Sinfonia de batalha - Hange Zoë x OC

Capítulo um

A cada vez que você se apaixona
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As coisas sempre pareciam calmas demais, o sentimento efêmero de felicidade sempre pairava por qualquer pessoa que pisasse nesse mundo isento de misericórdias. Passaram-se alguns anos desde de que o caos se instaurou por tempo indeterminado; coisas pequenas poderiam ser apreciadas de longe, sempre como uma calma passageira antes de um evento climático que destruiria tudo e todos. Se fossem tempestades e fortes ventos seriam menos ruins de lidar. Estamos falando da pura essência do canibalismo. Da crueldade que os humanos enxergam quando algo surge para fazer o mesmo que nós fazemos a todo tempo, com animais e às vezes até com pessoas. Sempre questionei, mesmo sabendo do sangue frio em que essas mortes se envolviam, o porquê de ser tão chocante. Não haveria uma explicação por trás disso ou coisa parecida?

Depois desses anos todos, a única coisa que tive a chance de presenciar foi a desgraça. Nada me tirava desse inferno infinito, o ciclo vicioso de viver sem ao menos um propósito. Nunca tive coragem suficiente para sair daqui. A prisão de pedras que me cercava sempre parecia me engolir cada vez mais. Mesmo sem coragem, sempre senti uma fagulha de curiosidade; mesmo sabendo que nada disso mudaria. Tão cedo.

Passei anos me misturando com a multidão leiga, todos em sua zona de conforto, extremamente satisfeitos por estarem seguros, supostamente. Não tenho lembranças da minha infância. Não lembro de meus pais, nem se tinha irmãos, nada. A verdade é que vivi uma vida solitária. Procurando lugares avulsos para descansar essa angústia. Tudo acabou me levando a tentar exercer uma profissão. E assim o fiz. Assim cheguei onde estou nesse momento. Apreciar o sol se pondo no horizonte era meu prazer proibido. Tudo era muito restrito e esses momentos em que podia usufruir do calor do sol em minha pele, como se fosse uma carícia do universo; era como se alguém em algum lugar, por alguns instantes, se preocupasse com as pessoas que vivem nesse caos, parecia ser uma forma de pedir desculpas pelo que estaria por vir.

Dessa forma, esperei até o sol se pôr. A altura era considerável, mas eu fui treinada pra não cair, tenho até equipamentos que me ajudam nessa missão, acima de muralhas grossas e altas. Olhando para uma estrada no horizonte, observei um grupo de pessoas retornando ao conforto: as pessoas que tinham coragem para vestir a liberdade, com o coração na manga da blusa; com seus cavalos fortes e as capas verdes, assim eles entram de volta às respeitadas muralhas. A única opção que tinha naquele momento era sair do meu cantinho particular, no topo. Qualquer um que me visse ali, com certeza me renderia boas broncas.

A única pessoa que eu poderia contar, era uma dos corajosos que saíam em aventuras suicidas. A angústia tomava conta dos meus movimentos enquanto eu descia da muralha e ia em direção ao portão onde eles entraram, finalmente retornando. Provavelmente apenas parte das pessoas conseguiriam voltar com vida. Devido a isso, a ansiedade me conduzia, a única coisa que me preocupava era se ela estaria viva.

Indo em direção ao local onde eles passariam, a imagem que muitos viam e estavam até acostumados era a tristeza ou a ausência de sentimentos nos olhos de bravos soldados. Muitos pela metade, muitos enfaixados além da pilha de corpos que sempre corriam em seus rastros. Não conseguia pensar em nada além de pedir para qualquer coisa que pudesse ouvir para que essas pobres almas pudessem encontrar paz e para que a culpa de quem ficou seja amenizada com o passar do tempo.

E lá estava ela, em seu cavalo muito maior que ela, guiando o mesmo junto dos outros, com uma expressão que era difícil de interpretar. Seu penteado usual parecia ter passado por uma noite conturbada de sono. O alívio que finalmente tive a oportunidade de presenciar parecia algo como um choque de esperança, tendo energia para ir até ela e abraçá-la, mas preferindo conter as minhas emoções, apenas cheguei perto o suficiente para que ela me visse.