Capítulo quinze

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Trivial soturnidade
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            Era sempre ousado da minha parte pensar que as coisas aconteceriam como eu achava que iriam acontecer. Os experimentos mencionados começaram naquela mesma noite. Era comum para mim ficar acordada durante a noite, mas, os esforços eram a parte mais complicada. Mesmo que estivesse ainda machucada, os poucos dias se passaram e pareciam amenizar as dores; dessa forma, assegurei para minha superior de que poderia participar dos experimentos, assim ela fez questão de que estivesse todo o tempo ao seu lado, também mantive Eve próxima a mim, já que prometi que não iria deixá-la sozinha.

            Havia passado a noite fazendo todo tipo de anotação e rabiscos, com uma prancheta com mais papéis do que poderia aguentar, me mantive em pé e observando todo o tempo, a ponto de arder os olhos por mal piscar. Certamente essa nova forma de enxergar a miséria da humanidade me fazia questionar todos os meus princípios. Observar um gigante deformado, com seus dentes expostos, construir uma casa com madeira era de fato algo que nunca pensei que iria presenciar em toda minha existência; mesmo que ele tenha destruído a mesma pouco tempo depois, era demais para a humanidade e sua repentina fagulha de esperança.

            Finalmente tive meus dois minutos de pausa, era algo que ocorreria entre alguns experimentos e outros. O dia já estava na metade, o sol já brilhava no céu, próximo de finalmente finalizarmos toda essa baderna. Sentava próximo à um morro alto, com minhas pernas balançando para a distância entre o chão e onde estava; era como uma pequena muralha, Eve estava próximo a mim também, acabando com um cantil inteiro de água, foi o que o tempo quente causou, além da quentura que sempre emanava das carcaças de titã.
- Você está se sentindo bem? - Perguntei a Eve, enquanto a menina estava ofegante depois de tanto beber água. Ela apenas respondeu assentindo com a cabeça enquanto se sentava propriamente e balançava suas pernas também. O silêncio confortável entre nós era algo constante, passávamos boa parte do tempo apenas contemplando o que quer que o universo quisesse, no mais puro silêncio, ambas pensávamos demais todo o tempo, qualquer um que observasse poderia dizer que ambas pertenciam a mundos particulares específicos e separados, mas quando se tratava do mesmo devaneio, o sofrimento e a dor era parecido;

            Todos os meus pensamentos rondavam o mesmo lugar, que naquele momento, não era mais algo tão comum como os de antes. Falar em voz alta que estava de fato, gostando de alguém, me fez entender a veracidade dos fatos. De fato, eu gostava de alguém. Minha mente era pessimista, assim como os fatos que gritavam em meu rosto que era uma péssima ideia; e em teoria, a rejeição já aconteceu, talvez não tenha sido tão dolorido pois eu só entendi que gostava da pessoa depois de ser ignorada, mesmo que tenha sido revelado de forma brusca e nada delicada, tudo que podia pensar era que, nesse caso, o silêncio doía. Mesmo que todo esse tempo eu tenha ficado próximo diretamente da causadora de todo meu desespero, porque ela parecia fazer questão de querer que eu estivesse por perto, a vida corrida de quem vivia nesse mundo não deu uma mera oportunidade de troca de palavras sinceras ou qualquer coisa do tipo. E eu estava criando expectativas, o porquê eu não sei, parecia que esse sentimento havia sido implantado em meu cérebro, era como um hospedeiro capaz de mudar todos os meus sentidos. Parecia estar me tornando desesperadamente romântica, desesperada por atenção de quem tanto rondava minha mente. Qualquer migalha de sentimento seria suficiente...
- Hum? - Parei de pensar quando virei minha cabeça para a direção que ouvi meu nome estar ecoando pelo vento repetidas vezes, a voz vinha de quem me causou tanta confusão nos últimos instantes.

- Olha o que eu achei. - Ela se aproximou de mim e de Eve, que também virou sua atenção para a mulher. Hanji mantinha suas mãos juntas como se segurasse algo frágil, seu olhar finalmente brilhava de novo e seu sorriso... Voltou a ser a maior e mais bonita das paisagens que coloquei os olhos. Ela parecia uma pequenina criança que havia ganhado o brinquedo novo que tanto almejava. - É pra você. - Ela disse se abaixando próximo a mim e abrindo lentamente suas mãos, revelando uma borboleta com longas asas azuis, parecia refletir a luz do sol que adentrava pelas pequenas brechas que os dedos esguios da mulher faziam para não deixá-la fugir antes que eu a visse.

Sinfonia de batalha - Hange Zoë x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora