- Se não sabe por que me seguiu até aqui? - Perguntei sem nenhuma delicadeza, não tinha motivo para tentar ser cordeal.

- Não é todo dia que vejo alguém entrar numa parede, fiquei curiosa! - Uma parede? Mas que história era essa? Era possível que só eu visse a porta espiralada? Isso pelo menos explicaria o porque ninguém nunca desconfiava da clara diferença entre ela e as demais portas do castelo. - Com quem estava falando? - Ela emendou.

Antes que eu pudesse responder a silhueta esbranquiçada e embaçada de Lady Umbra emergiu de dentro das paredes e parou entre mim e a ruiva. - O que faz aqui?

- O que é isso Blayr? Um tipo de assombração? - Era quase como uma mas Vivian não precisava saber disso.

- Chega de brincadeiras Vivian, se vai contar a todos vá em frente, não precisa continuar aqui. - Minha voz era dura mas por dentro estava realmente com medo de Vivian sair por aquela porta e fazer exatamente o que eu a mandei fazer.

- E o que eu ganharia com isso? Estou mais interessada em saber o que esse lugar pode oferecer.

- Então vai manter segredo? - Era quase inacreditável mas não impossível, eu tinha subestimado a ganância de Vivian achando que ela contaria de cara.

- Não sei, por que vem aqui? - Não responder nada só instigaria a curiosidade de Vivian a fazendo ir mais fundo nessa história, infelizmente era mais seguro contar a ela que era só pela magia, afinal se ela contasse aos outros em algum momento ficaria mais fácil me safar dos esporros de Cris e Théo.

- Venho porque ela me ajuda a controlar meus poderes. - Disse apontando para a sulhueta ainda entre nós. Por algum motivo estranho Vivian parecia ter um brilho estranho nos olhos agora, um brilho que me assustava e aliava ao mesmo tempo.

- Quero fazer um trato. - Ela disse depois de um longo tempo em silêncio, tão eufórica e sorridente que parecia possuída.

- Que tipo de trato? Não sei se posso confiar em você! - Admiti.

- Tenho...coisas que precisam ser controladas e você têm uma professora, quero oferecer meu silêncio se me deixar treinar com você. A respeito da confiança sinto informar que você não têm muita opção, nos tornar aliadas é a opção mais inteligente para as duas. - Aliadas, para falar a verdade nunca imaginei Vivian assim mas ela realmente tinha razão, por mais que eu blefasse fingindo não me importar com ela contando sobre o escritório abandonado seu silêncio era o mais vantajoso para mim, quanto mais gente soubesse sobre meus treinos de magia mais difícil seria sair daqui sem parecer uma vilã infiltrada.

- Por mim tudo bem, mas não é a mim que têm que convencer, não sou eu quem vai te ajudar.

- Eu ajudo, se manter sua promessa! - Quase que no mesmo segundo Lady Umbra respondeu, sua voz carregada de desconfiança e ódio reprimido.

- Que bom que fizeram a escolha certa, agora eu preciso ir, não posso me dar ao luxo de passar a noite aqui. Nos vemos amanhã! - Com o vestido brilhante girando Vivian foi embora e no mesmo segundo que ela botou os pés para fora eu percebi o quão arriscado aquilo tudo era, não havia nenhuma garantia de que ela manteria segredo, minha única saída era tentar confiar nela, mesmo contra minha própria vontade, em menos de um mês eu iria embora e nada mais importaria, mesmo que ela contasse não faria mais diferença, no fundo eu já sabia que assim que eu fosse embora da cidade os boatos começariam a rolar e todos imaginariam o pior de mim, me ver como a filha do inferno que subiu a terra para corromper um rei era muito mais fácil do que a garota odiada que foi embora para o manter seguro. - O que vamos fazer agora?

- Fique de olho nela, não a acho confiável mas ela pode ser útil.

- Tudo bem. - Murmurei em resposta, a última coisa que eu queria agora era ter mais algo para me preocupar mas ultimamente o universo parecia conspirar para tornar a minha o mais complicada possível.

- O que estava falando antes dela aparecer? - A voz perguntou docemente, uma mudança repentina comparada ao tom de voz seco que ela usava antes.

- Nada muito importante agora, tenho que ir atrás de Vivian agora. - Era exatamente o que eu faria, nada me garantia que continuar aqui hoje seria seguro. Por mais que ficar horas em pé olhando pessoas dançarem e beberem não fosse originalmente o que eu queria agora eu precisava comparecer ao festival, só assim eu acompanharia cada passo da ruiva e me manteria acima de qualquer suspeita.

Com cuidado eu saí do escritório e voltei ao meu quarto, Anía havia deixado os vestidos das noites anteriores estendidos no fundo do armário e por mais que eu soubesse que Théo ficaria um fera quando me visse com um vestido repetido eu não tinha uma opção melhor, não podia me dar ao luxo de pensar nele, puxei o preto com cuidado e por um milagre consegui vesti-lo sozinha, no fim meus braços doíam e eu sentia que tinha lutado com três homens mas havia valido a pena, escovei o cabelo para abaixar os fios embolados e dei o meu melhor fazendo um delineado simples antes de calçar os saltos e descer os degraus como um furacão.

Observando de esguelha pela fenda da porta comecei a procurar os cabelos de fogo de Vivian mas por mais que eu a procurasse incessantemente tudo que eu podia ver daquele lugar era uma imagem completamente habitual, o salão estava lotado como sempre, bêbados corajosos davam em cima de mulheres bonitas na esperança de conseguir convencê-las de que eram o cara ideal, crianças corriam envolta das mesas sem parar, Cris ouvia com atenção as palavras de um senhor barrigudinho que gesticulava loucamente com as mãos e até Anne e Anía podiam ser vistas sentadas em um canto do lugar esperando o álcool servido fazer efeito e as pessoas começarem a soltar seus mais preciosos segredos dentro de seus ouvidos tuberculosos.

- O que está fazendo aqui? Precisa descansar! - Uma voz doce e mentolada soou do outro lado da porta, não fazia ideia de como Théo conseguiu descobrir que eu estava aqui mas tenho que admitir que foi um gesto impressionante.

- Eu estou bem, como sabia que eu estava espiando daqui? - Perguntei sem conseguir segurar minha curiosidade.

- Observo essas festas a tantos anos que já consigo detectar no ar quando algo de diferente está acontecendo. - Minha resposta foi um murmuro em concordância antes da porta ser aberta e ele vir até mim. - Agora é sério, não precisa estar aqui.

- Sei disso, vim porque quis, ficar dentro daquele quarto sozinha é entediante. - Em partes era verdade, ficar lá realmente era chato mas não tinha passado por isso hoje. - Sabe onde está Vivian? Não consegui acha-la.

- Também não a vejo a algum tempo, o que quer com ela?

- Nada, queria agradecer por ter me ajudado tanto hoje. - Rebati e o silêncio entorpeceu o ar.

- Lexie perguntou de você, ela parecia estar com saudade. - Lexie, em meio a tanta coisa quase acabei esquecendo das minhas desconfianças sobre ela, ela aparecia e sumia do nada, seu passado era no mínimo curioso e seu filho era uma incógnita que eu não conseguia resolver nem usando todos os neurônios do meu cérebro.

- Ela ainda está aqui? - Perguntei decidida a tirar essa história a limpo o quanto antes.

- Acho que sim, aqui ninguém vai embora antes da meia noite. - Respondeu Théo de um jeito brincalhão que se dissipou depois de poucos segundos. - O que houve? Você parece preocupada.

- Não aconteceu nada, só lembrei de algo que já deveria ter feito. - Respondi rapidamente e antes que ele pensasse mais sobre isso passei pela porta atrás dele indo em direção ao salão.