II.

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Acho que todos os bruxos, quando ficam sabendo que existe a possibilidade de ver as cores, passa a ter isso como a maior meta de vida. É claro que tem alguns que não acreditam nisso, acham que é algo dos bruxos, o fato de ver tudo em quatro cores. Para falar a verdade, eu duvidei muito disso, desde que nada aconteceu quando eu e Ginny nos beijamos pela primeira vez, porque eu tinha certeza de que ela era a pessoa certa.

As vezes, eu ficava imaginando como seria a sensação, achando que seria algo mágico. Mas como a maioria das coisas para mim, aquilo estava sendo um pesadelo.

- Que bom, cara. Por alguns segundos achei que a derrota tinha te afetado mais do que o normal... mas todos jogaram muito bem, não foi culpa sua. - Quando eu vi o rosto de Ronald se iluminar com tranquilidade, eu quase sorri genuinamente por aquilo. Sentir que ele se importava de verdade. Não pude deixar de notar, pela primeira vez, a cor vibrante que os cabelos dele tomavam, um laranja muito vivo.

Acho que ele percebeu que eu estava meio absorto nos meus próprios pensamentos quando passou um dos braços envolta dos meus ombros, me levando para fora dali.

Talvez tenha sido apenas um erro, iria passar.

Fiquei com medo de abrir a boca e deixar escapar tudo o que eu estava pensando, então eu só assenti com a cabeça, forçando um outro sorriso.

Observei a grama esverdeada durante toda a caminhada, a quantidade de cores que eu enxergava estava me dando tontura e dor de cabeça, por isso optei por me focar no chão. Enquanto ouvia meus passos e os do Weasley, me surgiu um pensamento que, por alguns segundos, acreditei fielmente que pudesse estar certo.

- Pergunta esquisita, - Avisei por precaução, levantando o rosto em sua direção. - você enxergando normal? Tipo, tudo como sempre, sabe? Sem cores e tudo mais. - A forma como eu tinha tentado falar normalmente falhou miseravelmente, deixando bastante nítido o exagero em meu tom de voz.

- Como assim? Por que eu não estaria? - Perguntou, surpreso.

- Por nada não! Só pensei em uma coisa, bobeira. - E a cada palavra que saía da minha boca, eu me xingava mentalmente, mais ainda quando eu percebi o olhar confuso de Ron sobre mim.

Eu ainda iria achar uma explicação para aquilo, impossível acreditar que Draco Malfoy é minha alma gêmea. Talvez seja para pagar meus pecados, como os trouxas acreditam.

***

Quando eu acordei no dia seguinte, tudo estava como antes. Eu conseguia ver a cor vermelha predominando a decoração do dormitório, junto com dourado. Minha primeira reação foi levar as mãos até o cabelo, senti vontade de os arrancar, mas não fiz isso.

Suspirei, e me levantei. Para falar a verdade, eu queria chorar. Tinha um nó na minha garganta e meus olhos poderiam transbordar a qualquer momento. Essa era a hora em que a "ficha caía".

O que eu diria para Ginny? O que eu diria para o irmão dela que, coincidentemente, é meu melhor amigo? Ou para Hermione?

Eu não diria nada. É isso.

Escovei os dentes e coloquei meu uniforme. Notei que tudo que era da grifinória, tinha vermelho. Como o brasão e o interior da minha capa. Antes só conseguia ver o amarelo e preto da lufa-lufa. Sempre quis saber qual era a cor das outras casas, mas eu garanto que se soubesse como aconteceria, eu jamais gostaria de saber.

Depois de tomar o café da manhã, chequei meu horário de aulas. Minha primeira aula do dia era herbologia, então caminhei até as estufas de Hogwarts com Ron e Hermione, porque tínhamos essa aula em conjunto. Eles me distraíram dos meus pensamentos durante todo o caminho, e eu agradeci mentalmente por tê-los como amigos. Minha tranquilidade não durou muito porque, assim chegamos, me lembrei de que as aulas de herbologia da grifinória eram com a sonserina quando meus olhos identificaram os alunos da casa verde e prata.

Pude perceber que Draco não estava com Pansy ou Blaise, como sempre estava. Talvez tenham brigado, concluí. Quando os vi no café da manhã, o loiro parecia estar reclamando de uma porção de coisas, como uma criancinha birrenta. Nada novo.

- Bom dia, alunos! - Sprout falou, alegre. - Hoje nossa aula não será na estufa. Vamos para fora. Vou entregar uma ficha com nomes e fotos de plantas para vocês, e terão de identificar elas pelo terreno de Hogwarts, preencher as informações e trazer uma amostra de cada. Se juntem em trios.

Não era novidade que o meu trio seria com Ron e Hermione. Vi todos se juntarem com mais duas pessoas e seguirem a professora até o lado de fora do castelo, nós fizemos o mesmo. Hermione carregava e analisava a ficha que nos foi entregue.

- A gente pode se separar, para ser mais rápido. Vou ficar com as duas primeiras, Ron fica com o terceiro e quarto, e Harry com os dois últimos, pode ser? - Ela disse, e eu apenas concordei.

Ronald saiu andando a procura de suas plantas, eu pedi a ficha para conferir quais eram as minhas.

- Você bem, Harry? - Hermione perguntou de repente.

- Claro que estou, - estranhei. - por que a pergunta?

- Não parece. - E saiu andando.

Eu odiava a forma em que Hermione percebia qualquer coisa.

Afastei o pensamento e tentei focar no que havia sido proposto pela professora, visto que seria essencial para minhas notas finais. Procurei por alguma das plantas que se parecesse mais com a que precisava, passeando com os olhos pelas pequenas folhas, flores coloridas e pequenos arbustos. Impaciente, tirei minha varinha do bolso e apontei para onde a maioria das plantas se encontrava.

- Accio... - Antes de poder terminar de falar o feitiço, alguém se chocou contra as minhas costas, me fazendo derrubar minha varinha e a dele no chão.

- Sai do caminho, Potter! - Malfoy era quem havia me atrapalhado.

Quase revirei os olhos com sua frase. Não conseguia me convencer de que uma pessoa como Draco poderia ser minha alma gêmea. Olhando para ele, pude perceber que odiava cada centímetro seu, principalmente seu cabelo esquisito.

- Se você olhasse por onde anda, isso não aconteceria! - Rebati. Sem desviar meu olhar do dele, me abaixei e peguei minha varinha, colocando de novo no bolso. Ele fez o mesmo.

Mais alguns minutos se passaram e eu já tinha amostras das minhas plantas, assim como Ron e Hermione. Preenchemos tudo o que era necessário e entregamos para Professora Sprout ao final da aula.

Eu não falei muito com os outros pelo resto do dia, porque nossas aulas eram separadas. Estudo dos trouxas, aritmancia, história da magia e trato se criaturas mágicas foram as minhas aulas seguintes.

Na minha opinião, eram as mais tediosas, você tinha que ficar fazendo anotações a aula toda. Eu gostava de usar feitiços, mas só escolhi essas aulas porque eram necessárias para que me tornasse um auror no futuro.

Pelo menos era sexta-feira.

No final do dia, voltei para a comunal. Meu rosto se iluminou com um sorriso quando cheguei lá e pude ver que os gêmeos decidiram fazer uma festa sem motivo. Como sempre, tinham coisas que vinham de Hogsmeade, que conseguiram através dos caminhos secretos que eu tinha conhecimento.

Para eles, não era necessário um bom motivo para fazer alguma comemoração daquelas, bastava sentir vontade. E eu adorava isso. Larguei meus materiais em uma poltrona próxima e me dirigi até o meio, onde encontrei Ginny, que me recepcionou com um abraço caloroso.

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora