Capítulo dezessete

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Todas as cartas de amor são ridículas
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Já não aguentava mais estar dentro da minha própria cabeça. Pensamentos corriam sozinhos enquanto uma não tão leve ansiedade tomava conta de meu corpo e de todos os sentidos possíveis naquele momento. Estar tentando dormir ou ao menos descansar era algo que obviamente piorava a situação. Virando. Virando mais um pouco e mais uma vez. Deitando em diversas posições. Meu corpo coçava em nervosismo. Tentei pensar de forma racional, mas meus pensamentos estavam embaçados com tanta emoção indesejada. Só conseguia pensar no quanto fui ridícula em cada palavra escrita e dita. Tentei também me acalmar, mas era tudo em vão, assim como todas minhas tentativas posteriores de reprimir sentimentos; agora que os coloquei para fora, diretamente para quem eu os direcionava, fazia minha mente enlouquecer com o futuro. Valeria mesmo a pena arriscar tudo? Arriscar tudo... Certamente era comum para quem arriscava literalmente tudo quase todos os dias. Era esse o motivo para tanto medo e receio. Mas certamente minha vida precisava de aventuras que não corressem tanto risco de vida. Acho que me renderia apenas problemas de coração e estômago.

Depois de tanto me mexer e pensar, me levantei para evitar incomodar Eve e seu sono. Andei pelos corredores como fazia constantemente, ver a única fonte de luz naquele corredor fez meu estômago dar algumas cambalhotas estranhas; mas era comum, ela sempre estava acordada até tarde e não me surpreenderia que naquele dia, ela estaria no mesmo estado de quase sempre. Saindo pela porta dos fundos, indo para a árvore que era meu segundo quarto e que constantemente estava entre mim e a realidade, me sentei para observar o céu estrelado, a lua que estava em seu ápice. Logo pude sentir a pelúcia familiar em meu braço, percebendo que Luci se aproximou pedindo carinho, emitindo seu som comum que felinos tinham e eu não fazia ideia de onde vinha, mas era um bom sinal. Ele estava um pouco mais gordinho, já que não consegui comer nem metade de minhas refeições nos últimos dias. Com pressa, o peguei no colo, acariciando sua cabeça e abaixo de seu queixo e o abraçando como se o mesmo fosse um urso de pelúcia ou uma boneca de pano. Ele percebeu que meu estado não era dos melhores, certamente; ele se acomodou ao abraço, sendo ainda mais alto em seu barulho felino. Lutei para que as lágrimas não caíssem. Eu juro que lutei. Mas assim que a primeira caiu, a segunda seguiu logo em seguida e foi pega antes que caísse de vez de meu rosto.
- Não precisa disso. - Ouvi a voz após o susto que levei com o toque repentino, ela usou dois de seus dedos de forma delicada para acariciar meu rosto, não deixando a lágrima cair no processo.

- Desde quando você tá aí? - Limpei meus olhos com a parte de trás das mãos, me afastando de seu toque, em seguida olhei para a mulher, evitando seus olhos e rosto.

- Há tempo suficiente, Raven. - Hanji parecia cansada, respirando fundo antes de voltar a falar. - A gente pode conversar?

- Eu não vejo outra opção. - Falei colocando o gato em meu colo, seguindo meu olhar para qualquer outra direção que não fosse a mulher ainda em pé ao meu lado. - Não posso fugir disso. - Falei enquanto ria da situação que me coloquei, que na minha cabeça era uma tortura desnecessária.

- Eu não queria responder com uma carta também. Acho melhor falar olhando pra você. E eu não podia esperar mais também. - Ela disse enquanto sentava ao meu lado e respirava profundamente, falando relativamente rápido, mostrando sua humanidade através do nervosismo. - Além do mais, eu sabia que você estaria aqui.

- Ousado da sua parte pensar que eu vou ter coragem pra olhar no seu rosto. - Ainda estava rindo.

- Você pode tentar. - Ela disse, provavelmente sorrindo. Tentei ao menos um pouco olhar, nem que fosse de canto de olho. Falhei miseravelmente.

Sinfonia de batalha - Hange Zoë x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora