XVIII.

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É claro que alguma coisa aconteceria para tirar minha vida dos trilhos. Tudo estava bom demais pra ser verdade.

- O que você quer, Malfoy? - Perguntei, impaciente.

- Achei que já estivesse claro. - Ele revirou os olhos, se sentando sobre a cama de Ron, que ficava bem ao lado da minha.

- Então você veio aqui à toa?

- Eu te suportei enquanto estava bêbado, agora é sua vez. - Ele soltou um risinho, dando um impulso e se deitando sobre a cama.

- Infelizmente - falei em um tom muito irônico -, estou estudando e não vou poder.

Peguei o livro mais próximo e o abri, fingindo ler. Malfoy então, rapidamente, estendeu seu braço e o arrancou das minhas mãos. Ele riu de novo, dobrando o livro e enfiando no bolso.

- Opa!

- Me devolve. - Ordenei.

- Eu deixei de fazer meu trabalho de monitor, só pra te trazer de volta em segurança! - Falou em seu tom dramático. - Deixar de ler seu livrinho não é nada.

- Então me diz o que eu veio fazer aqui.

- Estou com raiva de você. - Ele falou. - Queria brigar com você.

- Sou todo ouvidos. - Ele estava bêbado mesmo, aquilo logo iria acabar e eu estaria livre dele.

- Você é infernal, Harry Potter.

Achei aquela frase tão irônico que precisei rir, parecia que ele estava falando de si mesmo. Ele fingiu que não tinha ouvido e continuou com seu discurso:

- Você acha que pode aparecer assim, sem mais nem menos - fez uma pausa, mais eu sabia que não tinha acabado. -, com esses malditos olhos bonitos, me beijar e esperar que eu te esqueça?

Bem, era exatamente que eu queria que acontecesse, mas não respondi. Fiquei ali o observando com uma cara de tédio, porque não estava nem um pouco de ouvi-lo.

- Você não tem noção do que senti vendo você beijar o Diggory. - Confessou. - Você curtiu a festa?

- Bastante.

- Seu filho da mãe, você não sai da minha cabeça!

- Me avise quando acabar. - Desviei do assunto, porque ele chegou onde eu não queria chegar.

Me virei para o sentido oposto, buscando por alguma coisa que pudesse me entreter. Por não ter uma opção melhor, comecei a reler minha redação de antes.

- Harry, por favor. - Senti meu colchão se afundar, conforme Malfoy se sentou ao meu lado. - Eu estou falando sério.

Vi ele cruzar as pernas sobre a minha cama e, gentilmente, abaixar o pergaminho das minhas mãos, fazendo com que eu o olhasse.

- Por que você insiste tanto em me ignorar?

Eu não estava preparado para aquela pergunta, nem soube responder à princípio.

Por que eu o ignorava?

Porque eu ainda não conseguia aceitar que ele era minha alma gêmea. Porque eu achava que, se eu cedesse, eu pareceria vulnerável demais. Porque eu estava com medo. Porque eu me sentia perdido diante de tanta coisa e, para mim, todos eram culpa de Malfoy. Porque... Eu não sabia o porquê.

- Porque... - Eu falei depois de segundos em silêncio. Optei pela resposta que me envergonharia menos: - Não consigo aceitar que você seja minha alma gêmea.

Achei que ele fosse se ofender, mas em vez disso, ele me exibiu um dos sorrisos mais gentis que já tinha visto. Aquilo fez eu me sentir mal como antes.

- Eu me sentia assim também - Percebi que tinha atingido o fundo do poço quando era um bêbado que estava me aconselhando. -, mas acho que aceitei mais rápido.

Ele riu e eu quase sorri, mas me impedi assim que percebi o que estava fazendo. Parecia que toda energia ruim tinha ido embora subitamente.

- Mas pode tomar o tempo que quiser - ele falou se levantando muito rápido e quase caindo. Contive uma risada. - Sei que isso é um fato que não vai mudar, não importa o quanto você demore.

A frase era longa demais para que seu cérebro cheio de álcool pudesse processar, por isso, ele se embolou várias vezes. Mas o que vale é intenção.

- Acho que já falei tudo o que queria. Espero não ter me comprometido tanto quanto você. - Riu. - Agora posso ir embora.

Eu fiquei em silêncio enquanto via ele se retirar. Pude contar quinze segundos antes de ouvir um baque muito alto contra o chão, seguido de um pequeno grito e um som de vômito. Saí correndo para me deparar com um Malfoy atirado no chão ao lado de uma poça, que eu tentei não olhar para evitar que eu vomitasse junto.

Achei graça na forma que ele sorriu para mim quando me viu. Revirei os olhos, desci um único degrau da escada e estendi minha mão em sua direção, na tentativa de ajuda-lo a se levantar. Mas só uma mão não foi suficiente. Precisei segurá-lo e, só assim, ele conseguiu se levantar.

- Vou te acompanhar até seu dormitório, você não vai conseguir chegar lá nesse estado.

Malfoy não contestou quando eu ajudei ele a descer os infinitos degraus. Nós passamos discretamente por todos os monitores, visto que as masmorras ficavam ao lado oposto da torre da grifinória.

O loiro se apoiou em mim durante todo percurso, até que estivéssemos próximos do salão comunal sonserino, onde fomos parados pela voz de Pansy.

- Você não veio me ajudar para ficar bebendo? - Ela perguntou retoricamente, em um tom muito irritado.

- Para de ser chata! Foi só um pouquinho. - Ele respondeu, e eu permaneci em silêncio.

- Estou vendo, você não consegue nem ficar em pé!

- Parkinson... você se importa de abrir a porta da comunal? - Pedi, os interrompendo.

- Eu posso levar ele. - Ela falou, breve.

- Aposto que não consegue entrar no dormitório masculino. - Observei ela ficar pensativa, em silêncio.

- Tudo bem. - Cedeu.

Depois da garota ter dito a senha, subi com Malfoy até seu dormitório, enfrentando a batalha de ajuda-lo a subir as escadas, de novo. Sem que eu pudesse falar nada, ele parou em frente a porta, segurou minha mão e, cuidadosamente, me guiou para dentro.

- O que é isso? - Questionei, o olhando com certa confusão.

- Quero que fique aqui comigo.

- Não posso, o que seus colegas de quarto vão pensar quando me virem aqui?

- Eles não vão vir para cá. - Me explicou. - Blaise e Theo disseram que dormiriam fora essa noite.

Eu o fitei, semicerrando os olhos em um olhar de desconfiança. Ele me olhava daquele jeito esperançoso, erguendo as sobrancelhas e sorrindo minimamente.

- Qual sua desculpa agora? - Ele perguntou, mantendo a mesma expressão.

- Eu fico aqui até você dormir. - Cedi.

Malfoy abriu a boca, parecendo que diria alguma coisa, mas ele deveria ter percebido que eu não estava aberto a negociações e desistiu, indo até sua cama. Eu o segui, me sentando ao lado do móvel e apoiando minha cabeça na ponta de seu colchão.

Com um feitiço rápido, ele apagou as luzes e se virou, cobrindo o próprio corpo. Eu conseguia ouvir a respiração baixa dele até que o silêncio foi quebrado quando se remexeu em seus lençóis, se virando para mim. Eu podia ver só uma parte de seu rosto não muito nitidamente, graças à pouca luminosidade que entrava pela janela.

- Já fez isso com Cedric? - Malfoy indagou, aleatoriamente.

- O quê?

- Já ficou com ele até que dormisse?

- Mas que pergunta é essa?

- Já?

- Não, Malfoy.

Brevemente, consegui ver seus lábios se transformarem em um pequeno sorrisinho, quando ele se virou de novo, na tentativa de esconder aquilo.

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora