Capítulo treze

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Curiosidade suspeita?
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Nunca pensei que odiaria tanto ter que ficar sem fazer nada. O dia inteiro havia passado e a única coisa que poderia fazer era ficar olhando para o nada, tentei ler algum livro mas a maioria era tedioso demais, sobre assuntos ainda mais aleatórios. Passei o resto do dia deitada em minha cama, tive bastante tempo para pensar sobre as perdas que ocorreram nos últimos dias; algumas pessoas nem tive a oportunidade de conhecer melhor, outras conhecia há tanto tempo que mal conseguia me lembrar do começo. Espero que tenham tido mortes dignas, especialmente Hannes, que me salvou e já me ajudou tantas outras vezes. Nanaba em minha cabeça era apenas uma confusão, sobre ela não tinha muito o que pensar, além de que se passou pela minha cabeça que poderia ser amiga da menina; de fato, foi muito cedo para ela. Pensar sobre esse tipo de coisa me fazia questionar minha existência, tantas outras pessoas mereciam ter uma vida e eu, inútil, continuava vivendo por pura sorte.

O universo decidiu que eu sofreria com a existência, sem oportunidades de felicidade, porque é assim, qualquer sinal de felicidade é esmagado como se não fosse nada. Dores não pareciam nada próximo deste sentimento, percebi que de fato a vida é curta e quando menos esperamos, estamos perdendo todos que amamos; a sensação de ter perdido Irina, mesmo que por pouco tempo, me causava dores físicas, meu peito doía como se uma faca estivesse adentrando em minha carne e ossos. Valeria mesmo a pena tentar viver uma vida que me orgulhasse? Valeria mesmo a pena apostar tudo e me apegar em outras coisas e pessoas? Estaria mesmo, eu, a pessoa que sempre se desprendeu de coisas significativas, estaria mesmo me apegando à alguém novamente?

Tirei esses pensamentos da mente como se eles estivessem pregados em meu cabelo, lembrei-me de que havia cortado o mesmo. Não parecia suficiente. Lembrei também de que guardei a navalha naquele dia, naquele momento me parecia uma boa ideia cortar ainda mais. Saindo do quarto, antes averiguei se haveriam pessoas ali fora, mas o local estava vazio por quase todo o dia.

Entrando em um transe imediato, meu cabelo estava agora na nuca, curto como jamais fora antes; ouvindo um barulho na porta, me diverte um pouco o fato de que eu realmente não percebi o que estava fazendo até terminar de fazer. Ouvi um barulho na porta, provavelmente o que me acordou dessa situação.
- Mas... O que você fez? - Nifa entrou no banheiro, me olhando com expressões chocadas. Me virei para encarar a menina, que parou em seus passos próximo à porta.

- Eu também não sei, Nifa. Mas já tá feito, né? - Respondi com um sorriso sem graça no rosto.

- Ficou incrível! - Nifa se aproximou enquanto batia uma palma de felicidade e sorria.

- Tá menos pior que antes. - Foi minha reação, apenas dei de ombros para o elogio.

- Porque você acha isso?

- Não é como se meu reflexo no espelho me agradasse. - Pausei olhando para minhas mãos cheias de cabelo. - Eu nunca vou ver como ficaria sem essa cicatriz ridícula. Nem se eu quisesse me agradaria. - Falei enquanto sentia lágrimas se formando em meus olhos, me impedindo enxergar totalmente. Nifa se aproximou e colocou uma de suas mãos em meu ombro.

- Soldados tem cicatrizes e todas elas contam histórias, Raven.

- E qual é a história que eu conto, então? A história do quanto eu sou fraca a ponto de pessoas precisarem arriscar suas vidas pra me salvar o tempo todo? - Pausei para enxugar as lágrimas que já desciam livremente agora. - Eu não sou um soldado, eu tô muito longe de ser. Soldados sempre morrem de forma digna e a única coisa que fiz até o momento foi colocar vidas em risco pela minha.

Sinfonia de batalha - Hange Zoë x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora