Idiota convencido e irritante.

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Blayr/ 37

Cheguei no quarto ofegante e cansada, não por ter andado mas sim pelo completo estágio de estresse que eu estava, minha mente girava a mil por hora me lembrando de tudo, de todos os meus erros e remorsos. "Eu poderia ter evitado a morte do meu pai" era a coisa que mais me aterrorizava, eu só tinha levado problema para a minha família, desde que eu fui deixada lá virei a vida deles de cabeça para baixo, afastei minha mãe, tirei minha família toda do seu próprio povo e tinha deixado eles para morrerem em Malaz. Tudo aquilo foi culpa minha, cada morte, cada desavença, cada dia de tristeza, foram todos culpa minha.

" só uma garota mimada que vai ganhar o trono de bandeja" foi o que a menina da cafeteria disse, e ela tinha razão, eu nem sequer merecia ser rainha, não fiz nada para merece-la além de levar o caos para todos perto de mim, eu sou como uma bomba nuclear, machucando todos que estão perto de mim, onde quer que eu esteja, o caos sempre vai me seguir e aterrorizar quem estiver ao meu redor.

Percebi que eu me olhava no espelho, o quarto envolta totalmente negro e eu no meio, sozinha e com medo de mim mesma, medo do meu futuro, medo de tomar decisões e de falhar nelas, e principalmente, de não ser boa o suficiente. Eu não seria uma boa rainha, nem sequer sei direito fazer isso, obviamente aprendi tudo na teoria, mas na prática... nunca nem sequer falei com o meu povo, povo esse que nem é meu de verdade, eu não sou de Izalins, muito menos de Malaz e nunca me senti em casa em Los Angeles, pelo visto eu não tinha saída, sempre me sentiria deslocada em qualquer lugar, uma pessoa sem lar.

Sentei na cama e tentei respirar, devagar e calmamente, buscando dentro de mim mesma a paz que eu precisava, quando não a achei decidi que dormir seria uma boa alternativa. Era isso ou começar a quebrar os enfeites do quarto até minha raiva dissipar, mas não funcionou, me debatia na cama, mudava de posição a cada dois segundos como uma louca em uma maca de hospital, levantei e troquei de roupa, coloquei as calças e casacos mais quentes e informais que eu tinha e saí do quarto, o corredor estava vazio e a casa silenciosa, desci as escadas de fininho e fui andando na ponta do pé em direção a cozinha.

- Você sabe que eu tô te vendo, né? - A voz de Théo soou da sala, me xinguei mentalmente e arrumei minha postura ainda de costas.

- Não tem nada melhor para fazer além de ficar me importunando? - Disse com ar debochado e o olhei, estava sentado de pernas abertas no sofá em frente a lareira, com um copo de whisky na mão e a camisa aberta, e puta merda que cara gostoso da porra, ele todo parecia ter sido esculpido por um deus da luxúria com a única intenção de me deixar maluca. Mantive minha cara neutra e meus olhos em seu rosto,não deixaria ele perceber que fiquei mexida com a visão.

- Não pode fingir me odiar enquanto me olha desse jeito. - Disse enquanto balançava a bebida e dava um gole no líquido amarelado.

- Não estou te olhando de jeito nenhum, inclusive nem queria estar te olhando, idiota, convencido e irritante - Cruzei os braços e olhei para o outro lado da sala. Vi de soslaio ele vindo na minha direção mas ignorei até sentir ele se aproximando do meu pescoço enquanto suavemente afastava meu cabelo. Eu gelei, fiquei imóvel, cada entranha minha queria o toque dele mas me obriguei a não exteriorizar isso, não admitiria a ele que eu o queria também.

- Já me xingou de coisas bem mais interessantes, Blayr. Parece que está perdendo o jeito. - Me mantive imóvel mesmo com seu hálito de menta e álcool fezendo cócegas na pele sensível do meu pescoço e sua voz sensual aquecendo cada gota de sangue dentro de mim. Seu rosto estava a milímetros do mim e aquilo era tentador demais, mesmo contra a minha vontade estiquei um pouco o pescoço dando-lhe total acesso a ele, senti ele reverberar em uma risada contida e recebi um um leve beijo ali, depois disso ele se afastou.

- Esperava que resistisse mais, monstrinho. - Ele falou rindo e subiu as escadas, com a porra de um sorriso ladino irritante, e eu... fiquei ali, feito uma idiota condenando a mim mesma por ter aberto tanto a guarda, mas me odiei mais ainda quando fui obrigada a sentar no sofá porque vi que minhas pernas tremiam, completamente incapazes de me sustentar.

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Fiquei sentada ali, completamente irritada por horas, minha vontade era ir atrás dele e xingar até os netos dele mas depois obrigá-lo a acabar o que começou comigo, mas me ative a ficar naquele sofá, só xingando de longe.

Já eram lá para as sete da noite quando a porta principal se abriu e Cris passou por ela, o rosto cansado e os olhos vazios, mas assim que me viu ele sorriu, veio até mim no sofá e deitou no meu colo com os longos fios negros cobrindo toda a almofada e os olhos fechados e relaxados.

- Ficou lá até bem depois de eu sair, né? - falei baixinho e ele assentiu preguiçosamente.

- Aquela garota é tão irritante, acredita que ela queria uma indenização pela queimadura? - Falou ele enquanto ria de tão absurdo que aquilo era.

- Fez queimadura? - Perguntei chocada.

- Que nada, só ficou vermelho na hora, depois a pele voltou ao normal.

- Ela sabe que eu ser rainha dela, né? Até se eu realmente tivesse queimado ela, ela não poderia fazer nada.

- Sim. - Ele esbravejou rindo. - Eu falei isso pra ela e ela quase pulou no meu pescoço. - Silêncio se instalou e eu perguntei.

- Se tava tudo bem, por que demorou tanto?

Ele respirou fundo e me olhou meio triste. - Muita gente ficou falando de você lá, tortuguita. Quase criaram um motim contra você, - Congelei, mas ele voltou a falar. - eu tive que contar pra eles o motivo real de você estar tão "impulsiva", o que não é o melhor dos adjetivos para se ter numa rainha. - Ele fez aspas com o dedo e levantou do meu colo, ficando sentado do meu lado.

- Eles estão com pena de mim, não é? - Perguntei e ele de novo assentiu. - A pobre garota com o pai morto e mãe desaparecida. - Ironizei a situação.

- Precisa mostrar que é mais do que eles veem, mostrar que pode ser uma rainha boa e poderosa, até mais q seu pai.

- Pra isso eu vou ter q treinar meus poderes que nem louca, até porque eu não posso adiar essa coroação por muito tempo. - Admiti.

- O meu irmão sabe?

-Não, ele sabe que eu fui treinada pra ser rainha, porque eu faço os deveres de uma no castelo, mas não sei se ele já parou para pensar que eu uma hora ou outra eu vou ter que assumir o controle do povo do meu pai, mesmo que aqui. - Falei enquanto mexia nas mãos.

- A cidade tá superpopulada, e eu acho que ele entenderia que os bruxos não veem ele como rei, mesmo estando no território de outro povo, eles precisam de um representante deles. - Explicou Cris. - Devia falar para ele logo.

- Eu vou, amanhã provavelmente, é mais fácil se eu mesma contar, até porque com ele sabendo ele pode me ajudar nisso tudo.

Meu amigo assentiu e foi até a escada. - Vou dormir, tá. Boa noite tortuguita.

- Boa noite. - Falei rindo e ele sumiu pelas escadas.

A última filha de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora