IV.

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Eu sonhei com Malfoy naquela noite.

Estava acontecendo uma festa igual a que aconteceu naquele dia na comunal. Ginny me beijou daquele jeito e eu não retribui. Ela ficou mais brava do que ficou fora do sonho, gritou comigo e falou no meio da comunal toda que eu estava traindo ela com o Malfoy. Todos riam e usavam os piores xingamentos possíveis que diziam respeito à minha sexualidade, ou o que eles impuseram que era a minha sexualidade.

Eu me desesperei e saí correndo para o meu dormitório, mas sem que eu visse, Malfoy apareceu e me deu um beijo como o de Ginny, mas, dessa vez, eu o beijei de volta. Diferente de como fiz com a minha namorada. No mesmo instante, ouvi ela chorar e gritar. Quando vi, todos estavam no meu dormitório e ela apontava para mim e o loiro que tinha acabado de beijar.

O choro dela era ensurdecedor e, junto dele, os xingamentos e sussurros me enlouqueciam. Mas eu me lembro que queria muito beijar Malfoy e, quando eu me virei para ele, para que pudessemos sair de lá, ele estava na multidão rindo de mim.

Ele veio até mim e sussurrou os mesmos xingamentos que todos gritavam. Mas ninguém julgava ele como me julgavam. Ouvir ele dizer aquelas coisas foi dez vezes pior do que ouvir os outros. Então eu chorei mais alto do que Ginny chorava.

Quando eu acordei, estava chorando e já era de manhã. Eu me sentei na cama, limpei minhas lágrimas e fiquei imóvel enquanto pensava sobre o sonho que havia tido. Quando é que tudo aquilo iria parar?

- Harry! Você se esqu... - Ron apareceu, atrapalhando meus pensamentos. Ele não terminou sua frase quando me viu, em vez disso, começou outra: - Você bem, cara?

Eu tinha a impressão de que tinha ouvido essas três palavras mais vezes em dois dias, do que em dezesseis anos.

- Estou, eu tive um pesadelo. - A primeira parte da resposta poderia ser mentira, mas a segunda não.

Quando olhei para Ronald, pude entender por conta própria o motivo de ele aparecer ali. Estava vestido com seu uniforme de quadribol e, em sua mão, carregava sua Cleansweep 11 que havia ganhado junto com o título de monitor.

Esqueci do treino de quadribol.

- Ai, merda! - Exclamei e me levantei da cama em um salto.

***

Montado em minha vassoura, bati palmas para parabenizar os artilheiros e batedores, que haviam saído excepcionalmente bem. Ginny era uma das artilheiras, ela estava visivelmente chateada comigo, falava o mínimo possível durante todo o treino, mesmo quando eu tentava falar com ela.

- Só tente não acertar a goles, Ritchie! - Demelza, uma das artilheiras, brincou e todos riram.

Eu não. Seria possível que uma única coisa não me fizesse pensar sobre o desastre com Malfoy? Senti vontade de gritar de novo, mas ao invés disso, tentei me ocupar e fazer o meu papel de capitão, já que não poderíamos ser derrotados em mais um jogo.

Prossegui com o treino, explicando estratégias para cada grupo de cada posição. Comentei sobre algumas fraquezas do próximo time que seríamos adversários, passei alguns exercícios e avaliei como cada um se saía, uma vez ou outra corrigindo algumas coisas que achava necessário.

Ao mesmo tempo que dava uma explicação para Ronald, podia ouvir um grupo de vozes ir se aproximando aos poucos, mas ignorei. Continuei dizendo como os reflexos dele estavam ótimos, e como precisava ter mais confiança, até que fui interrompido por um assobio muito alto.

Era Vance Urquhart, capitão da sonserina.

- Ei! Reservamos o campo nesse horário. - Ele falou alto, de forma que eu conseguisse ouvir de onde estava.

Maldito dia em que eu fui dormir um pouco demais. Gritei de volta:

- Podemos dividir o campo? Estou quase acabando, eu acabei me atrasando um pouco. - Tentei falar de forma educada, esperando que isso aumentasse as chances do garoto aceitar.

Do alto, consegui ver ele ficar um pouco pensativo, se virar para os seus colegas de time e esperar alguma confirmação vinda deles. Conversaram durante uns segundos, antes de Urquhart me dar uma resposta.

- Quanto tempo?

- Hm... quinze minutos.

- Tudo bem. Mas nem um minuto a mais.

Senti o alívio preencher meu peito. Pelo menos uma coisa daria certo naquele dia desastroso. Fiz um sinal para toda a minha equipe, pedindo para que ficassem em apenas uma das metades do campo.

Sugeri que simulassem um jogo, o que não era fácil, por termos nossa área reduzida à metade. Mas, levando em consideração que eram sonserinos cedendo isso para nós, não pude reclamar. Sobrevoando a área em que jogavam, avaliei cada jogada minuciosamente.

- Ei, Peakes! Manda um balaço para Ritchie! - Gritei.

Pude notar que tinham mudado a maioria das coisas que eu tinha apontado estarem erradas, o que me deixava extremamente contente como capitão.

- De nada, Potter. - A voz rouca de Malfoy vinha de trás, seu timbre me causou uma coisa que não sabia descrever, mas tinha conforto ali, mesmo que ele parecesse afiado. Tive que me virar para ter certeza de que era ele mesmo quem falava. Ele não estava fazendo nenhuma provocação?

Inclinei um pouco meu corpo, de forma que virasse a vassoura. É, era quem eu esperava que fosse. Malfoy, com aquele cabelo ridiculamente branco e sua cara exibida. Minha nossa, eu tinha mais vontade ainda de voar no pescoço dele depois do acidente.

- Perdão? - Questionei, para ter certeza do que tinha ouvido.

- Só está aqui porque fui eu quem convenceu Vance. - Ele deu ênfase quando disse "eu", e senti novamente aquela sensação estranha, mas ainda queria esgana-lo.

Antes que tivesse tempo de responder, ou até mesmo raciocinar o que ouvi, ele foi chamado por alguém da própria equipe e saiu. Perdi completamente o foco do que fazia, ficando absorto em pensamentos de novo.

Ele com certeza pediria algo em troca, não é? Ou existia algum motivo por trás.

Eu não consegui parar de pensar naquilo pelo resto do dia.

Passados os quinze minutos, dispensei toda a equipe. Todos foram para o vestiário tomar banho e se trocar e eu não fiz diferente. Depois de vestir roupas novas, usei uma toalha para secar meu cabelo. Enquanto fazia isso, Ron se aproximou para pegar algo em sua bolsa perto de mim.

- Então, Lilá? - Provoquei, com um sorrisinho travesso em meu rosto.

- O quê? - Ele pareceu confuso, talvez por estar distraído. - Ah! Pois é. - Soltou um risinho depois de se dar conta do que tinha falado.

- Estão juntos?

- Ainda não.

- "Ainda"? Planeja pedir ela em namoro?

- Quem sabe, talvez?

Ficava feliz em ver meu melhor amigo saindo com garotas, nunca foi do tipo muito sociável. Ele era o único do nosso trio que não tinha beijado ninguém até esse ano. Me lembro de uma vez em que ele e Ginny brigaram feio e ela gozou desse fato, falando que era medroso demais para beijar alguém e tinha inveja dela.

Pensando nisso, lhe ofereci um sorriso largo e saí do vestiário. Dei de cara com o campo onde os sonserinos ainda treinavam, o que me trouxe de volta a dúvida sobre a ação de Draco Malfoy.

Suspirei e balancei a cabeça minimamente, como se aquilo fizesse os pensamentos saírem da minha cabeça. Voltei a fazer o meu caminho.

Ao virar, vi Ginny. Suspirei ao ter a vista de seus cabelos avermelhados, estava de costas e não me via. Como nada do que eu dizia parecia adiantar muita coisa, segui meu caminho até o castelo sem dizer nada.

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora