XIV.

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Entre todos os sentimentos que eu tinha experimentado nos últimos dias, aquele era, de longe, o pior.

Além de me sentir mal pelo que fiz, eu sabia que tinha piorado o que já estava ruim. Não queria que ele se sentisse usado para eu receber a informação que queria, eu tinha consciência de que foi o que pareceu, mas eu realmente queria beijar ele.

Acabei agindo no calor do momento e agora eu faria de tudo para voltar no tempo. Eu não poderia beijar ele e, magicamente, esperar que tudo ficasse bem. Achei que tinha superado o passado, mas aquele beijo só trouxe tudo à tona.

Eu ainda não estava pronto para fingir que nada tivesse acontecido durante nossa infância. Sei que eram apenas implicâncias de criança, mas, no fundo, aquilo ainda me aterrorizava.

Mesmo que nunca mais tivesse ouvido nenhum insulto dele direcionado a mim, acho que as coisas não se resolveriam tão fácil assim.

Assim que coloquei os pés dentro do salão da grifinória, Ron e Hermione se levantaram do sofá em que sentavam, vindo em minha direção. Tive a impressão de que ficaram me esperando.

- Que cara é essa, Harry? - Ron questionou.

Soltei um suspiro e Hermione segurou em minha mão. Ela me guiou até o estofado onde eles se sentavam anteriormente, enquanto ambos tomavam o assento da frente.

- Nos conte o que houve.

- Beijei ele.

Eles se entreolharam, seus rostos exibiam preocupação. Hermione balançou a cabeça e fez um gesto, pedindo para que eu continuasse.

- E foi muito bom.

- Então por que você assim?

Eu desviei meu olhar do dela e apoiei minhas costas contra o sofá. Jogando a cabeça para trás, cobri meu rosto com as mãos e soltei um riso sem animação.

- Porque eu sou idiota. - Contei, minha voz sendo abafada pelas mãos. - Eu não consigo entender o que eu sinto. Ele me contou tudo o que pensava, mas agora eu estou me sentindo culpado por ter o beijado.

- Não fala assim, cara. - Ron me consolou.

- Mas onde estava a minha cabeça quando achei que aquilo daria certo, não é? Eu me sinto pior ainda porque sei que dei alguns segundos de esperança para ele. - Choraminguei.

- Vai ficar tudo bem, Harry. - Hermione me assegurou. - Só converse com ele e conte o que está sentindo, é melhor do que ficar o ignorando.

- Eu queria que fosse simples assim. - Murmurei, me deitando sobre o sofá que ocupava. - Mas eu simplesmente saí de lá depois do beijo, sem mais nem menos.

- Amanhã vocês tem aula de poções juntos e vão ter tempo para conversar.

- Acho que sim... - Concordei, me levantando. - Eu vou para o meu quarto, boa noite.

Por estar sozinho no dormitório, me joguei na cama, peguei meu travesseiro, coloquei em meu rosto e gritei. O som não foi muito bem abafado, mas pelo menos não tinha mais ninguém ali.

***

Como Hermione havia citado, encontrei Malfoy na aula de poções do dia seguinte.

Tivemos que nos sentar juntos, porque a dupla ainda permanecia a mesma. Eu tinha ensaiado o que falaria para ele repetidas vezes, mas o orgulho estava sendo mais forte do que eu. Todas as vezes que sentia que conseguiria falar, a coragem ia embora tão rápido quanto aparecia.

Malfoy ficou em silêncio durante toda a aula. Só fez todas as coisas que o professor solicitava, mas nem olhava para os lados, muito menos para mim. Eu não me surpreendi com o seu comportamento, já era algo que eu poderia imaginar.

Eu sabia que se eu não falasse nada, ele não se daria o trabalho de fazer isso. O silêncio que se instalava chegava a ser ensurdecedor, e a tensão parecia ser algo tangível. Tínhamos voltado à estaca zero.

Cheguei em um ponto em que estava desconfortável com aquilo, o único som que podia se ouvir era o das penas arranhando o pergaminho. Respirei fundo e tomei a iniciativa:

- Quando vamos terminar o trabalho? - Perguntei, me virando para ele.

- Eu já terminei tudo ontem. - Ele respondeu, sem ao menos me olhar.

- Tudo?

- Tudo.

- Mas por quê? Não é justo você fazer quase tudo sozinho.

- Achei que iria preferir se fosse assim. - Explicou, mas sem olhar para mim ou demonstrar qualquer abalo. - Vai evitar que tenhamos contato. É o que você quer, não?

- Eu nunca disse isso, Malfoy. - Mantive meu tom de voz mais baixo.

- Estão dispensados se já acabaram de copiar! - Slughorn avisou, mas eu não prestei muita atenção.

- Mas é o que você demonstra. - Foi a última coisa que ele falou, antes de deixar a sala de aula.

Eu fiquei em silêncio, porque não tinha nada para dizer. Permaneci parado ali antes de decidir me juntar a Hermione e Ron e sairmos da sala.

Eles não demoraram para me perguntar se eu tinha conversado com Malfoy, então eu contei as poucas coisas que falamos. Eu podia ver que eles estavam tão infelizes quanto eu, mas tentavam não demonstrar isso, sempre sendo positivos em seus conselhos.

- Ei! - Ouvi alguém chamar, mas não achei que fosse comigo. - Potter!

Me virando para trás, vi Cedric Diggory, apanhador da lufa-lufa, correr até nós três. Ele sempre carregava um sorriso no rosto, o sorriso que fazia todas as garotas estarem aos seus pés.

- Ahn, oi. - Cumprimentei, achando estranho sua aproximação repentina. Nunca conversamos muito, então não conseguia imaginar o motivo de seu chamado.

- Desculpe aparecer assim de repente. - Ele começou, tomando fôlego. - Amanhã vou fazer uma festa de aniversário, no salão da lufa-lufa e queria convidar vocês.

Ele me entregou um papel contendo todas as informações do evento. Abri um sorriso educado, como agradecimento.

- Seria ótimo ter a presença de vocês lá. - Ele sorriu de novo. - Se puder, ficaria feliz se colasse o convite no quadro de avisos da grifinória, todos serão muito bem vindos.

- Tudo bem, nós vamos sim. - Ele acenou e se distanciou novamente.

- Nós vamos? - Ron perguntou.

- Por que não? - Abri um sorrisinho em sua direção. Eles não contestaram, então apenas seguimos caminho para a próxima aula.

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora