XXIII.

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A forma com quem Malfoy dizia meu nome era diferente de como qualquer outra pessoa dizia. Eu não saberia explicar por quê, mas talvez a voz dele contribua para isso, o jeito que ele pronunciava ou apenas uma impressão minha.

Mas foi satisfatório ouvir ele dizer "Harry" sem hesitação alguma. Ele falou com naturalidade, como se me chamasse assim desde sempre. Aquilo ficou na minha cabeça por vários dias, me sentindo muito idiota por uma coisa tão simples ter me tocado.

Muitas pessoas me chamavam de Harry. Pessoas como Ron e Hermione, que significavam muito para mim, nunca me causaram um único sentimento me chamando pelo nome. Eu não entendia como Malfoy, que há menos de um mês atrás não significava nada para mim, mexia comigo em um ato como aquele.

Me amaldiçoei várias vezes, desejando que a memória do som produzido pelo sonserino sumisse da minha cabeça e, junto dela, a curiosidade de ouvir aquilo mais vezes. Todos os dias.

Eu segui os dias da semana ignorando Cedric e, inconscientemente, me aproximando de Malfoy sempre que eu podia, só para ouvi-lo dizer meu nome.

Odiava que o jeito que achava para lidar com essas situações era me isolando, mas o que eu poderia fazer? Cedric tentou falar comigo algumas vezes e eu usava desculpas ridículas para evitar isso. Só saia da comunal para ir às aulas. Aproveitei que tivesse bastante tempo livre e fiz mais pesquisas sobre o assunto das almas gêmeas. Não achei nada além do que eu já sabia, nenhuma informação sobre a possibilidade de ter, ou não, mais de uma alma gêmea.

A opção que me restou foi acreditar em Cedric, fazia mais sentido do que procurar uma explicação para que eu tivesse o beijado, sem hesitar. Hermione também estava fazendo buscas incessantes sobre aquilo, mas permaneceu sem sucesso.

Era sábado de manhã quando as corujas apareceram sobrevoando o Salão Principal, trazendo a correspondência de cada aluno. Edwiges trazia um jornal nas garras, que rapidamente soltou em minhas mãos.

Desenrolei o papel e, desatento, li suas manchetes, sem expectativa alguma para achar algo que fosse no mínimo relevante. Firebolt é eleita a melhor vassoura, segundo pesquisas; MISTÉRIO: divórcios em massa, qual seria a causa?; Substância misteriosa, vendida na travessa do tranco, é responsável por quatro prisões em Azkaban;

Não me dei o trabalho de ler nenhuma delas, porque todas pareciam chatas demais para despender tempo.

Sem querer, me peguei observando Cedric do outro lado do salão. Ele se levantou da mesa, largando o jornal sobre ela. Imaginei que pudesse ter sido de propósito. Quem iria querer aquele jornal?

***

Continuei fazendo as pesquisas de antes, porque não havia nada melhor para fazer. Como a comunal estava vazia, senti liberdade para me deitar em um dos sofás bregas e me acomodar ali, enquanto lia uma das fontes que havia achado.

Quando estava quase largando aquele livro, ouvi as vozes e risadas que pertenciam a Ron e Hermione, então me sentei sobre o sofá, vendo os dois atravessaram o quadro da Mulher Gorda.

Os dois pararam em seus lugares quando me viram, me fitando com curiosidade.

- Por que está aqui? - Ron perguntou, levantando as sobrancelhas.

- Eu não deveria estar? - Perguntei de volta.

- Você não tinha que fazer o trabalho com Malfoy? - E essa pergunta foi de Hermione.

Almas Coloridas | DRARRY - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora