I.

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Eu me lembro de exatamente tudo naquele dia.

Era dia 18 de Fevereiro, quinta-feira. Uma manhã ensolarada e ótima para a partida de quadribol que aconteceria: Sonserina contra Grifinória. O time da grifinória já estava todo pronto, cada um com sua vassoura e uniformes, prontíssimos para começar a partida, determinados a ganhar.

- A partida começa em 15 minutos, todos estão prontos? - Perguntei em voz alta, à frente de todos no vestiário da grifinória. Eu era o capitão do time desde que Oliver Wood havia terminado a escola.

Passados os quinze minutos, todos nós entramos em campo, assim como os jogadores do time da casa rival. Se posicionaram em seus devidos lugares e eu fui a frente apertar a mão do capitão do outro time. Depois montei minha vassoura dando um impulso com meus pés ao ouvir o som do apito feito por Madame Hooch.

Me lembro de que estava relativamente preocupado com Ritchie, o novo batedor, ele parecia ainda mais nervoso que Ron. O que eu achava que era impossível.

Bom, e eu tinha razão em relação à preocupação.

- Lá vai Blaise Zabini levando a goles. - A voz sonhadora e serena dizia. Me era um tanto familiar aquela voz... Luna Lovegood estava narrando o jogo. - Ah, olhem ele perdeu a posse, Ginny Weasley a tomou, gosto dela, é muito boa... - Continuou.

Eu seguia voando pelo campo, procurando a tal bolinha brilhante voadora, percorrendo com meus olhos toda a minha volta, assim como Draco Malfoy - apanhador da sonserina -. Tentei ignorar a voz de Luna, para que não atrapalhasse minha concentração, ao avistar um brilho no meio do campo. Eu iria ganhar.

Lá estava o famoso pomo de ouro quase tocando o chão do campo, mergulhei no ar e acelerei o máximo que pude. Ao mesmo tempo que eu ia em direção a pequena bola dourada, que até o momento eu não fazia ideia da cor, o loiro fazia o mesmo. Estávamos frente à frente, estendi minha mão e...

"Oh, Ritchie, da grifinória, bateu na goles com seu bastão, acho que se confundiu com um balaço." Foi a última coisa que ouvi antes de sentir uma forte pancada em minha nuca, me fazendo parar a vassoura por impulso. E, como diz a lei da inércia, meu corpo foi parar na ponta da vassoura, enquanto Malfoy não havia parado sua vassoura. E então nós colidimos.

De alguma forma, nossas bocas e narizes se chocaram e eu jurei que eu teria perdido meus dentes pelo impacto. Meu rosto todo doía muito, o gosto metálico de sangue na minha boca só fazia eu ter mais certeza de que tinha perdido algum dente. Como se tudo isso não fosse suficiente, eu perdi o equilíbrio e caí da vassoura, e bati as costas sobre a areia. Por conta da dor, rapidamente cobri meu rosto com as duas mãos, e assim eu permaneci.

Em algum outro mundo, poderia ser só isso: dois jogadores de times rivais acabam em um acidente no jogo, algo normal que aconteceria em qualquer partida. Mas nesse mundo, não era só isso.

De olhos fechados eu ouvi os gritos infelizes da torcida manchada de vermelho e dourado e a celebração verde e prata da sonserina.

Vermelho e dourado e verde e prata?

As cores.

Quando olhei para cima, Draco segurava a bolinha entre os dedos. Deveria estar sorrindo, mas não estava. Em vez disso, a expressão no seu rosto era assustada e ele olhava envolta parecendo ter visto a pior das criaturas já vistas. Estava totalmente paralisado.

Não, não, não, não.

Eu perdi o ar, não podia ser.

Sua expressão entregava tudo, ele também via as cores.

Não era para ser assim, não era para ser com ele. Eu deveria estar feliz, porque consegui o que pouquíssimos bruxos conseguiram, mas Malfoy não poderia ser minha alma gêmea, almas gêmeas deveriam se amar, não é? Nós nos odiávamos! Eu limpei a sujeira nas minhas roupas e me levantei correndo desesperadamente para o vestiário, me trancando lá dentro.

Eu fiquei ali com as costas coladas na porta trancada por minutos, apenas processando o que havia acontecido. É claro que eu sabia que Ginny - minha namorada atual na época - não era a minha tal alma gêmea, mas eu nem acreditava nessa coisa de ver cores quando beijasse o seu verdadeiro amor, até então.
No momento em que eu me sentei no chão completamente sujo do vestiário, sem conseguir respirar, com os pensamentos bagunçados e tremendo, eu ouvi uma voz familiar me chamando por trás da porta.

- Cara? Você bem? - Era Ron.

- Ah, claro, eu só... - Disse me levantando e abrindo a porta, forçando um sorriso nos meus lábios. - vim ver se não tinha quebrado o nariz ou perdido um dente. - Forcei um riso, saindo dali.

Eu não iria contar, é claro.

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora