Capítulo vinte e seis

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Ainda bem
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Percebi que minha mente me convenceu de que eu estava diminuindo, diferente de outros soldados que têm tantos músculos, tudo que eu via eram os ossos à mostra em toda parte de mim. Me sentia tão pequena, como se realmente ninguém estivesse me vendo; sentia como se estivesse ocupando um espaço enorme ao mesmo tempo. Como se fosse sem importância, de fato sempre foi, mas talvez eu estivesse envolta de tanta melancolia pelo fato de ter me acostumado com o contrário. O meu tempo deveria ser passado junto com a única pessoa que me fazia bem. Mas era de tal forma que eu mal parecia existir, estar ali era indiferente ou talvez fosse minha mente de novo. Mal consigo me lembrar da última vez que dormi sem sentir tanto frio. O frio de estar sozinha depois de me acostumar tanto em dormir em um abraço específico, tão quente que era o que me fazia conseguir dormir. E bem... Hanji passou os últimos dois meses ocupada. É óbvio, na verdade. Levi estava junto a ela todo esse tempo, os dois passavam bons tempos discutindo assuntos importantes enquanto faziam anotações, às vezes eles saíam para reuniões com outras pessoas e às vezes essas outras pessoas vinham até aqui; Armin se juntava a eles por muitas vezes. Eve também. Eve parecia cada vez mais centrada, talvez ela realmente fosse ser promovida de cargo; já que sua experiência era tanta, parecia que ela já havia trabalhado com coisas assim há tempos. Armin e Eve pareciam se aproximar também, devagar, com tanta delicadeza que era difícil de enxergar aquele grande laço que eles nutriam. Pouco. Mas existia. Seria uma grande amizade.

Talvez eu estivesse pensando tanto em assuntos diferentes do que minha própria vida, apenas para evitar que finalmente admitiria que estava acontecendo exatamente o que previ. Ausência. Ausência essa que prometi compreender; sempre acordava sozinha, assim como sempre ia dormir sozinha. Chorava tanto naquelas noites e não poderia nem sonhar em dizer o que me incomodava para a mulher que se esforçava tanto por seu trabalho, apenas para proteger quem importa a ela e tentar fazer do mundo um lugar melhor. Era nisso que eu queria acreditar, ao menos. Não poderia em hipótese alguma ser egoísta a ponto de simplesmente pensar que eu deveria estar em primeiro lugar. Como sempre pensei, em um mundo como esse, qualquer coisa seria egoísmo. Faziam dois meses, arrastados. Abafando meu choro ridículo em travesseiros. Acho que estou pensando demais em uma situação tão... "tempestade em copo d'água".

A noite estava começando naquele momento. Nem me lembro da última vez que saí daquele quarto pequeno e vazio. Minha presença o fazia ainda mais vazio. Cheio de nada. O escritório que estava há apenas uma porta de distância estava vazio também, como sempre, era só eu ali. Andei com uma coberta até aquela mesa de escritório, em cima dela estavam alguns papéis desorganizados, ao qual não ousei mexer, apenas me sentei ali onde podia ter uma visão relativamente privilegiada da janela e sua paisagem a fora. Após alguns minutos resolvi abrir a janela. Observar paisagens antes me deixaria feliz. Ou assim deveria ser, meu estado mental atualmente não permitia que conseguisse apreciar as coisas como costumava fazer.

Um breve momento de silêncio se fez, seguido de uma batida na porta. Era tão característico que meus ouvidos já sabiam reconhecer de quem se tratava. A esse ponto as coisas estavam ficando saturadas, especialmente quando se tratava de mim. Até eu estava cansada disso. De mim e todo esse drama de uma pessoa que mal sabia resolver seus próprios dilemas e sentir sentimentos como uma pessoa normal. As coisas realmente não mudaram, só pareciam ter.
- As coisas estão muito baixo astral aqui. - Irina falou entrando sem esperar uma resposta.

- E o que é "baixo astral" exatamente? - Questionei de volta, deitando minha cabeça em meus joelhos próximos ao meu peito.

- Não é óbvio? - Irina falou, se apoiando na mesa em que eu estava sentada. Balancei a cabeça negativamente. - Enfim, não tô aqui pra falar do quanto você é burra.

Sinfonia de batalha - Hange Zoë x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora