Senti que alguém estava me observando e, assim que abri os olhos, tive certeza. As orbes de Draco se vidravam em mim e um sorriso acompanhava seu rosto pontudo. Era uma visão que eu nunca havia imaginado ter, mas eu gostaria de te-la todos os dias.
Meu rosto me traiu, repuxando os cantos da minha boca em um sorriso preguiçoso enquanto eu observava os detalhes do seu rosto. Não entendi como alguém poderia acabar de acordar e parecer mais bonito ainda.
— Você fala dormindo, sabia? — Ele comentou, quebrando o silêncio que até então eu não tinha percebido.
— Não falo, não! — Me defendi. — E você ronca muito alto, eu quase não consegui dormir.
Era mentira.
— Engraçado, você dormiu como uma pedra e agora diz isso.
E eu fiquei em silêncio, porque não tinha como me defender. Draco me encarou por alguns segundos e riu, me fazendo revirar os olhos.
— Imagino que não queira que os outros te vejam aqui, então você pode esperar até que estejam todos fora.
Eu fiz menção em balançar a cabeça em concordância, mas um pensamento atrapalhou que eu continuasse o que fazia. Não existia nada que pudessem fazer contra nós dois, então por que ficar se escondendo?
O olhar de Draco de quem esperava por uma resposta se transformou em completa dúvida. Ele me encarava com confusão quando empunhei minha varinha e murmurei contra-feitiços, que desfaziam os que ele estava usando para evitar que qualquer um de seus colegas de quarto nos vissem ali.
— Tem certeza? — Ele sussurrou, entendendo o que eu queria.
Concordei com a cabeça.
Ele me lançou um último olhar e puxou as cortinas sem cor em volta de sua cama.
— Achei que estivesse hibernando, Draco... — A voz de Blaise foi diminuindo conforme olhava para mim, até que sumisse completamente. O moreno pigarreou. — Eu vou... Hã... Nos encontre no... Salão Principal.
Ele não fez perguntas, só se virou e saiu. Percebi que ele não era o único que olhava para nós dois, mas Nott, Flinch e Montague também. Assim como Blaise, não se atreveram a abrir a boca, só saíram.
Só percebi que estava prendendo minha respiração quando meu olhar parou sobre uma expressão indecifrável no rosto de Malfoy. Como os sonserinos, nós não trocamos uma única palavra.
***
Compareci ao Salão Principal sem usar gravata ou capa. Só tive a opção de vestir as com emblema de serpente ou não usar nenhuma, e eu nem sabia se era permitido usar o uniforme de outra casa que não seja a sua.
De qualquer forma, eu não feriria minha dignidade a ponto de usar algo da sonserina.
Como já pudesse imaginar, assim que o primeiro par de olhos focou em mim e em Draco, um milhão deles rapidamente fizeram o mesmo e burburinhos começarm. Sonserinos fofoqueiros.
Suspirei para que não perdesse o controle e, tentando não mostrar o desespero que crescia em meu interior, sorri para o loiro da forma mais tranquilizadora que consegui fingir, assumindo o caminho da mesa da grifinória.
— Como foi ontem? — Ron perguntou, tão animado que me pareceu estranho.
— Bom dia, Ron! — Respondi, com deboche.
Notei que Hermione não abaixou o jornal que segurava em frente ao rosto, mas decidi não dizer nada direcionado a ela. Em vez disso, contei tudo o que aconteceu na noite anterior, para Ron.
— Com você falando desse jeito, ele nem parece ser tão chato. — O ruivo comentou, inocentemente. — Se bem que...
— Leiam o jornal. — Hermione cortou suas palavras, de repente.
Sem entender, pedi emprestado o jornal repousado de um grifano ao meu lado. Li cada palavra da primeira página e não consegui achar nada interessante, então olhei para a Hermione em busca de qualquer explicação.
— Continua. — Ela sugeriu, fazendo um gesto com a mão.
E eu continuei, lendo por cima até meus olhos pararem sobre palavras-chave suspeitas.
Minha expressão ficou supresa ao longo do que meus olhos passeavam sobre as palavras impressas, acompanhadas de algumas imagens que se moviam. Não me pronunciei até que chegasse até o final da manchete, nem quando abaixei o papel tentando processar.
— Você acha que...
— Tenho certeza. — Ela confirmou, num tom de voz muito firme.
Os muitos parágrafos explicavam as mesma coisas do último jornal, as que achei desinteressantes.
Foi identificado o motivo para o tal divórcio em massa. O Ministério da Magia solicitou que todos aqueles que se divorciaram recentemente, fossem até o St. Mungo's realizar um determinado teste. Resultados constataram que pelo menos uma pessoa de cada casal tinha uma substância incomuns em sua saliva. Substância essa que, coincidentemente — ou não —, também está presente no líquido que foi vendido, e confiscado, na travessa do tranco.
[...]
Todas as vítimas relatam que haviam encontrado suas almas gêmeas fora do casamento anterior, o que seria comum. Porém, o fato de que alguns dos que já possuíam a sua cara metade alegaram ter uma segunda, não é tão comum assim. O líquido precisa ser misturado a alguma amostra de DNA de duas pessoas, quando isso é feito, ambas alucinam sobre possíveis cores, tendo a impressão de que são almas gêmeas. Em todos os casos até agora, a substância foi misturada à saliva durante um beijo.
[...]
Após estudos sobre o conteúdo, bruxos cientistas contam que o efeito não pode durar mais do que duas semanas se não manter o uso constante. Seu efeito colateral é de alucinações e, para quem já encontrou sua alma gêmea, a falta de cores e a perda das vantagens — o universo dar aquela 'ajudazinha'.
Ainda não foram encontrados antídotos.
P.S.: Se você se encaixar nos acontecimentos anteriores, se dirija ao St. Mungo's para um teste.
Furioso, eu me levantei da mesa, ouvindo Hermione e Ron me chamarem, fazendo questão de ignora-los.
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Almas Coloridas | DRARRY - HIATUS
FanfictionHarry Potter sempre acreditou que a história para justificar o motivo da maioria dos bruxos não enxergarem mais do que quatro cores, não passasse de uma lenda. Já acostumado com a vitória em quase todos os jogos de quadribol, não esperava nada dife...