Capítulo vinte e três

271 22 8
                                    

Obsoleto
━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━

*Aviso de gatilho para: abuso e incitação a pedofilia.*

            Uma manhã fria. Ou nesse caso, era para ser. Estava acordada há algum tempo, tentando voltar para o sono depois de minha mente me sabotar e me fazer ter um pesadelo. O momento confortável em que havia me colocado me fazia esquecer, ao menos, tudo do que acontecia fora desse cômodo pequeno. Era perigoso, claro. As situações seriam perigosas daqui para frente, mas viver naquele momento me parecia o certo. E era bom, pela primeira vez viver era bom. Haviam braços confortáveis como um ninho me segurando com força, o calor que nunca tive agora estava envolto a mim como o amor deveria ser. Acordei antes, certamente porque meu corpo não está acostumado a dormir tanto, dormi cedo no dia anterior, a noite mal estava pela metade quando o sono e algumas outras emoções me encontraram, com sorte; apenas acordar não foi a parte mais fácil. Minha amada parecia aproveitar de seu sono, mal consigo me lembrar a última vez que ela teve a chance de ter uma noite de sono; sempre foram sonecas entre tempos e tempos. Sentia sua respiração em meu pescoço, junto de um ronco suave que escapava seus lábios indicando que estava em um sono profundo. O que para mim era um ótimo sinal. Com bastante esforço, me virei para me fazer mais confortável em seus braços. Assim que me mexi a ouvi reclamar, murmurando ainda em seu sono e me apertando com tanta força que era difícil conseguir me mexer. Continuei insistindo por alguns segundos até que consegui me virar.

            A alvorada entrava facilmente pela janela, mesmo com o frio a quentura do sol se fazia presente; iluminando boa parte do cômodo, a luz amarelada e bonita entrava diretamente, iluminando um dos rostos mais bonitos que já vi, mas isso não era novidade; suas mechas de cabelo pareciam brilhar enquanto reluziam à luz sol, sua pele estava em um tom mais bonito que o comum ou talvez fossem meus olhos apaixonados tentando achar ainda mais coisas para deslumbrar, era tanta paz que eram sensações incomuns; seus lábios, juntamente com suas bochechas, por essa vez estavam rosados pelo fato de ela estar dormindo. Meus olhos se questionavam se era possível algo tão bonito ser real, e acima de tudo, ser meu. Logo uma ideia se acendeu em minha cabeça, mas seria difícil executá-la já que era tão difícil sair dali.
- Ei. Você pode soltar? - Falei baixinho após dar um beijo rápido em sua bochecha, o que parece ter causado cócegas ou algo do tipo na mulher deitada em minha frente.

            Pensei que não, mas ela entendeu. E me apertou ainda mais como fazia sempre, balançando a cabeça negativamente. Tentei me posicionar na cama, ao qual mesmo reclamando, ela se adequou e se acomodou com sua cabeça deitada em meu braço, deitada de forma desengonçada, entrelaçando suas pernas com as minhas e aquela era minha certeza de que não iria para lugar nenhum. Aproveitei meu tempo para apreciar ainda mais seu rosto, enquanto mal conseguia pensar, tirando delicadamente as mechas de cabelo que atrapalhavam minha visão, continuei com minha mão em seu rosto, acariciando-lhe com todo amor que poderia pensar e emanar naquele momento. Ela sentiu, com certeza sentiu. Pois sua expressão já tranquila agora estava tão tranquila quanto feliz. Seus lábios se curvaram em um sorrisinho suave, ao qual logo me transmitiu tanta felicidade que foi capaz de me fazer sentir vontade de chorar. Mas minha mente logo inverteu a situação e me lembrou do sonho que tive, vívido, me lembrando de tudo que perdi e poderia perder; chorar para mim nunca poderia ser de felicidade, minha mente não entendia isso, certamente. Não poderia perder mais uma coisa também, não seria justo. Mas esse mundo não é justo de qualquer forma.

            Mal percebi quando as lágrimas desciam quentes em meu rosto. Doía fisicamente. Foi a ponto de que não conseguia controlar as lágrimas e os soluços que saíam de minha boca, de forma inconsciente. Tudo mudou rapidamente demais para que conseguisse entender. Talvez essa fosse a minha forma de lidar com sentimentos bons, era tão fora do comum que minha reação era só chorar por medo de que tudo isso acabasse da pior forma possível. Chorar a ponto de doer o peito, apertar a garganta e me tirar a força das mãos. Era ridículo. Tão ridículo que não consegui evitar de acordá-la naquela situação, pelos meus barulhos incessantes. Quando a vi tentando abrir o olho e falhando pela claridade, tampei os meus olhos com meu braço livre imediatamente. Agora que entrei nesse estado, não conseguiria parar. A tendência seria só piorar. Ouvi e senti ela se mexer ao meu lado, quando não sentia mais o peso em meu braço, virei para o outro lado e cobri minha boca, envergonhada e me sentindo mal por ter incomodado seu sono. Me encolhi tanto que ocupava quase nenhum espaço na cama. Tentei usar da minha força de vontade, pouca, para parar de chorar e tentar sair dali, mas ainda estava sonolenta além do desespero me deixar ainda mais burra. Minha respiração estava cada vez mais descontrolada. Tentei focar em outra coisa, odiava essa falta de controle que essas situações me colocavam sempre. Senti uma mão passando lentamente em meu braço, arrastando com tanta preguiça que estava quase parada.
- Desculpa ter te acordado. - Falei com a voz trêmula e entre soluços, recebendo como resposta o barulho sonolento "hum" longo. Logo ela soltou meu braço e se levantou, andando até o lado onde eu estava na cama, agachando ao meu lado, ao qual apenas tampei ainda mais meu rosto.

Sinfonia de batalha - Hange Zoë x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora