V.

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No dia seguinte, eu acordei tarde novamente. Minha cabeça estava cheia de perguntas sem respostas que me mantiveram acordado durante toda a noite, só consegui fechar os olhos quando o sol estava nascendo. Em consequência disso, eu acordei quando todos já estavam fora de suas camas.

Tive sorte que fosse domingo, do contrário, teria perdido as três primeiras aulas. Como todos já estavam acordados há tempos, fui para o Salão Principal sozinho.

Quando cheguei lá, não havia muitas pessoas, apenas os professores e poucos alunos. Também não tive muito apetite, comi metade de uma maçã e nada além disso. Abandonando a mesa, fiz o caminho de volta para a comunal grifana.

- Sopa da coroação - Disse à Mulher Gorda e passei pelo retrato.

Avistei Ron e Lilá sentados no sofá no centro do comunal. Eles conversavam e Lilá segurava um livro com capa fofa nas mãos. Estreitei os olhos e pude ler o título: Arnvid Burke: Suas Lendas.

Arnvid Burke. Parecia extremamente familiar, senti vontade de me aproximar para saber sobre o livro.

- Olha se não é o maior dorminhoco de Hogwarts! - Ron se levantou e veio me cumprimentar com um abraço.

- Não dormi muito bem essa noite. - Me justifiquei, enquanto tomava o sofá de frente para os dois. - Que livro é esse?

Decidi ir direto ao ponto. Ela sorriu com a minha pergunta e entregou o livro nas minhas mãos. Sua capa era predominantemente amarela, com detalhes em cinza, o título sendo exatamente o que li anteriormente.

- É sobre Arnvid e sua amada! - Começou explicando. - É bem detalhado, sabe? Conta sobre coisas que podem acontecer quando você beija sua alma gêmea.

As últimas duas palavras me atingiram de uma forma que eu não esperava. Pude sentir uma pontada no peito, como quando se leva um susto, mas não era isso o que sentia, era alguma espécie de medo. A sensação de pontada foi acompanhada por um pequeno frio na barriga. Então por isso era um nome familiar.

- É mesmo? - Fingi demonstrar interesse, não queria saber do resto. Entreguei o livro de volta.

- Sim! - Lilá parecia animada. - Mas eu não acredito nisso, leio porque acho os contos interessantes. Tem uma parte que diz que quando você finalmente beija sua alma gêmea, você perde completamente o interesse romântico por qualquer outra pessoa. Um absurdo, não é? Não vejo como alguém poderia acreditar nisso.

- Ah, é! Um absurdo. - A essa altura, eu não prestava mais atenção em suas palavras. Elas se perdiam antes mesmo de chegar aos meus ouvidos.

Ron e Lilá voltaram a conversar entre si, mas eu não prestei atenção, mergulhei na minha imensidão de pensamentos como sempre. Agora as coisas pareciam fazer sentido, era a peça que faltava para completar meu quebra cabeça.

Eu me sentia pior ainda. Era por isso que não queria beijar Ginny, eu simplesmente não tinha mais interesse pela minha namorada? Não poderia deixar que as coisas ficassem assim, eu me deixaria ser reconquistado por ela!

Me tirando dos meus pensamentos, Ronald e Lilá começaram a se beijar daquela forma estranha. Era desconfortável ficar ali, então subi para o dormitório do sétimo andar de novo.

Dividia ele com Ron, Seamus e Neville desde sempre, mas nenhum deles estava ali naquele momento. Os três "namoravam", então estavam sempre ocupados com seu parceiro. Ron com Lilá, Seamus com Dean e Neville com Hannah. Fiquei feliz por isso, mesmo que não entendesse o que eles tanto faziam por Hogwarts, eu tinha o quarto inteiro para mim.

***

Decidi terminar alguns trabalhos que ainda não tinha feito e a data de entrega se aproximava, aproveitando também para adiantar alguns.

Embora eu estivesse ocupado com as lições, meus pensamentos sempre me levavam para aquele livro de Lilá. Então eu só tinha uma opção: procurar aquele livro na biblioteca. Se esse era o preço que precisava pagar para acalmar minha cabeça, eu iria atrás dele.

Olhei o relógio próximo da minha cama, percebendo que a biblioteca ainda não havia fechado. Aliviado, andei em passos rápidos até o lado de fora da comunal, e segui o caminho para a biblioteca.

Andei por entre as prateleiras, procurando uma seção que fosse compatível com o que o livro tratava. No instante em que pensei em pedir ajuda da bibliotecária, bati os olhos em uma lombada de livro amarela. Me aproximei e retirei o livro da estante.

- Por Merlin, achei que nunca ia encontrar. - Falei para mim mesmo.

Depois de passar pela bibliotecária, voltei para a comunal, a encontrando vazia. Por conta disso, decidi ficar por ali mesmo. Me sentei em uma das mesinhas do canto, abri o livro e comecei a ler sobre o conto.

A primeira parte era a que todo mundo conhece, sobre a maldição e o motivo dela. Logo em seguida, coisas que poderiam acontecer a partir do momento em que beijasse sua tal alma gêmea:

• PERCA DE INTERESSE: é normal que pare de se sentir atraído por quem te atraía antes. A partir do momento em que se tem interesse por alguém que não é sua alma gêmea, esse sentimento se dissipa completamente quando beijar a pessoa certa;
• NECESSIDADE DE APROXIMAÇÃO: você pode começar a notar que, querendo ou não, vocês vão sempre acabar se encontrando, sempre sendo atraídos até o outro como um imã. Quando isso não parte da dupla, o universo conspira para que isso aconteça "sem querer";
• CONFORTO INEXPLICÁVEL: tudo aquilo que vier de sua alma gêmea, naturalmente te trará conforto. Sendo sua simples presença, cheiro, toque, voz e, principalmente, o beijo. Esse conforto pode ocasionar no tópico anterior, causando essa necessidade de se encontrarem;
• CAPACIDADE DE ENXERGAR CORES: é o que mais se deseja de tudo isso. No momento em que seus lábios tocarem o de sua alma gêmea, desenvolverá automaticamente a capacidade de ver claramente todas as cores. PS.: quando sua alma gêmea morre, se perde esse privilégio.
[...]

Assim que me dei conta de que os primeiros quatro tópicos se encaixavam perfeitamente em minha situação, fechei o livro. Já era o suficiente para responder parte do que me incomodava.

Suspirei audivelmente e apoiei meu rosto entre as mãos. Eu ia dar um jeito nisso, eu sempre dava, não é?

Desatento, me levantei da cadeira em que me sentava, antes de sentir meu joelho bater contra a mesinha e um vaso de flores sobre ela, se espatifar no chão.

Murmurei um palavrão antes de empunhar minha varinha e aponta-lá rapidamente para os restos do vaso, me assegurando de que ninguém pudesse chegar ali e ver a sujeira.

- Reparo!

O feitiço deveria consertar o vaso, mas fez exatamente o contrário. Destruiu mais ainda o que já estava destruído. Seria possível que eu tivesse dito reducto ao invés de reparo?

Olhei, confuso, para a varinha que parecia não se encaixar na minha mão de um jeito confortável, como acontecia desde que a havia comprado quando tinha onze anos.

Droga.

Droga, droga, DROGA.

O que mais daria errado daqui para frente? Pensei, enquanto encarava a varinha de Malfoy em minha mão.

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora