Extra. Capítulo dezessete, parte dois

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Armadilhas
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Voltando para o alojamento, enquanto preparava minha mente para o que enfrentaria muitíssimo em breve, Eve e eu caminhávamos lado a lado, com bastante preguiça e pouca animação; o motivo de tanta comemoração e comida de qualidade era porque iríamos nos arriscar de novo, em outra missão suicida. Nunca entendi o que se passava em meus pensamentos, talvez seja por isso que não sei os descrever também. Como sempre, estava distante.
- Tá ansiosa? - Eve perguntou, me surpreendendo por estar puxando assunto.

- Um pouco, sim. Mas, é normal, né? Mesmo que pra gente seja comum isso de arriscar nossas vidas e... - Fui interrompida por um grito. Literalmente, um grito. Era meu nome ecoando por uma rua escura e deserta, chegava a ser difícil respirar por ser tão estreita. A voz subia e descia o tom, enquanto apenas me assustei e virei para olhar, assim como Eve.

- Raven! Raven!! "Ravenzinhaaaa!" - Se tornaram repetições, assim que percebi quem se tratava, apenas coloquei a mão no rosto como sinal de decepção.

- Eve, me ajuda. Por favor. - Falei para Eve baixinho. Enquanto se aproximavam cada vez mais Moblit, com a fatídica pessoa que gritava sendo praticamente carregada.

- Eu não, se fode aí. - Eve respondeu, dando um longo passo para longe de mim, com suas mãos entrelaçadas na frente de seu corpo.

- Desculpa, ela não parava de chamar seu nome, não tive opção. - Moblit disse enquanto parou na nossa frente, segurando minha superior em um estado deplorável ao seu lado. Ela ria para o vento, assim que situou na realidade e reconhecia meu rosto, ela praticamente pulou em mim.

- Tá tudo bem, você só esquece que eu não tenho força pra isso tudo. - Falei enquanto minha voz saía como se estivesse fazendo toda força do mundo.

- Eu senti sua falta. - Ela falou enquanto me apertava ainda mais, se apoiando em mim para se equilibrar, esfregando seu rosto em minha cabeça como um gato carente. - Eu senti falta desse quentinho.

- Tá. Entendi mas não compreendo. Pode sair de cima de mim agora?

- Não posso não. - Recebi como resposta outra personificação de uma criança birrenta, me apertando ainda mais, e nessa situação parece que foi o gatilho final para minha força acabar. Me desequilibrei de vez, caímos sentadas no chão. Logo meus ouvidos foram preenchidos com uma risada calorosa, sem ritmo mas infelizmente, para mim ainda era perfeito. Me fez rir logo em seguida, junto. Eve e Moblit se entreolhavam quase o tempo todo, sem tomar nenhuma atitude.

- A gente pode ir agora? - Depois de tanto barulho, Moblit finalmente nos parou, falando com um tom cansado.

- Não quero ir não. Quero ficar aqui. - Hanji respondeu enquanto se agarrou em meu torso, com sua cabeça abaixo de meus braços, ela estava praticamente deitada no meio da rua. Suas atitudes eram diferentes do que saiu de sua boca há não muito tempo atrás.

-Tá, fica aí então. - Ele disse virando de costas, andando tão lentamente que parecia que não saía do lugar.

- Ei! Volta aqui, eu preciso de ajuda. - Gritei para Moblit, que demorou para se virar, enquanto Eve observava com um breve sorriso em seu rosto. - É difícil sair dessa armadilha pra pegar rato. Me ajuda, por favor. - Pude ouvir um sobressalto, Hanji parecia ter se assustado com o que falei.

- VOCÊ QUER SAIR DA MINHA ARMADILHA? - Ela disse, colocando sua mão em seu peito, como se estivesse ofendidíssima. Em seguida voltou a me segurar/abraçar com esse mesmo braço. - ELA FOI FRIAMENTE PENSADA PRA QUE VOCÊ NÃO CONSEGUISSE ESCAPAR.

- QUERO QUE VOCÊ PARE DE FALAR TÃO ALTO. - Apontei o dedo em seu rosto, ao qual parecia a ofender ainda mais. - NÃO CONSIGO ESCAPAR MESMO, GRUDOU DE VEZ. - Falei esperneando, sacudindo minhas pernas, brincando e rindo.

- NOSSA, APARENTEMENTE AMAR É CRIME AGORA. PODE ME PRENDER. - Ela disse estendendo seus pulsos de forma desengonçada, um de cada lado de meu corpo, voltando ao abraço novamente em seguida.

- Quê? - Meu cérebro parece ter parado de funcionar.

- Você ouviu. - Ela disse, quando finalmente me soltava, e cruzava os braços fazendo birra novamente.

- Eu ouvi. Mas prefiro acreditar que é um delírio coletivo, certamente as pessoas do outro distrito também ouviram. - Falei, me levantando, limpando minha roupa e estendendo a mão para a criança de um metro e setenta que estava ainda no chão. - O álcool não te cai bem.

Logo em seguida pude ouvir os burburinhos de Eve, que conversava com Moblit enquanto ainda havia um sanguessuga grudado no meu pescoço.
- Uma ajudinha pouca? - Clamei para os dois, que se entreolharam de forma extremamente séria.

- Não, vai ter como não. - Eve falou, usando de sua expressão mais séria.

- É. Eu tô sentindo uma dor estranha aqui, não vai dar não. - Moblit acrescentou enquanto apontava para as costas de sua mão se referindo ao local da suposta dor.

- Vocês me pagam! - A raiva obviamente era pelo fato de ter um corpo tão grande apoiado em mim, que mal conseguia carregar meu próprio peso.

Avistei o alojamento há alguns metros, o caminho de volta foi puro silêncio, apenas ouvindo risadinhas das pessoas atrás de mim e da pessoa que estava ao meu lado também. Ao mesmo tempo, ela parecia se concentrar para não cair novamente. Enquanto a observava, acidentalmente ela percebeu, sorrindo de forma preguiçosa, ela usou sua mão livre para alcançar meu rosto. Com seu dedo indicador, ela traçou uma linha com sua digital por toda a parte de meu rosto que estava tomada pela cicatriz.
- É tão bonita. - Ela disse tão baixo que, novamente se não fosse por nossa proximidade, certamente não teria ouvido. - Eu gosto tanto... - Seu tom agora parecia triste, enquanto ela continuou acariciando meu rosto em movimentos lentos e preguiçosos. A posição parecia desconfortável, especialmente por estar há um tempo considerável com seu braço erguido.

- As vezes eu me pergunto quantas idades sua mente consegue alcançar em períodos tão curtos de tempo. - Falei baixinho virando meu rosto e acidentalmente, tão próximo a ponto de sentir sua respiração quente em minha pele, ela respondeu com uma risadinha. Virei meu rosto novamente assim que percebi a proximidade.

- Quando eu tô com você, certamente eu volto pra adolescência. - Ela disse, em um tom muitíssimo estranho, fazendo com que meu rosto esquentasse, na mesma hora virei ainda mais para o outro lado, fingindo que não ouvi absolutamente nada. - O teu erro é ter deixado eu ficar tão confortável com a sua presença. Eu sou seu problema agora. - Ela usou seu braço em meu ombro para me forçar a encará-la, segurando meu rosto pelo queixo; percebendo meu rosto rosado, ela soltou uma risada de satisfação. Antes que pudesse tentar responder a essa outra provocação, finalmente chegamos ao alojamento. Ao qual pude soltar da mulher, percebendo agora o quanto sentiria falta de seu cheiro e calor. Era a mistura típica de um breve cheiro de suor, provavelmente pela bebida, com o cheiro do álcool que estava ainda mais forte, junto com um cheiro levemente adocicado, chegava a ser estranho mas não conseguia identificar de onde conhecia essa essência. O que me restava agora, outra vez, era o vazio.

Sinfonia de batalha - Hange Zoë x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora