XXI.

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Eu sonhei com Cedric naquela noite.

Me lembro perfeitamente que cheguei na comunal da grifinória e queria subir até meu quarto, mas não existiam mais escadas por ali. Em vez disso, tinham instalado um elevador no lugar, exatamente como o do Ministério da Magia.

Eu fiquei muito feliz com aquilo, estranhei um pouco que isso tivesse acontecido logo depois de eu ter questionado, internamente, o motivo de não ter um elevador em Hogwarts, mas não liguei. Acho que fiz essa relação porque o sonho parecia muito real, e eu não desconfiei que estivesse em um.

Eu entrei no elevador, apertei no botão que correspondia ao número sete e esperei. Mas, pouco depois, percebi que o elevador não estava subindo, muito menos descendo, ele se mexia na horizontal, como um carro.

Fiquei desesperado porque queria muito ir para o quarto, acredito que não existia um motivo, mas a porta logo se abriu. Eu dei de cara com o salão da lufa-lufa, porém permaneci no elevador, olhando para fora.

E Cedric apareceu, entrou no elevador, ficou em silêncio e a porta se fechou. Eu ainda estava sem entender nada, mas queria muito ir para o meu quarto, e o fato do elevador não me levar para lá, estava começando a me irritar. Por isso, tentei abrir a porta, mas ela não abria.

Olhei para Cedric e ele parecia inabalado, não sei descrever o sentimento que aquilo me causou. Então eu me virei, apertei o número sete de novo e esperei.

Por alguns segundos, o elevador não pareceu se mexer, até que começou a descer, muito devagar. Eu fiquei ainda mais confuso, porque tinha certeza de que tinha apertado o número sete, que era para cima.

Perguntei a Cedric aonde aquilo ia levar a gente e ele não respondeu com palavra alguma, mas deu um pequeno sorrisinho antes do elevador começar a despencar.

E eu acordei, meu coração estava muito acelerado e a respiração descompassada, não por conta do sonho, mas pelo susto que levei.

Não foi um sonho que significou muita coisa, só não consegui entender nada do que aconteceu e eu provavelmente esqueceria poucas horas depois.

Mas uma coisa me irritou: quando abri os olhos, já estava amanhecendo e eu precisava me levantar e estar pronto para as aulas em poucos minutos.

***

As aulas foram muito tranquilas naquela manhã. Não significa que foram prazeirosas, longe disso, mas a maioria não exigiu grande esforço e os assuntos não eram muito complicados.

Minha primeira aula a tarde seria de poções, o que significava que eu teria de me sentar em dupla com Malfoy, porque hoje seria a data de entrega do trabalho. Depois disso, estaria livre dele. Mas eu não estava me preocupando muito com isso, porque as coisas entre nós dois estavam melhor do que antes.

Quando cheguei na sala, ele já estava no balcão. Tinha um rolo de pergaminho e um pequeno frasco selado, com um líquido transparente dentro. Assim que me aproximei o suficiente, vi que seu rosto não era dos melhores, tinha olheiras bem aparentes e seus olhos pareciam cansados.

- Você não dorme há quanto tempo? - Perguntei, me posicionando ao seu lado.

Ele parecia preso em alguma outra dimensão, desconfiava que não tinha visto que eu já estava ali.

- Hã... Eu não tive tempo para dormir essa noite. - Me explicou, sua voz muito baixa, enquanto piscava.

- O que ficou fazendo? - Me senti mal fazendo essa pergunta, porque não tínhamos intimidade alguma para que eu pudesse questionar sobre sua vida, mas minha língua funcionou antes do cérebro.

- Eu meio que... - Ele começou. - Bem, se lembra de quando eu disse que tinha terminado o trabalho sozinho? Eu não tinha. Precisei fazer tudo nessa madrugada.

- E por que você não me disse? - Perguntei, desacreditado.

- Eu não sei, na verdade.

- Achei que orgulho era uma característica da grifinória. - Provoquei, vendo Malfoy se endireitar quando o professor chegou na sala.

O resto da aula correu como sempre, eu e Malfoy conversamos apenas quando era necessário, mas não existia mais aquela tensão entre nós dois.

- Acho que as duplas trabalharam muito bem - Slughorn falou no final da aula. -, então, se não se importarem, vou pedir para que fiquem nessas duplas até o final do ano letivo.

Eu e Draco nos entreolhamos, mas não falamos nada. Toda a sala concordou em um coro, o que significava que o professor não mudaria de ideia por conta de dois alunos, a única opção que restava era aceitar. Nós fomos dispensados, em seguida, e saímos em silêncio.

Enquanto todos os alunos passavam na multidão, entre eles, consegui ver Cedric de longe. Ele estava sorrindo e conversava com algum colega, até que me viu e fechou a expressão. De repente, me lembrei do sonho que tive e senti a necessidade de falar com ele.

Esperei que estivesse próximo, segurei em seu braço e o puxei para longe do fluxo de pessoas que passava. Ele não falou nada, só seguiu meu encalço.

- Queria conversar com você. - Falei, parando perto de uma parede.

- Estou ouvindo.

- Eu acho que você pode estar se precipitando. - Comecei, sem olhar para ele. - Você parece estar criando expectativas, mas eu queria deixar claro que, mesmo que eu tenha te beijado na festa, eu não quero nada sério.

- Como assim? - Ele parecia confuso.

- A gente até pode se afastar, se você quiser.

Ele riu.

- Bem, nem se eu quisesse isso poderia acontecer, não é? - Cedric cruzou os braços.

- O quê?

- Ah! Você não sabe sobre as consequências de beijar sua alma gêmea? - Ele riu de novo e continuou: - Quando isso acontece, não podemos nos afastar porque a gente vai acabar se encontrando, de um jeito ou de outro.

Eu me mantive em silêncio, em completa confusão. Repassei sua frase em minha mente, para ter certeza de que tinha ouvido certo, enquanto olhava para seu rosto.

"a gente"?

- Harry? - Ele chamou, me tirando do transe.

- O que você quer dizer com isso?

- Que somos almas gêmeas, você não percebeu?

Não respondi, apenas forcei um sorriso e saí dali o mais rápido que pude. Eu tinha certeza de que não estava enlouquecendo, ainda. Eu tinha ouvido ele dizer que éramos almas gêmeas, certo?

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora