Capítulo vinte e quatro

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Pretérito imperfeito do indicativo
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A única coisa que fiz foi arrumar meu cabelo, da mesma forma que foi arrumado anteriormente. Apenas a parte da frente presa por grampos. Me dei o privilégio de um banho também, agora estava apenas arrumando meu cabelo antes mesmo de me vestir. Me olhando no espelho pude finalmente sentir a vergonha e reparar no que foi feito em meu peito, não seria uma boa ideia simplesmente sair mostrando isso. Era um bom lembrete, contudo, me lembrava de manter a calma e não surtar por estar tão longe. Meu rosto estava razoável, minhas olheiras diminuíram, mas meu rosto ainda estava um pouco inchado por ter chorado demais. Logo me vesti. A mesma roupa que visto normalmente, a blusa branca e uma calça qualquer, calcei a bota do uniforme, não tinha o privilégio de ter mais de um sapato, ainda. Honestamente não sabia o que esperar. Em um dia que já começou me lembrando de minhas origens, ir ainda mais a fundo e visitar diretamente o que era meu passado parecia demais para aguentar. Não tinha sentimentos ruins acerca de quem foi capaz de me libertar do limbo de um dos círculos do inferno concêntrico; mal podia esperar para lhe relatar que agora tinha, de fato, esperança e uma breve perspectiva de vida. Mesmo que talvez essa força estivesse vindo de um lugar improvável, mesmo que eu tenha me prometido que não iria confiar minha vida e felicidade a ninguém. Talvez eu tenha pensado tudo isso por que esqueci o quanto é bom. Talvez o mundo esteja sendo generoso dessa vez.

Sem intenção, me perdi pensando e me atrasei, saindo pela porta avistei Irina, Jean e Eve me esperando do lado de fora. Imediatamente me desculpei por fazê-los esperar mas, todos ali pareciam distantes, de mim e entre si. Ou era só coisa da minha cabeça, na maioria das vezes era. Nem Jean e Irina conversavam e eram barulhentos como de costume. Todos pareciam calmos e talvez a felicidade não se parecia com o jeito convencional de sorrir e demonstrar. Esse era o sentimento. Estranho como tem sido em toda essa uma semana que vivi em minha vida. Como gostaria que ela estivesse aqui agora; compartilhar minha felicidade com ela é o meu maior princípio, é aqui que eu me encontro mas aparentemente esse assunto pendente deve ser resolvido apenas por mim. Retomei minha alma roubada de mim há um tempo considerável.

            Não conhecia o caminho em que estava andando também, as pessoas pareciam tranquilas e vivendo suas vidas com a simplicidade e a felicidade de quem tem a oportunidade de poder esquecer do mundo em que vivemos, dentro e fora. Os barulhos de um grupo de pessoas vivendo suas vidas era o que me trazia para esse mundo, o que me puxava de volta para a realidade. Demorou uma boa caminhada para chegarmos até a casa, no meio do caminho reclamei do porquê não viemos a cavalo, teria poupado bastante o cansaço; recebi um olhar de julgamento de Irina, assenti abaixando a cabeça. De alguma forma indireta, talvez, eu me arrependa de ter concordado com isso tudo. Estava em um momento de vulnerabilidade, qualquer coisa enchia minha cabeça de pensamentos tortos e inseguranças indecifráveis.

Irina largou o que estava fazendo para vir conversar comigo, enquanto Eve e Jean sumiram de vista; por algum motivo que não consegui entender, mas ela logo conseguiu chamar minha atenção com uma conversa, já que era fácil me distrair.
- Então... - Ela entrelaçou seu braço com o meu, fazendo com que andássemos mais devagar, quase parando. - Quer dizer que você tá comprometida agora?

- Digamos que... Sim? - Estava muito confusa com essa situação.

- Ela é uma pessoa incrível. A gente podia sair qualquer hora dessas, vocês duas e o Jean e eu. - Ela sorriu, apontando para mim enquanto falava.

- Nossa! - Exclamei com empolgação. - Seria uma experiência única, com certeza. - Estava rindo agora.

- Vamos beber juntas. Eu pago. - Irina falou.

Sinfonia de batalha - Hange Zoë x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora