XX.

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Como eu disse, eu e Ron teríamos aula de adivinhação.

Para falar a verdade, nós não escolhemos aquela matéria por interesse. Não dávamos a mínima para o que era ensinando e, sinceramente, eu não acreditava em nada daquilo.

O real motivo de termos escolhido adivinhação, era pelo simples fato de ser uma matéria que considerávamos fácil e não exigiria muito esforço. Mas, mesmo assim, se tirasse uma nota menor naquela matéria, não faria diferença nenhuma em meu futuro.

Todas as vezes em que eu pisava naquela sala, eu me arrependia instantaneamente de ter escolhido adivinhação. Trelawney deixava muitos incensos pelo local e aquilo me dava uma dor de cabeça terrível. Não conseguia entender o porquê daquele exagero.

Eu e Ron sempre sentávamos no mesmo lugar e não foi diferente naquele dia. Nós nos acomodamos em uma mesa que ficava um pouco afastada de qualquer incenso, mesmo que não fizesse muita diferença, já que estava espalhado por todo lado.

Trelawney entrou na sala pouco tempo depois, começando com suas introduções lunáticas e sem
sentido. Eu não tinha nada contra ela, era até uma pessoa gentil, se você levasse em consideração a parte menos excêntrica de sua personalidade.

Depois de contar suas histórias, sempre fazendo gestos, entregou um baralho para cada mesa. Ela começou a explicar como funcionava o tarot e mais algumas curiosidades sobre ele.

Fazendo uma pausa enorme depois de sua explicação, ela pediu para que cada um mentalizasse sua dupla, no meu caso, Ron; e retirasse uma carta do bolo, pensando na energia daquela pessoa.

Ron e eu nos entreolhamos, fizemos uma cara de "que droga é essa?", mas fizemos exatamente o que nos foi proposto. Na parte debaixo da carta que retirei, dizia "DOIS DE OUROS".

A professora se certificou de que todos tivessem uma carta em mãos, nos pediu para analisar ela e, em seguida, tentar interpretar o que aquilo significava. Ela reforçou várias vezes que deveríamos prestar atenção nos mínimos detalhes.

- Você começa?

- Pode ser. - Dei de ombros.

Dei uma última olhada para Ron e voltei meu olhar para a carta.

Existia um desenho de um homem, no centro. Ele segurava ferramentas nas duas mãos e usava uma roupa meio gasta. Talvez fosse seu uniforme de trabalho, pensei nisso quando vi a bancada em sua frente, tinha alguns objetos que julguei terem sido feitos por ele. Percebi, também, que a bancada era sustentada por dois grandes pentáculos e tudo isso estava em um campo bem verde. Videiras decoravam a moldura do desenho.

Os pentáculos pareciam dois grandes galeões, então deduzi que pudesse estar fazendo relação com dinheiro. O homem parecia estar trabalhando, logo...

- Acho que vai ficar rico trabalhando. - Concluí, meio incerto. Entreguei a carta para Ron, que a fitou por segundos.

- Espero que a carta esteja certa. - Ele riu, porque não acreditava naquilo.

- Sua vez.

O observei enquanto ele encarava a carta por longos segundos, parecendo ter mais dúvidas a cada instante. Por fim, Ron tentou:

- Não sei... Acho que vai se casar. - Voltou a olhar para o desenho. - Ela parece uma noiva, não?

Ele me entregou a carta que dizia "OITO DE COPAS". O desenho que continha nela era um pouco sombrio, todo o cenário era bastante escuro. Tinha uma lua logo atrás de oito cálices, empilhados em formato de pirâmide. Uma mulher, porém, se destacava de tudo o que estava envolta: ela descia uma escada e usava um vestido branco, muito visível, graças ao seu fundo que levava cores escuras. Não parecia feliz.

Eu não consegui entender nada do que estava representado ali, mas tinha certeza de que não significava casamento.

- Agora peguem seus livros e leiam o verdadeiro significado da carta que tiraram. - A professora tornou a falar.

Eu e Ron fizemos exatamente o que ela pediu, achando a parte que falava sobre tarot. Procurei pela página que correspondia à carta e li o que dizia.

- Olha, eu quase acertei! - Comemorei. - Aqui diz que "o Dois de Ouros anuncia o momento em que dinheiro e a força motivadora podem ser disponibilizados em novos projetos que podem levar a um futuro compensador. Mas o indivíduo deve estar disposto em fazer trabalhar os recursos assumindo riscos e fazendo uso do capital, em vez de pensar em economizar justamente quando as novas oportunidades estão surgindo. Por conseguinte, a carta do Dois de Ouros pode ser favorável para aqueles que sabem lidar com o dinheiro."

- Como eu saberia lidar com dinheiro sem nem ter ele? - Ron perguntou, e eu quase ri, mas me contive por respeito. - Baboseira. O seu diz "o Oito de Copas mostra o momento em que o ser precisa abandonar algo, a fim de alcançar um bem maior. O que implica em deixar uma zona de conforto para entrar em um lugar desconhecido, que pode gerar ansiedade e medo. No entanto, esse passo é essencial para a evolução em direção à plenitude".

- Não chegou nem perto de acertar. - Ri.

Em um primeiro momento, aquilo não fez o menor sentido. Mas quando eu vi o rosto de Ron se transformar em algo que mostrava que ele tinha encaixado alguma informação, eu entendi.

- Ei, espera - Ron começou. - E se...

- Não. - O interrompi, porque sabia o que viria em seguida.

Durante o resto do dia eu pensei sobre aqueles significados. Eu tentei me convencer de que eu não acreditava naquilo, mas parecia que o meu cérebro não conseguia entender. Eu odiava o fato de que aquilo se encaixava na minha situação e, principalmente, porque o meu primeiro pensamento foi Malfoy.

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora